Pouco distante do zero a zero em boa parte da sessão, o Ibovespa esboçou reação à tarde sem conseguir levá-la muito adiante no fechamento desta sexta-feira, em leve alta de 0,41%, a 121.193,75 pontos, entre mínima de 120.044,65 e máxima de 121.275,30 pontos. Na semana, o índice da B3 acumulou perda de 1,32%, vindo de ganho de 0,83% na anterior. Assim, nesta primeira quinzena do mês, teve baixa de 0,50%, restringindo o avanço do ano a apenas 1,83%. O giro financeiro nesta sexta-feira foi de R$ 35,0 bilhões.
Pela segunda sessão, o Ibovespa se manteve na faixa de 120 mil pontos, nos menores níveis desde meados de maio. A linha dos 120 mil pontos, que voltou a ser tocada no intradia nas últimas três sessões – e também em 3 de agosto, pela primeira vez desde maio – é um suporte importante para a orientação do índice no curto prazo: por enquanto, quando chega ao limite inferior desse nível, tem despertado interesse por compras, apontam analistas.
"O mundo inteiro está uma festa e a gente está feliz porque sobrou uma cerveja quente", diz Rodrigo Knudsen, gestor da Vitreo, chamando atenção para o fato de que, mesmo dados domésticos favoráveis, como a leitura desta sexta sobre o IBC-Br, e resultados corporativos positivos ou não exatamente decepcionantes, como os de Natura (ON +3,51%) e Magazine Luiza (ON -3,34%), não têm sido o suficiente para vencer a "anemia" que tem prevalecido na B3, desconectada do humor externo mesmo com ações muito descontadas por aqui.
"Não saímos do lugar nessas últimas duas semanas. As questões continuam as mesmas, não desenrolam, o que acaba se resumindo naquela expressão velha conhecida: Risco Brasil", acrescenta o gestor, ressalvando que, apesar dos ruídos políticos, econômicos e fiscais que contaminam o horizonte imediato, a perspectiva de médio e longo prazo é positiva. "Há descontos, as empresas têm apresentado bons números, mas, mesmo assim, estamos ficando para trás quando se considera o momento externo. Isso se reflete também nos IPOs, que não estão se saindo tão bem, quando acontecem, A gente vai perdendo tempo: todo mundo sabe que, a partir de março, não se falará em outra coisa que não seja eleição."
"A semana foi bem tensa para o Ibovespa a despeito do que aconteceu lá fora, onde os mercados foram bem, em queda que chegou a se aproximar aqui de 2% no período, muito motivada pelas idiossincrasias brasileiras. O foco no fiscal foi o principal, com tensão sobre a reconstrução de benefícios (sociais) e a reforma tributária: Brasília esteve em foco na semana e o mercado não digeriu bem", diz Pedro Lang, head de renda variável da Valor Investimentos, destacando também os bons resultados corporativos, em linha com o consenso ou acima do esperado. "E mesmo assim a Bolsa não conseguiu segurar", acrescenta.
"Para a próxima semana, esperamos que o mercado tome algum grau de racionalidade, dê uma acalmada e volte a olhar para fundamento. O lado ruim é que esta semana, que foi tranquila lá fora, aqui dentro foi conturbada. Se por acaso lá fora vier a ser uma semana ruim, a gente tende a ter outra assim também, emendando duas (semanas negativas)", conclui Lang.
Assim, apesar das recentes renovações de máximas históricas por Dow Jones e S&P 500 – enquanto na Europa, o DAX, de Frankfurt, superou nesta sexta pela primeira vez no intradia o patamar de 16 mil pontos -, a Bolsa brasileira tem encontrado dificuldade para se alinhar aos bons ventos de fora. Na semana, os ganhos nos principais mercados do velho continente ficaram em 1,34% (Londres), 1,37% (Frankfurt) e 1,16% (Paris), nos quais a dinâmica da recuperação econômica tem deixado em segundo plano as preocupações sobre os efeitos da variante delta na retomada. Em Wall Street, os ganhos desta semana ficaram entre 0,71% (S&P 500) e 0,87% (Dow Jones), enquanto o Nasdaq cedeu levemente (-0,09%) no período.
"Na Europa, vale um destaque: confirmou-se o 10º pregão consecutivo de alta, a maior sequência de ganhos desde 1999", diz Pietra Guerra, especialista em ações da Clear Corretora. Roberto Attuch, CEO da Ohmresearch, observa que a economia europeia deve chegar ao pico do atual ciclo de recuperação neste terceiro trimestre, o que tem se refletido nos índices acionários de lá. Nesta sexta, a referência Stoxx 600, índice que reúne 600 empresas listadas em bolsas de todo o continente, avançou 0,21%, a 475,83 pontos.
Por sua vez, o Ibovespa não mostrou apetite após ter se inclinado na quinta-feira a uma correção pouco superior a 1%, contido então por resultados trimestrais que frustraram expectativas, como os de Ultrapar (nesta sexta +2,50%) e B3 (+5,40%). "Essa pressão negativa, micro, combinada a fatores macro, como o cenário fiscal, político e de reformas, pesou na nossa Bolsa", acrescenta Pietra, ressalvando que "apesar de resultados interpretados de forma negativa, no geral as empresas continuam entregando lucros maiores do que o esperado".
Na ponta negativa do Ibovespa, Lojas Americanas fechou nesta sexta-feira em baixa de 9,13%, à frente de Americanas ON (-7,88%) e Via Varejo (-6,38%). No lado oposto, CPFL (+8,28%), Embraer (+7,28%) e Hering (+5,40%). Entre as blue chips, destaque para alta de Petrobras (ON +1,56%, PN +0,86%) e na maioria dos grandes bancos, à exceção de BB ON (-0,81%). Vale ON fechou em baixa de 0,82%, em dia negativo também para a siderurgia, em especial CSN (ON -2,32%) e Usiminas (PNA -2,62%).