O Ibovespa emendou o terceiro dia de ganhos mesmo com o tom "hawkish" da ata do Copom, que contribuiu para apreciar o real frente ao dólar, em dia também de recuo para a moeda americana no exterior. Assim, a referência da B3 conseguiu recuperar a linha dos 101 mil pontos, não vista em fechamento desde o último dia 17, quando vinha dos 103,4 mil no encerramento anterior. Mais uma vez, o giro se manteve restrito, a R$ 21,0 bilhões nesta terça-feira.
Hoje, o Ibovespa oscilou entre 99.488,19 e 101.559,17, saindo de abertura aos 99.672,17 pontos. Na semana, o índice sobe 2,38%, limitando as perdas do mês a 3,57% – no ano, ainda cede 7,79%. Ao fim, a referência da B3 mostrava alta de 1,52%, aos 101.185,09 pontos, nesta terça-feira.
Entre as principais ações, poucas ficaram de fora da recuperação vista na sessão, como Bradesco (ON -0,52%, PN -0,15%) e Santander Brasil (Unit -0,19%). Petrobras ON (na máxima do dia no fechamento) e PN subiram, respectivamente, 1,73% e 1,77%, enquanto Vale ON teve alta de 1,06% na sessão.
Na ponta do Ibovespa, destaque para Hapvida – após anunciar acordo para venda de 10 imóveis por R$ 1,2 bilhão, e um potencial follow on -, cuja ação subiu 18,47% nesta terça-feira, à frente de Qualicorp (+6,35%), Petz (+5,98%) e Braskem (+5,77%). No lado oposto, Rede D Or (-4,85%), MRV (-2,83%), JBS (-2,02%) e Yduqs (-1,29%).
Apesar da recuperação parcial nas últimas três sessões, após ter despencado para a faixa dos 97 mil na última quinta-feira, mínima desde julho, ações de primeira linha ainda acumulam perdas substanciais em março, mês que termina na sexta-feira. Mesmo com ganhos acima de 3% no acumulado nas duas primeiras sessões da semana, Petrobras ON e PN recuam 7,83% e 6,54% em março. Vale ON, por sua vez, sobe 0,89% na semana e recua 4,93% no mês. Entre os grandes bancos, as perdas de março chegam a 8,30% (Unit do Santander) e na siderurgia, a 13,50% (CSN ON, que hoje subiu 4,12%).
Dessa forma, mesmo considerando o afastamento do Ibovespa de mínimas abaixo dos seis dígitos, o atraso e barateamento do índice segue visível, vindo já de mergulho de 7,49% em fevereiro.
Evento mais aguardado do dia, a ata do Copom não aliviou a dura perspectiva para a política monetária que havia surpreendido o mercado, na semana passada, no comunicado sobre a manutenção, conforme esperado, da Selic em 13,75% ao ano – sem qualquer sinal de alívio à frente, mesmo com estreitamento de crédito, aqui, e dificuldades no sistema bancário, no exterior. Na ata de hoje, "alguma flexibilização do discurso se deu apenas na discussão do cenário fiscal", aponta em nota Sergio Goldenstein, estrategista-chefe da Warren Rena, especialista em política monetária.
"Além de o Comitê ter reconhecido que a execução do pacote apresentado pelo Ministério da Fazenda atenua os estímulos sobre a demanda (reduzindo o risco de alta sobre a inflação de curto prazo), destacou que a materialização de arcabouço fiscal sólido e crível pode levar a um processo desinflacionário mais benigno, através de seu efeito no canal de expectativas, ao reduzir as expectativas de inflação, a incerteza na economia e o prêmio de risco associado aos ativos domésticos", aponta Goldenstein.
"O que me chamou a atenção foi o grau de explicação, principalmente, em torno da questão das expectativas, metas de inflação e o canal de transmissão entre a política monetária e a economia", observa Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research. "O Copom deixou claro que não alterará o plano de voo da política monetária enquanto não houver uma sinalização clara de ancoragem das expectativas em horizontes mais longos e uma redução do risco fiscal, que passa por um novo arcabouço fiscal crível", acrescenta.
Durante evento com prefeitos nesta tarde em Brasília, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que a reforma tributária é um dos caminhos necessários para que o Brasil recupere tempo na economia, juntamente com a reforma do crédito e a apresentação do novo arcabouço fiscal. "Reforma tributária está no topo das nossas prioridades, talvez entre as 3 ou 5 mais importantes", disse. Segundo ele, o arcabouço fiscal será apresentado ainda nesta semana "para o público e para o Congresso."
Mesmo com a ata do Copom ainda emitindo sinais hawkish, o Bank of America (BofA) reiterou a expectativa de início do ciclo de cortes da Selic em maio, com risco de postergação. O banco espera redução da Selic a 11,0% no fim de 2023. "O estresse no mercado financeiro global e um credit squeeze mais profundo localmente devem pesar na decisão de política monetária à frente", escrevem os estrategistas do BofA David Beker e Natacha Perez em relatório a clientes, reporta o jornalista Cicero Cotrim, do <i>Broadcast</i>.