Estadão

Ibovespa sobe 1,31%, a 116 mil pontos, e ganha 5,45% em outubro

Com giro reforçado a R$ 47,2 bilhões nesta última sessão do mês, o Ibovespa encerrou outubro acumulando ganho de 5,45% no período, estendendo série positiva que retrocede a julho. Hoje, o índice manteve ampla faixa de flutuação da mínima (112.113,34) à máxima (116.763,47) do dia, e conseguiu ir além da linha dos 114 mil pontos, das duas sessões anteriores, ao fechar em alta de 1,31%, aos 116.037,08 pontos, saindo de abertura aos 114.533,14. No ano, o Ibovespa sobe agora 10,70%.

Nesta segunda-feira, a forte queda de Petrobras (ON -7,04%, PN -8,47%) e de Banco do Brasil (ON -4,64%), com o prosseguimento da reversão do kit estatais após a vitória do candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na noite de ontem, não foi o suficiente para lançar o Ibovespa em correção nesta última sessão do mês, ao contrário do que antecipavam analistas de mercado no fim do domingo.

Ainda assim, em linha com o que se esperava, Petrobras e BB seguraram a ponta negativa do Ibovespa nesta sessão pós-eleitoral, mas acumularam no mês um desempenho bem discreto: Petrobras ON e PN ainda avançaram 0,54% e 0,03%, respectivamente, e BB ON cedeu 3,89%. As três ações ainda mantêm desempenho amplamente positivo no ano, com ganhos, pela ordem, de 56,44%, 56,07% e 37,77%.

No lado oposto do Ibovespa nesta última sessão de outubro, destaque hoje para CVC (+9,63%), Alpargatas (+9,04%) e Azul (+8,91%). O índice de consumo, que reúne ações com exposição à economia doméstica, fechou o dia em forte alta de 3,98%, enquanto o de materiais básicos, das ações de commodities, cedeu 0,62%. Vale ON encerrou esta segunda-feira em baixa de 0,47%. Os grandes bancos, por sua vez, subiram, com ganhos acima de 2% na sessão, à exceção de BB.

Na transição para o novo governo, a falta de ruídos iniciais mais intensos contribui para tranquilizar os investidores, com rápida proclamação do resultado, reconhecimento externo de países como Estados Unidos e China, e mesmo o silêncio do presidente Jair Bolsonaro, derrotado nas urnas que havia contestado em boa parte do processo eleitoral.

A pronta admissão pública da derrota entre aliados próximos, como Arthur Lira (presidente da Câmara), ainda na noite de domingo, contribui para reduzir ao mínimo o risco de contestação, que poderia estender a eleição a um "terceiro turno" após ter sido decidida por estreita margem de 2,1 milhões de votos.

Por outro lado, desde a noite de ontem e supostamente sem um comando central, caminhoneiros têm obstruído rodovias em diferentes Estados, afetando artérias importantes, como a Dutra e a Régis Bittencourt. Manifestantes queimaram pneus e, além de algumas camisas da seleção brasileira, portavam também mensagens como Help Brazil e pedidos de intervenção militar, contestando o resultado eleitoral.

A presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), disse hoje que o presidente Jair Bolsonaro (PL) precisa resolver os bloqueios de caminhoneiros. "São bloqueios políticos e estão causando prejuízo ao Brasil e à população. A responsabilidade é dele e dos órgãos que ele governa", disse a presidente do PT.

No início da tarde, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) indicava 111 pontos de manifestação em rodovias federais, com base em informações registradas em sistema interno até as 12h30, enviado a participantes do setor de transporte e obtido pelo Broadcast Agro. Segundo o documento, são 71 interdições, onde o fluxo fica parcialmente impedido; 29 bloqueios, nos quais o fluxo está totalmente impedido; e 11 pontos de concentração, em que um grupo de manifestantes fica fora da rodovia, sem influência no tráfego.

