Estadão

Ibovespa sobe 0,44%, aos 104,3 mil pontos, mas cede 1,80% na semana

O Ibovespa saiu dos 106 mil pontos na terça-feira, chegou a 103,9 mil na sessão de ontem, e fechou a semana de volta aos 104 mil. Assim, aparou a perda de semana mais curta a 1,80%, vindo de ganho de 5,41% na anterior, quando teve o maior avanço semanal desde o intervalo que precedeu o Natal, entre 19 e 23 de dezembro. Hoje, entre mínima de 103.086,98 e máxima de 104.615,18, fechou em leve alta de 0,44%, aos 104.366,82 pontos, após ter recuado 2,12% ontem. No mês, o índice limita o avanço a 2,44%, cedendo 4,89% no ano. O giro de hoje, mesmo com o vencimento de opções sobre ações, ficou em R$ 23,7 bilhões, na véspera do feriado de Tiradentes.

Em semana pautada por certa frustração do mercado com o formato do arcabouço fiscal que enfim chegou ao Congresso, o Ibovespa devolveu parte do entusiasmo que o havia projetado acima dos 106 mil pontos na semana anterior, quando prevaleceu otimismo derivado de leituras mais fracas sobre a inflação, aqui e nos Estados Unidos, melhorando então a perspectiva dos investidores para as taxas de juros (Selic e Fed funds) no fechamento do ano.

Conhecido o arcabouço que passa a ser avaliado no Congresso, sem definição ainda do escopo de governo e oposição na hora do voto, as regras de exceção ao teto e a incerteza quanto ao potencial de arrecadação adicional para fundamentar gastos públicos lançaram os ativos brasileiros na defensiva ao longo desta semana. Lá fora, o período contou com declarações cautelosas de autoridades monetárias, nos Estados Unidos como na zona do euro, sem indicações de que cortes nas taxas de juros estejam a caminho, apesar da extensão do ciclo de aperto.

Hoje, a presidente do Federal Reserve de Cleveland, Loretta Mester, defendeu que o BC americano deve ser "prudente" na definição dos próximos passos da política monetária. Em discurso, ela apontou que parte dos efeitos do aperto recente ainda serão sentidos na atividade econômica e nos preços. Mester disse também que a autoridade monetária terá de aumentar juros acima de 5% e mantê-los nesse nível por algum tempo. Atualmente, a taxa básica americana está na faixa de 4,75% a 5,00%.

Com direito a voto nas reuniões deste ano do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc), a presidente do Fed de Dallas, Lorie Logan, afirmou, por sua vez, que a inflação nos Estados Unidos segue "muito alta" e que, ao avaliar os progressos em direção à estabilidade de preços, buscará sinais de "melhoras sustentadas" nos dados de inflação, a evolução da atividade econômica, e se houve mudança nos fatores que alimentaram a progressão de preços.

No Brasil, "o mercado de equities tem buscado encontrar algo que favoreça descompressão, considerando que os ativos estão muito amassados", diz José Simão, sócio da Legend Investimentos, referindo-se ao ânimo visto na semana anterior com as leituras sobre a inflação. Mas, para destravar valor e sustentar retomada sólida na B3, seria necessário sinal mais evidente de que os juros, de fato, estejam para cair – o que se espera que venha a ocorrer no Brasil em algum momento do segundo semestre e, nos Estados Unidos, provavelmente ainda mais adiante, observa Simão. "O mercado tenta antecipar e tem estado atento a sinais nesse sentido."

Contudo, idas e vindas do governo em relação a pontos do arcabouço, como a tributação de plataformas de comércio eletrônico estrangeiras, como Shein e Shopee, sugerem indecisão ou mesmo dificuldade da equipe econômica quanto ao caminho a seguir, apontam fontes do mercado, estimando que pressão maior deve vir agora, no Congresso, quando a proposta tende a ser escrutinada não apenas pela oposição, mas especialmente pelo partido do governo (PT), após brechas abertas no texto que veio da Fazenda. "Fogo amigo é risco real, mais forte que o da oposição", diz uma fonte.

"O medo é de que o fiscal não seja tão exequível quanto poderia parecer num primeiro momento", observa Ricardo Campos, sócio e diretor de investimentos da Reach Capital. "O arcabouço desapontou por uma série de motivos. O plano inicial já era ruim, longe dos sonhos, mas considerado ok , o que ajudou o mercado a sair dos 100 mil pontos", diz o gestor, chamando atenção de que no Congresso, pela "natureza um pouco mais gastadora", alterações podem ainda vir a ocorrer.

Hoje, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), informou, pelo Twitter, que o relator do projeto do arcabouço fiscal será o deputado Cláudio Cajado (PP-BA), nome que havia sido antecipado pelo Broadcast Político, em 1º de abril.

"Os líderes do Congresso prometeram empenho na aprovação rápida da proposta e alguns deputados já antecipam alterações que aumentem o enforcement da lei ao cumprimento das metas fiscais. A autoridade monetária manteve a leitura de que o arcabouço está na direção correta, reduzindo os riscos de cauda da política fiscal, mas seu impacto sobre a política monetária é condicionado aos efeitos que venha a ter nas expectativas de inflação, que atualmente estão bastante afastadas da meta", aponta em nota a equipe da BlueLine Asset Management.

Na B3, o dia ao fim foi majoritariamente positivo para as ações de grandes bancos (Bradesco ON +1,16%, BB ON +0,95%) e ruim para Vale (ON -2,09%), mas o leve viés de alta foi também assegurado por Petrobras (ON +0,30%, PN +0,68%), mesmo com o sinal negativo do petróleo na sessão. Na ponta do Ibovespa, Hapvida (+9,75%), Soma (+5,87%), Petz (+5,45%) e Carrefour Brasil (+4,27%). No lado oposto, Usiminas (-3,62%), Embraer (-2,46%), Braskem (-2,17%) e Suzano (-2,16%), além de Vale.

O otimismo do mercado financeiro teve leve ajuste de expectativa para as ações no curtíssimo prazo, segundo o Termômetro Broadcast Bolsa. Entre os participantes, 50,00% esperam que a próxima semana seja de alta para o Ibovespa, porcentual ligeiramente abaixo dos 62,50% no levantamento anterior. A projeção de queda saiu de 12,50% para 16,67% e a de estabilidade, de 25,00% para 33,33%.

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