Estadão

Ibovespa segue em baixa e recua 3% no mês, o pior maio desde 2018

Em fechamento de mês espremido entre o feriado e o fim de semana, o Ibovespa manteve o viés de nove das últimas dez sessões, encerrando a sexta-feira, 31, em baixa de 0,50%, aos 122.098,09 pontos, em queda de 3,04% em maio, após retração de 1,70% em abril e de 0,71% em março. No ano, iniciado com mergulho de 4,79% em janeiro, apenas fevereiro foi positivo (+0,99%). Dessa forma, as perdas acumuladas em 2024 chegam a 9,01%, refletindo total reavaliação, pelos investidores, da expectativa otimista que prevalecia no fim de 2023 quanto ao número de cortes de juros nos Estados Unidos no ano em curso.

Além de ter sido o pior desempenho desde janeiro, a performance do Ibovespa resultou na maior baixa para o mês desde a queda livre de 10,87% em 2018, período marcado pela grande greve de caminhoneiros, com efeito disruptivo que resultou, então, na maior perda mensal da Bolsa brasileira desde setembro de 2014. Após o mergulho de 2018, o revés de 2024 foi o primeiro para maio.

O giro financeiro desta sexta-feira subiu para R$ 33,2 bilhões na B3, em nível que tem sido pouco visto fora das datas de vencimento de opções sobre o Ibovespa. Na semana, o Ibovespa caiu 1,78%, vindo de revés de 3% na anterior, no que foi a sua maior perda semanal desde o intervalo entre 20 e 24 de março de 2023. A aversão a risco que voltou a se impor nesta última sessão da semana colocou o dólar a R$ 5,25 na máxima e também no fechamento do dia, em alta de 0,81% nesta sexta-feira.

"Sessão marcada pela cautela após o feriado no Brasil, com agenda doméstica fraca, mas com muitos dados no exterior, especialmente sobre a inflação. Nos Estados Unidos, o PCE, embora dentro do esperado, acabou resultando em volatilidade em Nova York, que abriu bem, depois passou à estabilidade e ao negativo", antes de se recuperar no fechamento, diz Gabriel Pereira, sócio e especialista da Blue3 Investimentos, em referência ao desempenho de S&P 500 (+0,80%), Nasdaq (-0,01%) e do retardatário Dow Jones (+1,51% na sessão). No mês, o Dow Jones subiu 2,30%, comparado a alta de 4,80% no S&P 500 e de 6,88% no Nasdaq.

Na sessão da B3, destaque negativo para Pão de Açúcar (-7,72%), Transmissão Paulista (-5,17%) e Hapvida (-3,86%). No lado oposto, PetroReconcavo (+4,17%) após a aprovação de Juros Sobre Capital Próprio (JCP) expressivos, à frente das duas ações da Petrobras (ON +3,12%, PN +2,75%). Assim, o desempenho da estatal se contrapôs ao de Vale (ON -0,06%), em dia negativo para o minério, em baixa de 1,7% em Dalian (China), e também para o petróleo em Londres (Brent) e Nova York (WTI). Os grandes bancos tiveram desempenho misto, mas predominantemente negativo no fechamento, entre leve ganho de 0,14% (Santander Unit) e perda de 1,02% (Itaú PN).

Em dólar, o Ibovespa chega ao fim de maio a 23.253,23 pontos, comparado a 24.252,10 pontos em abril, quando o dólar à vista havia mostrado forte avanço no mês, de 3,53% – em maio, a moeda americana subiu 1,13% ante o real. Refletindo tanto o câmbio como o desempenho nominal do Ibovespa, no fim de março, na moeda americana, o índice da B3 estava em 25.542,54 pontos, vindo de 25.946,71 pontos e de 25.874,40 pontos, respectivamente, em fevereiro e janeiro.

No fechamento desta sexta-feira, o Ibovespa permaneceu no menor nível desde 13 de novembro passado, então aos 120.410,17 pontos. Na mínima de hoje, foi aos 121.928,86 pontos, menor leitura intradia desde 14 de novembro, saindo de máxima na sessão desta sexta-feira a 122.837,28 e de abertura aos 122.704,42 pontos. Assim, manteve-se em baixa sequencial desde a terça-feira, após a leve alta de 0,15% na abertura da semana – a outra sessão positiva desta segunda quinzena de maio veio logo no dia 16, em alta também leve (+0,20%).

Na primeira quinzena de maio, o Ibovespa acumulava ganho de 1,67%. Mas, no próprio dia 15, as ações de Petrobras começaram a refletir a troca de comando da estatal, com desconfiança dos investidores sobre a chegada de Magda Chambriard. Naquela semana, apesar da queda de 12% nas ações da empresa, o Ibovespa ainda conseguiu acumular ganho de 0,43%, no que foi seu mais recente desempenho positivo. No dia 22, refletindo a piora na perspectiva para a taxa de juros de referência nos Estados Unidos, com sinais endurecidos na ata do Fed, o Ibovespa virou para o negativo no mês e lá permaneceu desde então. Petrobras, por sua vez, apesar da alta de cerca de 6% na semana, fechou o mês com perda de 4,26% (ON) e 3,68% (PN).

Nesse contexto, cresceu fortemente o pessimismo do mercado em relação ao desempenho das ações no curtíssimo prazo, no Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira, com maioria, de 50% entre os participantes, esperando queda para o Ibovespa na próxima semana. A expectativa de alta tem fatia de 25% e a de estabilidade, outros 25%. No Termômetro da semana passada, 44% previam ganho para o índice nesta semana e 33,33%, baixa, enquanto 22,22% esperavam variação neutra.

A quinta-feira de feriado no Brasil e de negócios em Nova York trouxe algumas indicações mais animadoras na agenda americana que, contudo, não foram o suficiente para induzir uma recuperação de última hora na B3. Nos Estados Unidos, ontem, houve a divulgação de "crescimento do PIB revisado para baixo, e os preços pelo índice de inflação PCE para o primeiro trimestre, juntamente com um número de pedidos iniciais de auxílio-desemprego maior do que o esperado", uma combinação de dados que favoreceria "algum alívio" na perspectiva do mercado para os juros americanos, indicando ainda espaço para o Fed cortar as taxas de juros este ano, aponta em nota a Guide Investimentos.

Hoje, pela manhã, contribuindo para a melhora da perspectiva com relação aos Estados Unidos, o PCE de abril – métrica de inflação preferida do Fed – veio em linha com o esperado, em alta de 0,3% na margem e de 2,7% ao ano, mas a leitura em terreno de contração, abaixo do limiar de 50, para o índice de atividade industrial (PMI) da China em maio resultou em correção nos preços das commodities, em especial o minério de ferro, que se aproxima do nível mais baixo em duas semanas, observa Matheus Mesquita, sócio da One Investimentos.

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