Em dia de alta para o petróleo, e amparado no forte desempenho de Petrobras (ON +3,40%, PN +3,12%), o Ibovespa obteve leve ganho de 0,10%, aos 132.833,95 pontos, revertendo fração da perda de 1,11% observada na primeira sessão do ano, ontem. Na máxima desta quarta-feira, no meio da tarde, o índice da B3 mostrou alta de 0,66%, aos 133.575,58, saindo de mínima a 132.250,07 e de abertura aos 132.696,78 pontos. Na semana, o Ibovespa ainda cede 1,01%, no agregado de duas sessões. O giro financeiro subiu hoje para R$ 21,6 bilhões.
No exterior, a cautela deu o tom aos negócios desde cedo, em meio a realinhamento de expectativas quanto ao ritmo de corte dos juros de referência nos Estados Unidos este ano, movimento que limitou o viés de alta do Ibovespa na sessão, após uma abertura de ano em realização de lucros. Com o foco posto nos juros americanos neste início de 2024, o marco definidor da sessão tenderia a ser a ata da mais recente reunião de política monetária do Federal Reserve, conhecida às 16h. Mas o teor do documento, afinal, não alterou o sinal de Nova York e de São Paulo. Em NY, as perdas no fechamento de hoje iam de 0,76% (Dow Jones) a 1,18% (Nasdaq).
A chance de o Federal Reserve (Fed) iniciar o ciclo de relaxamento monetário já este mês diminuiu nesta quarta-feira, conforme a plataforma do CME Group que monitora o comportamento da curva futura. Para o fim do ano, a ferramenta ainda apontava cenário mais provável de corte acumulado de 150 pontos-base nos juros, mas a probabilidade de a taxa básica seguir entre 5,25% e 5,50% na reunião de janeiro era de 91,2% no início da tarde de hoje, comparada a 87,6% ontem. Como consequência, a hipótese de haver uma redução recuava de 12,4% para 8,8%.
"A sessão foi bem volátil hoje, com os Estados Unidos ainda mandando no jogo, e foco nos próximos passos do Fed, que é o que tem ditado o comportamento dos mercados. E os mercados vinham colocando muito preço na expectativa de que o corte de juros pelo BC americano virá já em março", diz Erik Sala, especialista em investimentos da DVInvest.
Na ata desta tarde, os dirigentes do Fed apontaram que a taxa de juros está provavelmente no "pico ou perto dele", e que todos os integrantes do colegiado observaram claro progresso, em 2023, em relação à meta de inflação. O documento do BC dos EUA aponta também que a inflação permanece alta no país, apesar da desaceleração vista no último ano.
Para a BMO Capital Markets, o tom da ata foi "hawkish" duro, com sinais de que o Fed pode adiar o início do ciclo de corte de juros. Segundo essa análise, o BC americano reforçou o elevado grau de incerteza quanto à trajetória dos juros, o que ampara a tese de que a expectativa por afrouxamento monetário em março é prematura.
Assim, a chance de o Federal Reserve cortar os juros a partir de março recuou levemente após a divulgação da ata, segundo a ferramenta FedWatch, do CME Group. Antes da divulgação do documento, que reforçou que dirigentes desejam manter os juros restritivos por um tempo, a precificação era de 74,5%. Após a ata, a probabilidade caiu para 70,8%. Já a chance de que a taxa permaneça na faixa atual ainda em março aumentou de 25,5% para 29,2%.
"A ata reafirma a ideia de manter o patamar de juros, sem precificar ainda um corte de forma prematura. Os juros devem ser mantidos por mais tempo, e o dólar reagiu a princípio positivamente, nos contratos futuros, mas poucos minutos depois já retornava ao patamar pré-notícia ", sem tanto reflexo também para as ações, aqui e fora, observa Alan Soares, analista da Toro Investimentos. No fechamento desta quarta-feira, o dólar à vista mostrava estabilidade (-0,01%), a R$ 4,9151.
Além da aguardada ata do Fed, principal ponto da agenda econômica nesta quarta-feira, o mercado tomou nota também do aguçamento da tensão geopolítica no Oriente Médio, com efeito direto para a precificação de ativos como as commodities, especialmente o petróleo, que subiu hoje na casa de 3% em Londres e Nova York.
Mais de 100 pessoas morreram e 170 ficaram feridas no Irã, nesta quarta-feira, em uma dupla explosão durante homenagem ao general Qassim Suleimani, informou a televisão estatal iraniana. As explosões ocorreram perto do túmulo do general em uma mesquita na cidade de Kerman, no sul do país, disse a emissora. A TV estatal afirma que o caso é tratado como um "ataque terrorista".
Os Estados Unidos não estão envolvidos nas explosões no Irã e não têm motivos para acreditar que Israel esteve, disse o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Matthew Miller, reporta a agência Reuters.
Milicianos apoiados pelo Irã, os Houthis, do Iêmen, confirmaram hoje que realizaram uma operação contra navio da CMA CGM Tage que, segundo o grupo, "dirigia-se aos portos da Palestina ocupada". Em comunicado, o porta-voz Yahya Saree afirmou que o ataque ocorreu depois de a tripulação do navio ter se recusado a responder a chamados das forças navais do Iêmen, incluindo mensagens de alerta.
Em outro desdobramento sobre a situação no Oriente Médio, o chefe do Hezbollah, Hasan Nasrallah, disse que Israel enfrentará "resposta e punição", um dia após a morte do vice-líder do Hamas, Saleh al-Arouri. Um suposto ataque feito por drone de Israel teria atingido al-Arouri no subúrbio de Beirute, capital do Líbano. Nasrallah afirmou também que "se o inimigo pensar em travar uma guerra contra o Líbano, irá arrepender-se". O governo libanês, por sua vez, tenta fazer com que o Hezbollah mostre moderação.
Além disso, relatos de que manifestantes da cidade de Ubari, no sudoeste da Líbia, fecharam o campo petrolífero de Sharara, um dos maiores e mais importantes do país, contribuíram para a pressão sobre os preços da commodity observada ao longo do dia.
Na ponta do Ibovespa nesta quarta-feira, além das duas ações de Petrobras, destaque também para Pão de Açúcar (+10,50%), Soma (+5,31%), Cielo (+3,74%) e Prio (+3,37%). No lado oposto, BRF (-4,91%), Azul (-3,33%), Braskem (-2,84%) e JBS (-2,78%). As ações de grandes bancos tiveram desempenho misto no fechamento da sessão, entre baixa de 1,10% (Itaú PN, na mínima do dia no encerramento) e leve ganho de 0,12% (Bradesco PN). O dia também foi de ajuste moderado, em viés negativo, para a ação de maior peso no Ibovespa, Vale ON (-0,52%).