Estadão

Ibovespa resiste à depredação no DF e sobe 0,15%, quarta alta seguida

A devastação material vista neste domingo, 8, nas sedes dos Três Poderes, em Brasília, não se estendeu, em proporção semelhante, à precificação dos ativos na B3 nesta segunda-feira, 9, em que o Ibovespa chegou a zerar com boa folga as perdas da abertura, ao longo da tarde. Na reta final, perdeu força em linha com Nova York, e chegou a oscilar de volta ao negativo. Mas conseguiu fechar em leve alta de 0,15%, aos 109.129,57 pontos, entre mínima de 108.134,33 e máxima de 109.937,57 pontos, das 15h32, saindo de abertura aos 108.963,90 pontos.

A perda de pouco menos de 830 pontos no pior momento da sessão ante o nível de abertura mostra uma variação negativa bem contida em relação ao que se chegou a temer um dia antes, no fim de semana.

Nos melhores momentos desta segunda-feira, em que o giro da sessão ficou restrito a R$ 25,0 bilhões, o Ibovespa chegou a neutralizar as perdas do ano, após quedas na casa de 3% e de 2% na abertura de 2023. Assim, mesmo com a oscilação próxima ao fim da sessão, conseguiu emendar hoje o quarto ganho diário. A melhor desde as cinco altas seguidas, antes do Natal, entre os dias 19 e 23 de dezembro, que o colocou bem perto dos 110 mil pontos, a 109,7 mil pontos, saindo, no encerramento anterior à série (16), dos 102,8 mil pontos – uma variação de pouco menos de 7 mil pontos.

Com a perda de gás na reta final do dia, o Ibovespa ainda acumula perda de 0,55% no acumulado destas seis primeiras sessões de 2023.

Contudo, na visão de analistas, a resposta vista desde o início da sessão desta segunda-feira, compatível com um dia comum mesmo quando o índice operava em baixa, reflete o pronto rechaço das instituições ao extremismo político, após a tíbia reação inicial das forças de segurança do Distrito Federal: desde os eventos do domingo, sob intervenção determinada inicialmente pelo Planalto e, horas depois, de forma mais ampla, pelo Supremo Tribunal Federal que, por decisão do ministro Alexandre de Moraes nesta madrugada, afastou por 90 dias o governador Ibaneis Rocha – pedir desculpas não foi o suficiente para remediar a situação.

Desde ontem, parte dos analistas observava que, apesar da gravidade do que se viu na capital, a condução da crise seria o definidor do que sucederia aos ativos brasileiros. As prisões e o desmonte do acampamento bolsonarista no QG do Exército, assim como a resposta única dada pelos Poderes, foram o contraponto ao grau de depredação nos prédios oficiais. Assim, mesmo incapaz de acompanhar ganhos de até 2% – mas enfraquecidos no fechamento desta segunda-feira em Nova York -, em sessão também positiva, mais cedo, nas bolsas da Europa e da Ásia, não houve mergulho do Ibovespa, apesar do avanço do dólar à vista: moderado a R$ 5,2575, em alta de 0,40% no encerramento, após ter chegado na máxima do dia a R$ 5,3090.

Se não replicou o comportamento das bolsas de Nova York no 6 de janeiro de 2021, com o Dow Jones então em máxima histórica a despeito da invasão e dos tiros no Capitólio, o Ibovespa mostrou resiliência. No dia seguinte, 7 de janeiro de 2021, há pouco mais de dois anos, as três referências de Nova York (Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq, este em baixa de 0,61% no dia anterior) renovariam recordes. Naquele 7 de janeiro, apesar do dólar a R$ 5,41, o Ibovespa, de carona na progressão dos índices de NY, também alcançou picos históricos, tanto no intradia como no fechamento, ambos na casa dos 122 mil pontos, então.

Joe Biden, que só assumiria a presidência em 20 de janeiro de 2021, não tinha ainda a caneta, mas Donald Trump, embora considerado instigador do que se viu no Capitólio, e banido de imediato de redes sociais, afirmou então "compromisso" com transição "ordeira" ao sucessor, após a tentativa de seguidores radicais de impedir a diplomação de Biden, no que foi percebido como um ato de sedição sem precedentes nos Estados Unidos.

"Embora o risco político seja normalmente elevado no Brasil e possa pesar sobre os preços de ativos locais, acreditamos que o momento 6 de janeiro do Brasil não terá impactos duradouros sobre os mercados financeiros locais ou a economia brasileira", escreve em relatório o economista do Wells Fargo Brendan McKenna, traçando um paralelo entre os atos deste domingo e a invasão do Capitólio, nos Estados Unidos.

"Dois anos após o Capitólio, a cena se repetiu no Brasil. O momento ainda é de cautela e observação, após a depredação nas sedes dos Três Poderes", diz Piter Carvalho, economista-chefe da Valor Investimentos, citando o risco de outros desdobramentos negativos, com custos econômicos como os vistos em bloqueios de rodovias. "Tensão maior afastaria os investidores estrangeiros, ante a possibilidade de instabilidade política e de dificuldade de governabilidade para o presidente (Lula), com efeito sobre o crescimento do País", acrescenta o economista.

Nesta segunda-feira, contudo, as ações de maior peso e liquidez trocaram a hesitação inicial por bom desempenho quase até o fechamento, que se estendeu inclusive em grande parte da tarde às ações de grandes bancos – ao fim, destaque apenas para Itaú (PN +0,71%), que liderou a mudança de sinal do segmento.

Embora também tenham oscilado para baixo perto do encerramento, as ações de Petrobras (ON +0,67%, PN +0,55%) e Vale (ON (+0,11%) conseguiram sustentar o sinal positivo, em dia também de avanço para a siderurgia mesmo com o desempenho ruim do minério de ferro em Dalian (China) nesta abertura de semana – destaque para Gerdau (PN +2,04%) e Gerdau Metalúrgica (PN +2,32%). O índice de materiais básicos (IMAT) subiu 1,02% nesta segunda-feira.

Na ponta ganhadora do Ibovespa na sessão, Americanas (+6,44%), CVC (+4,98%) Gol (+4,07%) e JBS (+3,02%), com Hapvida (-11,02%), Soma (-3,16%), Fleury (-3,08%) e São Martinho (-3,06%) no canto oposto.

"O Ibovespa apresentou alguma pressão vendedora na abertura, mas recuperou-se bem com as ações dos bancos privados e Eletrobras (ON +0,73%, PNB +1,64% no fechamento) puxando a fila das blue chips, o que deu sequência à movimentação de alta observada no final da semana passada", observa Leandro De Checchi, analista da Clear Corretora. "O mercado estará atento à divulgação do IPCA, amanhã, que deve calibrar as expectativas dos investidores e pautar a tomada de risco nesse início de semana", acrescenta.

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