Estadão

Ibovespa sobe com NY e commodities, apesar de balanço decepcionante da Vale

A alta das bolsas internacionais, em meio a balanços de empresas de tecnologia, e das commodities estimula valorização do Ibovespa nesta quinta-feira, apesar do balanço fraco da Vale no primeiro trimestre. Após ceder 0,33%, na mínima aos 101.975,35 pontos, e abertura aos 102.309,98 pontos, o Índice Bovespa intensificou a alta, tocando a marca dos 103 mil pontos.

Destaque para os papéis da Vale, que subiam cerca de 1,70%, depois de recuarem mais cedo.

Segundo Rafael Germano, especialista em renda variável da Blue3 Investimentos, a despeito do resultado decepcionante da mineradora no primeiro trimestre, parte do desempenho já havia sido antecipado nos dados de produção e precificado nos papéis da empresa recentemente. "Houve uma expectativa de antemão, ainda que o balanço tenha vindo pior. É importante notar que a companhia tem diversificado sua produção de nível e de cobre, não focando somente em minério", analisa.

Há instantes, o presidente da empresa, Eduardo Bartolomeo, disse que a disciplina na alocação de capital continua intacta e que a companhia está retornando valor aos acionistas. Em Nova York, o Nasdaq subia 1,21%. Ontem, o Ibovespa fechou em baixa de 0,88% – a terceira seguida -, aos 102.312,10 pontos.

"Os papéis estavam amassados, e tem de olhar pra frente. O Ebitda veio em linha. O petróleo passou a subir, e há recuo do dólar e algumas taxas de juros futuras caem, em meio a novos sinais de alívio da inflação", sintetiza Luiz Roberto Monteiro, operador da mesa institucional da Renascença.

No Brasil, destaque a sessão no Senado para debater temas macroeconômicos no Senado, da qual participam os ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Simone Tebet (Planejamento), além do presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, que está em período de silêncio, por causa do Copom na semana que vem.

Ao iniciar a sessão, o presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), ressaltou que a taxa de juros alta prejudica o consumo e o crescimento econômico. "Não se deseja o estrangulamento da economia no curto prazo", disse. "Juros altos são entrave ao desenvolvimento e ao combate à pobreza."

Já Haddad disse que o governo quer dar condições para que os investidores acreditarem no potencial da economia brasileira. E Campos Neto rebateu novamente que o Brasil tenha descumprido a meta de inflação mais do que pares internacionais e disse que o descolamento de metas ocorreu quando se aceitou mais inflação em troca de crescimento.

Nos Estados Unidos, saiu o PIB do primeiro trimestre, que cresceu a um ritmo anualizado de 1,1% no período, ficando menor do que a estimativa de alta de 2% na pesquisa do Projeções Broadcast. Porém, o PCE subiu à taxa anualizada de 4,2%. "São dados preocupantes. A inflação forte com baixo crescimento, estagflação", diz o estrategista-chefe do Grupo Laatus, Jefferson Laatus.

Apesar dos dados sugerindo leituras divergentes, Jansen Costa, sócio fundador da Fatorial Investimentos, avalia que os Estados Unidos deverão enfrentar uma leve e rápida recessão. "A questão é saber quando isso acontecerá", diz.

Segundo ele, será preciso monitorar os resultados corporativos do primeiro trimestre com intuito de observar se de fato as companhias estão lucrando mais e poderão evitar demissões. "E tem a questão dos bancos, com a possibilidade de quebra do First Republic Bank, que pode desencadear um processo de diminuição do crédito e reforçar uma recessão", completa Costa.

Além disso, por aqui, o IGP-M registrou deflação de 0,95% em abril, após alta de 0,05% em março, O indicador caiu 2,17% nos últimos 12 meses. No ano, o índice acumula queda de 0,75%. O IGP-M de abril caiu mais do que a mediana negativa de 0,71% das estimativas na pesquisa do Projeções Broadcast (-1,04% a -0,41%). "Pode ser um sinal de convergência das expectativas, abrindo espaço para se iniciar queda da Selic", analisa Germano, da Blue3.

Apesar da alta, os juros curtos estão estáveis, enquanto os longos têm viés de baixa, em sintonia com o dólar. É importante ressaltar que a pressão no setor de serviços tem sido um dos pontos mencionados pelo Banco Central para iniciar um processo de queda da Selic. Além disso, o fiscal segue no radar. Ontem, destaca o estrategista-chefe do Grupo Laatus, Jefferson Laatus, o governo teve uma vitória importante na questão de incidência de impostos sobre empresas do agronegócio, o que permitirá uma arrecadação de cerca de R$ 90 bilhões para os cofres públicos.

"É uma decisão ruim para as empresas, mas boa para governo pensando no arcabouço fiscal. Haddad conseguirá uma receita que é importante para tornar a proposta viável. Não resolve o problema, mas ajuda", afirma Laatus.

Às 11h40, o Ibovespa subia 0,54%, aos 102.861,38 pontos, ante máxima a 103.177,38 pontos, em alta de 0,85%. Vale tinha elevação de 1,10%, enquanto Petrobras PN subia 0,15% e ON cedia 0,24%. Em Nova York, o ganho máximo era de 1,49% (Nasdaq).

O lucro da mineradora veio ainda menor que o esperado pelo mercado, que projetava US$ 2,04 bilhões, conforme média das instituições consultadas pelo Broadcast. A cifra foi de US$ 1,83 bilhão, recuo de 58,8% em um ano. Já a dívida líquida teve expansão de 67,3%, indo a US$ 8,2 bilhões no trimestre encerrado em março.

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