Segundo dia de setembro e segundo ganho para o Ibovespa, mesmo com o sinal negativo de Nova York, onde as perdas chegaram a 1,31% nesta sexta-feira, no Nasdaq. Aqui, a referência da B3 fechou o dia em leve alta de 0,42%, a 110.864,24 pontos, entre mínima de 110.408,92, da abertura, e máxima de 112.264,17 pontos, com giro reforçado a R$ 37,8 bilhões na sessão.
As duas altas seguidas, contudo, não foram o suficiente para apagar as perdas da semana, vindo o Ibovespa de queda de 0,82% na quarta e de 1,68% na terça, após um início praticamente estável (+0,02%), na segunda-feira. Assim, com a correção nas últimas sessões de agosto, esta semana de transição para setembro viu perda de 1,28%, que reverteu o ganho de 0,72% do intervalo anterior. No ano, o Ibovespa sobe 5,76% e, em setembro, avança 1,22%.
No exterior, o dado mais aguardado do dia, o relatório oficial sobre o mercado de trabalho americano em agosto – com a geração de vagas, a taxa de desemprego e a evolução da renda salarial – manteve a porta aberta para que o Federal Reserve possa ajustar o ritmo e imprimir um grau talvez menos agressivo de elevação dos juros em setembro, na avaliação de mercado. Na B3, os ganhos observados no setor financeiro (B3 +4,46%, Itaú PN +1,37%) foram o contraponto à baixa em Petrobras (ON -1,45%, PN -1,27%) e Vale (ON -1,52%, na mínima do dia no encerramento).
Na ponta do índice, empresas do segmento imobiliário como Eztec (+8,42%), JHSF (+8,28%), MRV (+8,14%) e Cyrela (+7,86%) – setor que já vinha em destaque na quinta com a queda dos DIs e a extensão dos prazos de financiamento dos contratos do Casa Verde e Amarela, observa Gustavo Harada, chefe da mesa de renda variável da Blackbird Investimentos – tiveram desempenho à frente nesta sexta-feira de Braskem (+6,84%) e WEG (+6,45%). No lado oposto, IRB (-12,86%), Petz (-3,88%) e Via (-3,13%).
"Houve espera pelo payroll, dados que contribuem para uma clareada sobre o Fed e que podem ser chave para a decisão, para a magnitude do aumento de juros na próxima reunião", diz Harada, da Blackbird, acrescentando que o mercado de trabalho nos Estados Unidos tem se mantido aquecido mesmo com as elevações de juros efetivadas nos últimos meses, o que vinha contribuindo para consenso em torno de aumento de 75 pontos-base para a taxa de juros do Federal Reserve em setembro.
Ele chama atenção também para a inflação ao produtor (PPI) na zona do euro (+4%), acima do esperado (+3%) em julho ante junho, o que reforça a visão de que o Banco Central Europeu (BCE) precisará ser mais agressivo na próxima reunião, no dia 8 de setembro, com uma elevação de 0,75 ponto porcentual nos juros de referência. Na comparação de julho com o mesmo mês do ano passado, o PPI na zona do euro acumula variação de 37,9%, em aceleração frente ao ritmo de 35,8% observado em junho.
Nos Estados Unidos, "o payroll veio misto porque, ao mesmo tempo que criou mais vagas do que o previsto, houve aumento da taxa de desemprego, de 3,5% para 3,7%, e, principalmente se olharmos dentro dos grupos, houve aumento entre os que sofrem mais, os menos escolarizados, onde a taxa subiu de 5,9% para 6,2%", diz Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, observando também que entre os mais escolarizados, com ao menos uma graduação, a taxa de desemprego caiu de 2% para 1,9% em agosto.
Ele acrescenta que o ganho salarial médio teve leve alteração no mês, embora ainda em patamar elevado especialmente na comparação anual, em alta de 5,2%. "A estimativa do mercado é de que, na comparação anual, esta alta deveria estar em 3,5% para que não estivesse pressionando tanto a inflação", observa Cruz.
"Há um caminho a ser percorrido pelo Fed. Ainda não é o suficiente para uma (alta menor), de meio ponto porcentual, na taxa de juros dos Estados Unidos, mas caso a inflação desacelere muito, talvez ganhe força essa expectativa no mercado", conclui o estrategista, antecipando divisão nas projeções, embora com o call de 0,75 p.p. ainda predominando para setembro. De acordo com dados da CME, a probabilidade de aumento de 75 pontos-base (pb) nos juros básicos dos Estados Unidos este mês, na decisão do Federal Reserve, recuou de 75% na quinta para 56% no fim desta tarde. Já para 50 pb subiu de 25% para 44%.
Apesar da sensação de que não se terá como passar incólume ao processo de ajuste nas políticas monetárias nas maiores economias, e no momento em que outra ponta do tripé, a China, também mostra menos vigor econômico, o Ibovespa tem sustentado algum descolamento, mesmo nos dias desfavoráveis em Nova York, como esta sexta.
Com os temores fiscais adiados para 2023, a boa recuperação do PIB, a moderação de ritmo da inflação nas últimas leituras mensais sob efeito dos ajustes já promovidos pelo BC na Selic – e muito antecipado ao ora promovido nos juros das economias centrais -, redespertou-se o interesse por ativos brasileiros, o que se reflete também no câmbio, apesar da volatilidade vista nesta semana. O dólar chegou a ser negociado no início da semana a R$ 5,01 e nesta sexta fechou em baixa de 1,02%, mas a R$ 5,1848.
Apesar das incertezas externas e da volatilidade que pode vir à frente, neste mês que falta para o primeiro turno da eleição, as expectativas do mercado financeiro para o desempenho das ações no curtíssimo prazo ficaram ligeiramente mais otimistas no Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira. Entre os participantes, a fatia dos que esperam ganhos para o Ibovespa na próxima semana subiu de 50,00% na pesquisa passada para 60,00%, enquanto a previsão de queda recuou de 30,00% para 20,00%. A parcela dos que acreditam em variação neutra manteve-se em 20,00%.