Fontes ouvidas pelo Broadcast Político apontaram que Bolsonaro quer ver o relatório das Forças Armadas sobre o resultado das urnas antes de se manifestar sobre a derrota para Lula. Aliados do presidente, contudo, tentam convencê-lo a desistir da ideia. Políticos próximos a Bolsonaro, principalmente do Centrão, já sinalizaram que estão dispostos a cooperar com o presidente eleito, Lula.

Relatos desta segunda-feira apontaram que ministros como Paulo Guedes (Economia) e Carlos França (Relações Exteriores) estariam envolvidos na redação de um texto a ser sugerido ao presidente Bolsonaro sobre o resultado da eleição. Ontem à noite, após a confirmação da derrota pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Bolsonaro isolou-se no Palácio da Alvorada, a residência oficial da Presidência.

O presidente disse a ministros nesta segunda-feira, 31, que não vai contestar o resultado da eleição, mas há a possibilidade de criticar a atuação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A informação foi antecipada pela coluna do jornalista Lauro Jardim, de O Globo, e confirmada pelo Broadcast Político. Bolsonaro permanece em silêncio desde a noite de ontem, sem reconhecer o resultado nas urnas, nem parabenizar o presidente eleito.

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que coordenou a campanha de Lula, confirmou hoje que o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB) e o coordenador do programa de governo, Aloizio Mercadante (PT), são cotados para comandar a transição. O nome de Alckmin é muito bem visto pelo mercado para exercer tal função.

Em outro desdobramento considerado positivo, a presidente da Caixa, Daniella Marques, pode participar da equipe de transição de governo, de acordo com fontes ouvidas pelo Broadcast. Daniella foi o braço direito do ministro da Economia, Paulo Guedes, durante o processo de transição de Michel Temer para Jair Bolsonaro, no fim de 2018.

"O desfecho da eleição foi o mais apertado da história da Nova República, desde 1988. O discurso de Lula (de ontem à noite na Avenida Paulista) foi em tom tranquilo, conciliador, bem mais leve do que o esperado", diz Victor Candido, economista-chefe da RPS Capital. Ele observa que a campanha vitoriosa na eleição ainda não deu muitas indicações sobre economia, apesar do aceno sobre responsabilidade fiscal e "previsibilidade".

"Não há nenhum grande indicativo sobre o que se vai fazer. Precisamos esperar os próximos dias, esperar principalmente o anúncio do próximo ministro da Fazenda, que deve acontecer relativamente rápido, na minha opinião", acrescenta o economista, referindo-se a "dias e não semanas".

A Fitch, agência de classificação de risco de crédito, acredita ser improvável que a vitória de Lula resulte em grande mudança na política macroeconômica brasileira. No entanto, destaca que "um sinal importante será o esclarecimento de quais serão os planos de mudança das regras fiscais".

No front político, "o establishment aceitou a derrota (de Bolsonaro), o que envolve não apenas o Centrão mas também pessoas próximas ao presidente, sem espaço para contestação. O presidente ainda não falou, e precisamos saber qual será sua fala. Se continuarmos nesse cenário de tranquilidade, de aceitação do resultado, não vai ter nenhum soluço grande do mercado", diz Candido, da RPS Capital, destacando a presença do investidor estrangeiro, do lado comprador na B3, em outubro. "Os próximos dias podem ser ainda de um pouco de apreensão", ressalva.

Em setembro, com ganho de 3,71% para o dólar no mês, bem superior ao visto no Ibovespa, o índice de ações retrocedeu para 20.397,58 pontos, na moeda americana – ainda assim, em patamar mais alto, em dólar, do que na virada do primeiro para o segundo semestre, vindo de 19.937,90 pontos em julho e de 18.824,39 pontos no encerramento de junho. Em agosto, com o dólar em leve alta de 0,53% no mês, o Ibovespa foi aos 21.056,01 pontos, na moeda americana.

Agora em outubro, dois meses depois, aponta 22.462,12 pontos, com o Ibovespa em alta de 5,45% e o dólar em baixa de 4,24% no mês.

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