A valorização das ações da Petrobras, na esteira da fala do futuro presidente da companhia, o senador Jean Paul Prates (PT-RN), sobre a política de preços para combustíveis, deu alento ao Ibovespa ao longo da tarde desta quarta-feira, 4. Após exibir fôlego curto pela manhã, quando chegou a cair e registrou mínima aos 103.915,11 pontos, o índice ganhou força e encerrou o pregão em alta de 1,12%, aos 105.334,46 pontos, interrompendo uma sequência de dois dias de baixa expressiva. Logo após a divulgação da ata do mais recente encontro do Federal Reserve (Fed, o BC norte-americano), por volta das 16 horas, com aceno de novas elevações de juros nos EUA, o Ibovespa chegou a perder momentaneamente a linha dos 105 mil pontos, em sintonia com as bolsas em Nova York, mas logo se recuperou.
O volume negociado ficou em R$ 25,6 bilhões, ainda abaixo da média do fim de 2022, por volta de R$ 32 bilhões. Entre as blue chips, destaque para ações da Petrobras, com alta de 3,18% das PN e de 1,67% das ON, mesmo com as cotações do petróleo recuando mais de 4% no mercado internacional. O contrato do Brent para março, referência para a petroleira, fechou em baixa de 5,19%, a US$ 77,84 o barril. Apesar do refresco nesta quarta, na semana as ações da petroleira ainda apresentam perdas acima de 5%.
Os bancos, que também vinham apanhando, tiveram desempenho em geral positivo, com as ON do Banco do Brasil liderando o pelotão (+1,29%). Vale ON titubeou ao longo do dia, mas acabou fechamento em alta (+0,18%). Papéis do setor de varejo se recuperaram com o recuo dos juros futuros, liderando o grupo das maiores valorizações da carteira teórica: Natura ON (+8,89%), CVC ON (+6,78%) e Grupo Pão de Açúcar ON (+4,89%). Apenas oito papéis da carteira teórica fecharam em baixa. A maior desvalorização coube a ON da SLC Agrícola (-1,84%).
"O mercado se recuperou depois dos ruídos que vieram da equipe do governo nos últimos dias. A fala do futuro CEO da Petrobras foi positiva. Os papéis da empresa estavam bem para trás, mas passaram a subir mesmo com o petróleo caindo", afirma o head de renda variável da Veedha Investimentos, Rodrigo Moliterno, ressaltando a recuperação também dos setores de proteínas e de varejo e consumo.
Segundo analistas, o governo Lula parece ter adotado o tradicional freio de arrumação para redução de danos. Primeiro, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, disse ao Broadcast Político (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) que não há planos para revisar a reforma da previdência promovida na gestão de Michel Temer, desautorizando assim o ministro da Previdência, Carlos Lupi, que ontem falou em uma "antirreforma".
Em seguida, o futuro presidente da Petrobras tratou de afastar temores de mudanças radicas na política de preços da petroleira ao dizer que todo preço vai ter referência internacional e que não haverá intervenção. Ficou em aberto a questão, contudo, da permanência do PPI (Preço de Paridade de Importação). "O governo pode simplesmente dizer é livre, é liberado, é PPI, não é PPI. Mas é o governo quem cria o contexto, e o mercado também. Principalmente o mercado, se falta o produto, se sobra produto", afirmou Prates.
Por último, Lula convocou para sexta-feira, 6, reunião com a equipe ministerial para afinar o discurso do governo e, segundo Costa, reafirmar que qualquer proposta só tem validade após o aval presidencial. "Lula é quem decide, ele teve mais de 60 milhões de votos", disse o ministro, acrescentando que todas as propostas também vão passar pelo crivo da Casa Civil.
"A nova equipe de governo não conseguiu encontrar ainda um tom correto de comunicação com o mercado. Se boa parte das medidas que estão sendo propostas pelo ministros avançassem, teríamos uma severa conta fiscal para os próximos anos", afirma o sócio e analista da Finacap Investimentos Felipe Moura."A entrevista de Prates deu uma acalmada nos mercados hoje. Ele acenou que será aderente às atuais práticas. Mas é tudo ainda muito especulativo", afirma.