Apesar da reação dos mercados a princípio cautelosa quanto à forte leitura oficial sobre o mercado de trabalho norte-americano em setembro, divulgada pela manhã, o Ibovespa acentuou ganhos e conseguiu retomar a linha dos 114 mil pontos no fechamento desta sexta-feira, 6, em linha com a melhora do humor externo ao longo da tarde, após ter recuado aos 111.598,57, na mínima, mais cedo. Em Nova York, os três principais índices de ações encerraram o dia com ganhos entre 0,87% (Dow Jones) e 1,60% (Nasdaq) – e apenas o Dow Jones cedeu terreno na semana, levemente (-0,30%).
Por sua vez, o índice da B3 não conseguiu evitar perda de 2,06% na primeira semana de outubro, vindo de ganho de 0,48% na anterior.
Nesta sexta, subiu 0,78%, aos 114.169,63 pontos, não muito distante da máxima do dia, de 114.491,00, em alta então pouco acima de 1%, saindo de abertura a 113.282,50. O giro financeiro subiu a R$ 23,1 bilhões nesta última sessão da semana. No ano, o índice avança 4,04%.
Nos picos da sessão, renovados a partir do meio da tarde, o Ibovespa contou com forte apoio das grandes ações de commodities (Petrobras ON +2,51%, PN +2,38%; Vale ON +1,46%, no fechamento), que buscavam então as respectivas máximas do dia, e do setor financeiro, com destaque para Banco do Brasil ON, que mostrou ganho de 4,07%, em sexta-feira na qual Itaú (PN) subiu 0,94% e Santander (Unit), 1,91%.
No encerramento, além das duas ações de Petrobras, que andaram bem à frente das cotações do petróleo na sessão, e de Banco do Brasil, destaque também para alta de 8,93% em Grupo Casas Bahia e de 3,22% para Carrefour Brasil. Na ponta oposta, Yduqs (-7,66%), Petz (-5,03%) e Cogna (-3,49%).
Nos Estados Unidos, o relatório oficial sobre o emprego em setembro mostrou um "mercado de trabalho ainda muito aquecido, com criação de vagas bem acima do esperado", diz Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos. "E, além disso, os números de julho e agosto foram revisados para cima, o que mostra que a suposta acomodação naqueles meses, que havia acalmado então os mercados, não aconteceu", acrescenta a economista, observando que a situação do mercado de trabalho americano corrobora o cenário de inflação pressionada nos EUA e de juros altos por mais tempo na maior economia do globo – e com chance ainda de aumento.
"Com juro americano de 10 anos a 4,7% ou 4,8% em um ativo considerado livre de risco, é muito mais interessante para o investidor obter essa remuneração, em dólar, do que colocar dinheiro em bolsas ou moedas de países emergentes. Essa reprecificação em cima de juros ocorre também nos Estados Unidos, com os investidores optando por renda fixa. Um movimento que deve prosseguir, com a retirada de recursos de emergentes em direção aos juros longos americanos", diz.
Ainda que a retomada desta tarde venha a se mostrar pontual, o mercado tomou nota, em segundo momento, dos sinais emitidos no mesmo payroll de setembro quanto a arrefecimento no ritmo de alta da renda salarial média, o que contribui para mitigar, em parte, os temores sobre inflação e juros. Contudo, o cenário de fundo, especialmente para emergentes como o Brasil, permanece o mesmo: desafiador.
"Em setembro, vimos o investidor estrangeiro retirar R$ 1,5 bilhão da Bolsa brasileira. Seguindo a tendência negativa, o institucional (investidores profissionais e fundos em geral) também foi vendedor no mês, levando R$ 3,1 bilhões da Bolsa. Sobre os próximos capítulos, não esperamos muita mudança; a estrela deste enredo deve continuar sendo a taxa de juros nos EUA", observa em relatório o estrategista de ações para pessoa física do Itaú BBA, Victor Natal.
No mês de outubro até o momento, considerando apenas os investidores estrangeiros, houve retirada de R$ 1,111 bilhão da B3, resultado de compras acumuladas de R$ 30,216 bilhões e de vendas de R$ 31,327 bilhões no intervalo até a quarta-feira, dia 4 – ou seja, um período de três sessões, iniciado na segunda-feira. No ano, o capital externo ainda está positivo em R$ 8,122 bilhões, de acordo com os dados da B3 reportados por Caroline Aragaki, do Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.
"O mercado iniciou esta semana sob forte pressão, com duas perdas expressivas, na segunda -1,29% e na terça -1,42%, com volumes ainda fracos, mas inclinado a vendas. Hoje, tivemos uma inversão ao longo do dia, na direção de compras à tarde, depois da reação inicial, muito negativa, ao payroll, de manhã. Assim, houve mais de 2,5% de oscilação entre mínima e máxima do dia, com a Bolsa chegando a mostrar queda de mais de 1%, no pior momento", diz Thiago Lourenço, operador de renda variável da Manchester Investimentos. "Hoje, o mercado mostrou interesse em defender a região dos 112 mil pontos, muito importante, consolidada ao longo do mês de maio. Agora, pode talvez buscar as resistências dos 115 mil e 117 mil pontos."
"O mercado brasileiro demorou para reprecificar a alta de juros dos EUA", avalia o economista José Cláudio Securato, CEO da Saint Paul Escola de Negócios. "As recentes indicações de que o ciclo de aperto monetário do Fed BC dos EUA não chegou ao fim fizeram o mercado reagir: real se desvalorizou, investidores deixaram o Brasil, a Bolsa caiu e os juros futuros dispararam", acrescenta. "Tudo isso coloca um pouco de pressão nas próximas decisões do Copom sobre a Selic: o quase consenso sobre queda já encontra questionadores, com o argumento de que o fiscal não melhorou no Brasil e de que as taxas de juros nos Estados Unidos estão altas demais."
Ainda assim, para a maioria dos participantes do Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira, o Ibovespa terá desempenho positivo na próxima semana. Os que esperam alta para o índice são 62,50%, melhor marca desde o fim de agosto, quando também ficou em 62,50%. Os que acreditam em estabilidade são 25,00%, enquanto 12,50% prevê queda. No Termômetro da semana passada, as expectativas eram de ganho para 50,00%; de variação neutra para 37,50%; e de baixa para 12,50%.