O Ibovespa abriu a segunda-feira, 31, em queda, puxado principalmente por ações ligadas a estatais, após resultado apertado para presidente do Brasil na véspera, e em meio ainda a um cenário externo negativo. As bolsas americanas caem, mas as europeias tentam subir, mas as commodities (petróleo e minério) cedem. Os investidores avaliam novos sinais de fraqueza da economia chinesa, dados fortes de inflação na zona do euro, em semana de decisão de juros, especialmente nos EUA.
Aqui, o mercado financeiro tenta absorver um primeiro efeito negativo das eleições, com vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre o presidente Jair Bolsonaro (PL). A expectativa é que Lula adote um tom moderado em seu governo, sem grandes extravagâncias que comprometam principalmente as contas públicas.
"É muito difícil prever a psicologia do mercado. O tom deve ser mais negativo para os imediatistas, que acreditavam em uma virada vitória de Bolsonaro, o que poderia resultar em um rali", avalia o estrategista-chefe da Empiricus Investimentos, Francisco Levy. Num primeiro momento, "a nova realidade de não ter esse rali neste começo da semana" levou a uma correção do Ibovespa. Por ora, chegou a cair 2,12%, na mínima aos 112.113,34 pontos, mas passou a subir, com máxima indo aos 116.763,47 pontos, em alta de 1,94%.
Para Levy, a expectativa negativa por parte de alguns deve ser suficiente para representar todo o mercado. Portanto, não deve ocorrer um "grande estresse", diz. "Um Lula mais voltando para o Centro, não deve ser ruim. Obviamente, o mercado vai esperar as indicações do novo governo para a Economia e em relação às questões fiscais. Com um Banco Central independente e o Lula sendo uma pessoa pragmática, acredito que ele não fará nenhuma aventura fiscal", avalia Levy.
A alta do Ibovespa reflete basicamente a espera por três coisas, diz o economista Álvaro Bandeira. Uma delas, afirma, é a expectativa de um posicionamento de Bolsonaro em relação à vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), "e acho que ele ficou meio"isolado", dado que governadores aliados a ele se mostraram abertos ao governo Lula.
"Outra questão é se será uma transição suave. Quanto mais suave for, melhor reagirá bem. As ações da Petrobras ainda caem, mas é natural, dadas as altas recentes de mais de 64% em 2022", diz Bandeira. Um terceiro fator, acrescenta, dependerá de Lula, de como será sua equipe econômica.
Apesar da valorização do Ibovespa, as ações da Petrobras caem em torno de 4,50%, mas já cedem mais de 7% antes. "É natural uma reação negativa. Já subiram bem mais de 60% em 2022", afirma Bandeira. Já as do Banco do Brasil (BB) tinham recuo de 2,70%.
Na opinião do estrategista-chefe do Grupo Laatus, Jefferson Laatus, há um temor do mercado de que o novo presidente transforme principalmente BB e a petroleira em "cabines de emprego". Além disso, teme-se que mexa na política de preços da Petrobras, com a paridade, por exemplo, sendo negociada em reais, o que poderia prejudicar o caixa da empresa.
Além de esperar por sinais em relação à composição do novo governo, os investidores também vão monitorar Bolsonaro, no aguardo de uma aceitação por parte do mesmo da vitória de Lula. Se de um lado, avalia Laatus, o fato de Bolsonaro não ter contestado a vitória do petista nas urnas é um bom sinal, seria desfavorável o contrário. Agora, se houver reconhecimento por parte do chefe do Executivo, diz, o "mercado pode entrar em festa."
Às 11h37, o Ibovespa subia 0,89%, aos 115.560,29 pontos. Vale avançava 1,53% após ceder, seguindo a alta do setor de metais e energia no exterior. Já Petrobras caía 4,76% (PN) e 4,33% (ON). BB perdia 3,12%, enquanto os papéis de grandes bancos subiam até 3% (Bradesco PN).