Estadão

Ibovespa segue em baixa por 11 dias, aos 116 mil pontos, com cautela global

O aumento anunciado pela Petrobras, de manhã, para os preços da gasolina e do diesel contribuía para o desempenho das ações da estatal nesta terça-feira – quase totalmente revertido, contudo, no fechamento (ON -0,21%, PN +0,72%). Mesmo quando ambas as ações ainda subiam, o sinal não era o suficiente para impedir que o Ibovespa chegasse, nesta terça, à 11ª queda consecutiva, igualando séries negativas de fevereiro de 1984 e de junho de 1970.

A referência da B3 oscilou dos 116.033,15, do fim da tarde, aos 117.697,25 pontos, e encerrou o dia em baixa de 0,55%, aos 116.171,42, fechando assim a primeira quinzena deste agosto sem obter sequer um ganho diário no mês. O giro financeiro subiu a R$ 26,6 bilhões nesta terça-feira.

Na semana, o Ibovespa recua 1,60% no combinado das duas primeiras sessões, colocando as perdas do mês a 4,73% e limitando o avanço do ano a 5,87% – na última sessão de julho, o Ibovespa, então bem perto dos 122 mil pontos, acumulava ganho de 11,13% em 2023. De lá para cá, a aversão a risco se impôs essencialmente desde o exterior com a retração do investidor estrangeiro, que vinha se mantendo na ponta compradora na B3, adquirindo até então, em geral, dos institucionais e domésticos.

A sequência de dados ruins sobre o ritmo de atividade e o recente comportamento deflacionário dos preços na China fizeram acender a luz amarela para a segunda maior economia do globo, a que o Brasil e a B3 têm exposição significativa pelo peso das commodities para o País como para a Bolsa. Incertezas quanto ao grau de ajuste da política monetária nos Estados Unidos – ou seja, até que ponto o Federal Reserve ainda poderá elevar a taxa de juros de referência, tendo em vista os dados disponíveis até o momento – também resulta em ajustes nos Treasuries e nas ações listadas em Nova York.

Nesta terça, os três principais índices de Nova York fecharam o dia em baixa, acentuando a correção em direção ao fechamento (Dow Jones -1,02%, S&P 500 -1,16%, Nasdaq -1,14%) – levando consigo o Ibovespa -, com perdas no mês que chegam agora a 4,98% para o que concentra as ações de tecnologia (Nasdaq), mais expostas aos juros americanos. A sessão desta terça-feira também foi negativa para as principais bolsas europeias.

Na China, dados de produção industrial, vendas do varejo e investimentos em ativos fixos vieram abaixo do esperado, alimentando os receios em torno da desaceleração econômica. Nos Estados Unidos, por sua vez, índice de atividade industrial também ficou aquém da previsão, e apesar de as vendas no varejo norte-americano terem surpreendido positivamente, a avaliação de parte do mercado, ainda que minoritária, é de que o resultado tende a ser insuficiente para mudar expectativa por novo aumento de 25 pontos-base nos juros do Federal Reserve, em setembro.

Em evento organizado pela XP em Brasília, a head de economia para América Latina do JPMorgan, Cassiana Fernandez, disse nesta terça que o banco revisou a projeção de crescimento da China em 2024, para 4%. Para os Estados Unidos, porém, a atividade não é vista mais como um problema e o foco, agora, está na inflação, acrescentou Cassiana. Segundo ela, o Fed provavelmente terá de manter a taxa de juros em patamar elevado por tempo mais longo do que o imaginado inicialmente.

No Brasil, ainda que o modo bombeiro tenha sido acionado no mesmo dia, os investidores seguem atentos a eventuais sequelas no relacionamento do governo com a Câmara dos Deputados, após o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ter questionado, em entrevista divulgada ontem, o que considera como excesso de poder na Casa. Haddad buscou se explicar publicamente ainda na segunda-feira, mas as declarações iniciais resultaram em mal-estar e adiamento de reunião técnica que a equipe econômica e lideranças parlamentares teriam ontem sobre a votação do arcabouço.

Em meio a incertezas domésticas e externas, a curva de juros operou na abertura de desta terça com maior estresse nas pontas curtas e longas, trabalhando em alta, e o dólar deu continuidade ao movimento de apreciação frente ao real, saindo da região de R$ 4,74, em pregões anteriores, e chegando nesta terça-feira a buscar máxima a R$ 5, observa Rosiane Duarte, analista da Toro Investimentos. No fechamento, o dólar à vista foi a R$ 4,9868, em alta de 0,43%, tendo chegado no pico do dia a R$ 4,9977.

Com a alta do dólar na sessão, que o reaproximou do limiar de R$ 5, destaque para a queda nas ações das companhias aéreas Gol (-12,50%) e Azul (-6,60%), na ponta perdedora do Ibovespa na sessão. No canto oposto, Vibra (+7,77%), BRF (+6,90%) e Natura (+5,48%). Entre as ações de maior liquidez na B3, o dia foi ainda negativo para Vale (ON -0,99%) e para o setor metálico (CSN ON -0,65%), assim como para os grandes bancos, à exceção de Bradesco PN (+0,26%).

Nesta terça-feira, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que o reajuste nos combustíveis, promovido pela Petrobras, terá impacto na inflação – ele estima que possa afetar o IPCA em 0,40 ponto porcentual, entre agosto e setembro. "Hoje teve um aumento grande em combustíveis. O impacto da gasolina é direto, na cadeia. Ainda terá algumas revisões com o reajuste de hoje", disse Campos Neto, em evento na sede da Frente Parlamentar do Empreendedorismo (FPE).

O presidente do BC disse também que o Brasil tem feito um "pouso suave" na inflação com pouco custo para o crescimento da economia, e voltou a citar revisões, para cima, nas projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2023. Campos Neto observou, no mesmo evento, que o Brasil é um dos poucos países com inflação encaixada para os próximos anos.

Em nota, a Ativa Investimentos avaliou como positivo o aumento dos preços do diesel e da gasolina anunciado nesta terça-feira pela Petrobras, da ordem de 25% e 16%, respectivamente. A corretora, porém, manteve a recomendação neutra para os papéis da estatal. O reajuste vale a partir da quarta, 16, nas refinarias da companhia.

*<i>com Célia Froufe e Denise Luna</i>

Posso ajudar?