O Ibovespa chegou a zerar perdas no meio da tarde durante entrevista ao vivo do próximo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, à GloboNews, sem tropeços que desagradassem ao mercado, que segue atento também, em especial, ao caminho que a PEC da Transição terá na Câmara sob o presidente Arthur Lira (PP-AL), com sinais de que poderá ainda sofrer desidratação frente ao texto aprovado na semana passada pelo Senado. E resistiu depois à piora em Nova York, onde Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq oscilaram ao negativo, em queda além de 1% nas mínimas do dia, após indicação de que os juros permanecerão altos por mais tempo nos Estados Unidos.
Ao fim, em tarde de grande volatilidade lá como aqui, a referência da B3 mostrava leve ganho de 0,20%, a 103.745,77 pontos, entre mínima de 101.631,98 pontos (-1,84%), menor nível intradia desde 28 de julho, e máxima de 104.515,83 pontos (+0,94%), em variação de quase 3 mil pontos entre os extremos da sessão. Em dia de vencimento de opções sobre o Ibovespa, o giro foi muito reforçado, a R$ 81,5 bilhões. Na semana, o índice de ações cede 3,51% e, no mês, cai 7,77%. Desde ontem em baixa no ano, o Ibovespa recua agora 1,03% em 2022.
Na agenda externa, o Federal Reserve, conforme esperado, diminuiu o ritmo de elevação da taxa de juros de referência, de 0,75 para 0,50 ponto porcentual na decisão de dezembro, nesta tarde. No entanto, a sinalização do BC americano de que os juros, por lá, ficarão em patamar alto por mais tempo do que se antecipava – ao menos até 2025 – fez os índices acionários oscilarem para o negativo em NY e os juros dos Treasuries acentuarem alta na sessão. Aqui, contudo, o Ibovespa manteve o mesmo grau de ajuste anterior à decisão do Fed, tendo mostrado desde mais cedo descolamento do sinal de Nova York, seja positivo ou não.
"O Fed deixou claro que novas altas de juro serão necessárias para trazer a inflação para a meta. Dentro desse contexto, os índices de atividade econômica dos EUA devem continuar a apresentar desaceleração", nota Leandro De Checchi, analista da Clear Corretora. "No comunicado, destaque para mudanças nas projeções de diretores (do Fed), que passaram a apontar para patamar final no atual processo de elevação dos juros, a 5,1%, a ser seguido por gradual redução, para 4,1%, ao fim de 2024. Ou seja, cenário com uma ou duas altas nas próximas reuniões, a depender da magnitude", observa Rachel de Sá, chefe de economia da Rico Investimentos.
Até o sinal dado pelo Federal Reserve nesta tarde, o cenário que parecia prevalecer em Nova York era o do "buy the dip", favorável a compras de ações e exposição ao risco. "Qualquer boa notícia, por menor que fosse a variação favorável – como no caso da recente leitura sobre a inflação ao consumidor nos Estados Unidos -, era motivo para compras", diz Nicolas Merola, chefe de análise da Inv. Ele ressalta a percepção de que o momento do ciclo parecia estar se diferenciando por lá, enquanto, no Brasil, as preocupações sobre o fiscal e a gestão de estatais impõem pressão sobre a curva de juros e obscurecem a perspectiva para o próximo ano.
Aqui, como ontem, os investidores na B3 se mantiveram concentrados, também, nos rumores e nas deliberações de Brasília, atentos ao caminho que a PEC da Transição terá na Câmara. Líderes partidários foram nesta tarde à residência oficial do presidente da casa, Arthur Lira (PP-AL), para discutir a proposta. Como o Broadcast Político vem mostrando, deputados têm reclamado que não foram ouvidos no acordo fechado no Senado sobre o texto. A apreciação do chamado orçamento secreto, pelo Supremo Tribunal Federal (STF), tem se mostrado um elemento complicador na equação.
Hoje, a ministra Rosa Weber, presidente do Supremo, disse que o relator-geral do Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) é guardião dos "segredos de caixa-preta" do Orçamento. Rosa é relatora de quatro ações que contestam a constitucionalidade das emendas do relator, em julgamento agora na Corte.
Com a situação fiscal, e possível ingerência do futuro governo nas estatais a partir de 2023, ainda como fiéis da balança no apetite dos investidores por ativos de risco, as ações de Petrobras (ON -9,80%, PN -7,93%) pressionaram o Ibovespa desde cedo após aprovação, no fim da noite anterior, de mudança na Lei de Estatais interpretada como uma fresta aberta para acomodação de agentes e interesses políticos. Contudo, a virada observada, depois do meio da tarde, em siderurgia (CSN ON +3,46%, Usiminas PNA +5,50%) e especialmente nos grandes bancos, à exceção do estatal BB (ON -2,48%) e de Santander (Unit -0,31%), assegurou sinal positivo ao Ibovespa no fechamento, em dia de avanço também para Vale (ON +0,85%), favorecida pela alta do minério na China.
Na ponta do Ibovespa, destaque nesta quarta-feira para Méliuz (+7,02%), SLC Agrícola (+6,33%), Cielo (+6,26%), Usiminas (+5,50%) e Alpargatas (+5,38%). No lado oposto, as duas ações de Petrobras (ON -9,80%, PN -7,93%), à frente de Gol (-6,35%), Magazine Luiza (-6,07%) e São Martinho (-5,06%).