A melhora do humor externo, decorrente da redução de tropas russas junto à fronteira com a Ucrânia, contribuiu para o Ibovespa costurar nesta terça-feira, 15, o sexto ganho consecutivo, sua mais longa sequência positiva desde a passagem de maio para junho passado, mas também resultou em forte correção do petróleo, que havia acumulado prêmios de risco durante a escalada das tensões no leste europeu. Assim, sem a contribuição de Petrobras (ON -2,07%, PN -1,58%) e Vale (ON -2,97%), em dia também negativo para o minério de ferro, o Ibovespa andou menos do que as referências em Nova York, onde os ganhos chegaram a 2,53% (Nasdaq) no fechamento.
Na B3, o índice renovou máximas ao longo da tarde, acompanhando à certa distância o avanço visto em Nova York. No fechamento, no pico do dia, mostrava alta de 0,82%, a 114.828,18 pontos, agora no melhor nível desde o encerramento de 15 de setembro (115.062,54), hoje entre mínima de 113.882,48 e a máxima do encerramento, saindo de abertura aos 113.905,44 pontos. O giro financeiro foi de R$ 29,9 bilhões na sessão. Na semana, o Ibovespa sobe 1,11%; no mês, 2,39% e, no ano, acumula agora 9,55%.
Tanto Rússia como Ucrânia são importantes produtoras de commodities agrícolas como trigo e milho, com os russos se destacando também não apenas em petróleo e gás, mas ainda em metais, bem como na produção de fertilizantes, observa Igor Barenboim, economista-chefe da Reach Capital. "Do ponto de vista econômico, temos aí dois grandes produtores de matérias-primas. Um confronto militar afetaria não apenas a oferta mas também a demanda (por insumos), na medida em que um enfrentamento desviaria recursos" para essa finalidade, acrescenta.
Assim, a escalada de tensões vista nos últimos dias, e amortecida hoje pelos sinais que chegaram da Rússia, foi particularmente sentida nos preços de commodities, como o petróleo, que chegou a recuar quase 5% ao longo desta terça-feira.
"Mesmo na ausência de indícios de que a situação está resolvida, o movimento (de retirada de tropas russas) vem como uma luz no fim do túnel e já é o suficiente para dar sustento à redução do prêmio de risco nos mercados, que já iniciaram a sessão com alta nas bolsas, dólar mais fraco e forte abertura dos juros desenvolvidos – além de uma queda acentuada nos preços do petróleo. Naturalmente, a confirmação de que a Rússia irá retirar suas forças por completo será providencial para destravar mais valor", observa em nota a Guide Investimentos.
"A liquidação do mercado de títulos foi retomada, com o retorno do apetite por risco após afrouxamento das tensões geopolíticas", aponta em nota Edward Moya, analista da OANDA em Nova York, chamando atenção para o rendimento da T-note de 10 anos, acima de 2%. "As expectativas de que se estabilize acima disso agora estão crescendo. A inflação está se acelerando e espera-se que estejamos vendo o pico das pressões sobre os preços ser adiado por mais alguns meses", acrescenta.
"Os mercados operaram com alívio em relação à geopolítica. A tensão em relação à possibilidade de conflito diminuiu bastante e o mercado pôde efetivamente voltar a olhar outros pontos. Nessa toada, o petróleo, que tinha subido bastante, foi para uma realização (de lucros), o que afetou as petrolíferas. Além disso, a China tem feito algumas ações para tentar conter a escalada especulativa no preço do minério, que chegou a bater em US$ 150 (por tonelada) e agora voltou para a casa dos US$ 138, com reflexos para Vale e CSN, que é dona da (mina) Casa de Pedra", diz Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos.
Ainda assim, as perdas observadas no setor de commodities e siderurgia (CSN ON -4,83%, na ponta negativa do Ibovespa) tiveram o contrapeso do bom desempenho das ações de bancos, com BB ON (+4,74%) à frente, após o balanço da instituição divulgado na noite de ontem. Na ponta de ganhos da carteira Ibovespa, destaque para Locaweb (+15,31%), Banco Pan (+10,47%), Azul (+8,45%) e WEG (+8,02%). No lado oposto, além de CSN, 3R Petroleum (-4,74%), Bradespar (-3,67%), Vale (-2,97%) e PetroRio (-2,83%).
"Em recuperação, o setor bancário é o que vem despontando, com resultados bastante fortes do Banco do Brasil e, na semana passada, do Itaú", aponta Moliterno, destacando também na sessão o desempenho das ações de varejo, em "respiro" após a "clareada" proporcionada pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, sobre como se dará os aumentos de juros, com expectativa de arrefecimento da inflação, o que resultou em fechamento das taxas dos DIs futuros.