Estadão

Ibovespa sobe 0,28%, a 127,7 mil, mas tem pior perda para janeiro desde 2016

Hoje na contramão de Nova York, o Ibovespa teve um respiro nesta última sessão de janeiro, embora em alta enfraquecida no fechamento a 0,28%, aos 127.752,28 pontos, em fim de mês no qual equilibrou dias de recuperação (ao todo, 10) e recuo (12). O sinal negativo, contudo, mostrou-se mais agudo no intervalo, tendo em vista o nível recorde de 134,1 mil pontos em que o índice havia encerrado dezembro – movido pela expectativa global, que prevalecia então, de que o Federal Reserve começaria a cortar juros já em março, e não em maio ou além.

Assim, neste janeiro de relativa frustração de expectativas, o índice da B3 acumulou perda de 4,79%, a maior para o mês desde o recuo de 6,79% na abertura de 2016 – foi também a pior retração mensal desde a queda de 5,09% em agosto passado. Hoje, com as atenções dos investidores concentradas à tarde nos sinais do Federal Reserve sobre a orientação da política monetária nos Estados Unidos, o Ibovespa oscilou entre 127.326,08 e 129.558,45 pontos (+1,69%, limitando então a perda do mês a 3,45%, o que não se confirmou afinal), com abertura a 127.401,93 na sessão.

Ainda que com menor vigor em direção ao encerramento, com a acentuação de perdas vista em Nova York perto do fim do dia, "boa parte da alta de hoje veio de correção técnica na B3 depois de um mês em baixa, em que o Ibovespa chegou a cair 5% em janeiro, com fluxo de saída do investidor estrangeiro", diz Andre Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital.

"Até ontem, dia 30 de janeiro, o Ibovespa caía 5,1%, negociado a um múltiplo P/L de 9,2. No mês, houve saída relevante de capital estrangeiro, com as máximas históricas dos índices S&P 500 e Dow Jones, em Nova York, e a forte recuperação dos papéis de tecnologia na Nasdaq. Somado a isso, dados econômicos fracos e perspectivas piores para a China afetaram diretamente o Ibovespa, já que os papéis ligados a commodities têm peso preponderante na Bolsa brasileira", observa Lucas Mastromonico, operador de renda variável da B.Side Investimentos.

Na ponta da carteira teórica na sessão, destaque para o salto em Soma (+16,81%) e Arezzo (+12,09%) após a confirmação, em fato relevante, de conversas entre as empresas sobre junção de operações – o que poderá envolver a unificação das bases acionárias, em companhia única com governança compartilhada. Outros nomes associados ao ciclo doméstico também foram bem na sessão, como Magazine Luiza (+6,06%), Cielo (+5,07%), Locaweb (+4,00%) e Casas Bahia (+3,82%).

"Magazine Luiza também seguiu em alta refletindo o otimismo quanto à oferta de ações, em que os controladores irão garantir um aporte de R$ 1 bilhão. Já a alta de Casas Bahia pode ser explicada por boa parte de posições short vendidas sendo cobertas antes do comunicado do Copom nesta noite – além de que a empresa quer emitir mais R$ 1 bilhão, com Bradesco e Banco do Brasil ancorando a oferta", acrescenta Fernandes, da A7 Capital.

O dia na B3 também foi positivo para os grandes bancos, como Itaú (PN +1,08%) e Bradesco (ON +0,29%, PN +0,52%), à exceção de Santander (Unit -1,88%) que ontem havia subido 1%, na contramão do setor, e hoje caiu após o balanço trimestral.

No segmento de commodities, Petrobras chegou a se descolar do sinal negativo do petróleo na sessão – reforçado no começo da tarde por inesperado aumento nos estoques semanais dos Estados Unidos -, mas fechou sem direção única, com a ON em leve baixa de 0,02% e a PN em alta de 0,32%. Vale ON, por sua vez, manteve o viés negativo que prevaleceu ao longo do mês, encerrando o dia na mínima da sessão, em baixa de 1,48%, a R$ 67,76, e acumulando perda de 12,23% em janeiro.

"O PMI industrial da China, que veio mais fraco, manteve o setor de mineração e siderurgia na contramão do dia, ainda sendo descontado", diz Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos. Além da Vale, destaque para recuo de 1,01% em CSN e de 1,08% em Gerdau. Na ponta vendedora do Ibovespa na sessão, além de Santander Brasil, presença de RaiaDrogasil (-3,62%) com o rebaixamento da recomendação do Citi, de neutra para venda, e Assaí (-2,78%). Também vieram entre as maiores perdedoras do dia as ações de Carrefour (-2,07%) e WEG (-1,97%).

Na B3, o giro financeiro subiu para R$ 27,1 bilhões nesta superquarta de decisões sobre juros nos Estados Unidos e no Brasil – daqui a pouco, será a vez de o Copom deliberar sobre a Selic, a qual se espera que seja reduzida, hoje, de 11,75% para 11,25% ao ano. Nesta tarde, o comitê de política monetária do Fed, o Fomc, manteve conforme o previsto a taxa de juros de referência no nível de 5,25% a 5,75% ao ano, por unanimidade.

O comunicado sobre a decisão do Fed incluiu, entre as novidades, um alerta de que o BC americano não espera que seja apropriado cortar juros até que se tenha maior confiança de que a inflação ao consumidor está caminhando de forma sustentável em direção à meta de 2%. Assim, pela ferramenta do CME, a chance de manutenção de juros em março voltou a ser precificada como a mais provável pelo mercado, passando de 43,6% antes do comunicado, para 52,8% por volta das 16h10. E a probabilidade de corte naquele mesmo mês recuou de 56,4% para 47,2%.

Por sua vez, o cenário de corte de 150 pontos-base a serem acumulados até o fim de 2024 ficou um pouco menos provável – passando de 39,5% para 38,8% -, mas ainda é a principal aposta dos investidores, reporta a jornalista Maria Lígia Barros, do Broadcast.

"O comunicado do Fed veio ainda bem conservador: seguiu comentando que a inflação cedeu, mas ainda não pode se desligar. Foi positivo ter retirado o trecho sobre possível aperto monetário adicional, mas negativo ter mudado a parte que falava sobre a economia desacelerar, mencionando agora que a economia se expandiu em ritmo sólido ", observa Marcelo Oliveira, CFA e co-fundador da Quantzed.

Nesta última sessão de janeiro, o dólar fechou o dia em baixa de 0,16%, a R$ 4,9374. À vista, havia se acomodado a R$ 4,85 no fechamento de 2023, em queda de 8% ao longo do ano passado, a maior baixa em sete anos. Tal ajuste refletia, então, tanto a relativa melhora da percepção fiscal doméstica como a redução dos custos de crédito lá fora – combinação que contribuiu para aumento de fluxo de recursos estrangeiros para a Bolsa a partir de novembro, com o fechamento na curva de juros futuros. Dessa forma, o Ibovespa, na moeda americana, encerrou 2023 aos 27.647,67 pontos.

Agora, ao fim de janeiro de 2024, o índice da B3, em dólar, está em 25.874,40 pontos, refletindo a alta de 1,73% da moeda americana no mês, frente ao real, e a queda de 4,79% acumulada pelo Ibovespa nesta abertura de ano. Em dólar, o Ibovespa havia terminado novembro a 25.905,58 pontos, superando então o ponto mais alto de 2023, no fim de julho, a 25.783,48 pontos, e também o ponto mais forte, em junho de 2021 (25.496,99), do período de recuperação iniciado em março daquele ano, ainda no contexto da pandemia.

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