Em um pregão marcado pela volatilidade, o Ibovespa oscilou entre o positivo e o negativo durante todo o dia, sem suporte de commodities e à mercê do noticiário externo. O humor do índice brasileiro seguiu o movimento das bolsas americanas, com os ativos globais respondendo com sensibilidade às sinalizações do Federal Reserve (Fed). Terminou esta terça-feira, 10, próximo da estabilidade, com queda de 0,14%, aos 103.109,94 pontos.
Apesar de uma melhora das bolsas americanas nas últimas horas do pregão, o índice brasileiro não conseguiu equiparar o desempenho, com as ações ligadas à commodities penalizadas, após queda de 2,34% do minério. No petróleo, contudo, mesmo com a queda de mais de 3% no barril do Brent, as petroleiras tentavam se sustentar no positivo, com Petrobras subindo 0,87% (PN) e 1,26% (ON) e PetroRio, 0,21%. Vale caiu 1,24%.
Nas commodities, pesa a sinalização do governo chinês de que seguirá com a política restrita de covid zero, o que prejudica as cadeias globais de suprimento. Em um cenário onde a política monetária tem dado as cartas do humor global, o mercado observa com atenção qualquer sinal que adicione mais inflação. Assim, o fator China e a continuidade da guerra na Ucrânia têm destaque no radar dos investidores. "No fim, a discussão é de inflação, tudo que respingar em inflação é o que está fazendo preço", aponta Nicolas Farto, especialista em renda variável da Renova Invest.
Com a decisão do banco central americano impactando diretamente o interesse por ativos de risco e, mais ainda, por mercados emergentes, o Ibovespa dançou hoje sob o compasso dos discursos de dirigentes do Fed. No fim da manhã a presidente da distrital do Fed em Cleveland, Loretta Mester, levou a referência da bolsa brasileira às mínimas, quando tocou os 102 mil pontos, após dizer não descartar "para sempre" um aumento de 75 pontos-base.
À tarde, o Ibovespa tentou emplacar uma recuperação e seguir os índices de Nova York ao terreno positivo após o membro do conselho do Fed Chistopher Waller dizer que o BC americano pode subir os juros para controlar a inflação nos Estados Unidos sem impactar fortemente o emprego. Segundo ele, o momento correto de apertar a política monetária é agora, uma vez que a economia americana está forte e o mercado de trabalho, sobreaquecido.
"Tivemos alguns diretores falando e essas falas fazem preço porque estamos na expectativa de entender o ritmo que vão subir juros nos Estados Unidos. O (presidente do Fed) Jerome Powell disse que não vai subir os juros em 75 pontos, mas o mercado duvida", emenda Farto.
Nesse sentido, o mercado aguarda os dados do CPI nesta quarta-feira, 11, que medem a inflação americana e devem ajudar a dar um norte ao investidor. "O mercado aguarda tanto o CPI nos EUA quanto o IPCA no Brasil para definir uma nova tendência. (No caso do CPI), se a Treasury vai continuar abrindo e piorando a perspectiva para mercados de risco globais ou se você vai ter um CPI mais baixo mostrando que inflação americana já chegou ao topo. Se isso acontecer, pode ter alívio de curto prazo, ao menos para Ibovespa", avalia Luiz Adriano Martinez, gestor de portfólio da Kilima Asset.
Com o cenário externo conturbado, a ata do Comitê de Política Monetária (Copom), tida como mais flexível do que o comunicado da semana passada, e os dados do varejo – que surpreenderam positivamente, tanto no restrito (+1%) quanto no ampliado (+0,7%) – foram olhados lateralmente pelo investidor na Bolsa.
Na ponta positiva do Ibovespa hoje estão o grupo Natura (8,73%) – após o Natura Day de ontem em Nova York – e Banco Inter (9,14%), este impulsionado pelo dado mais forte de vendas no varejo. Na ponta negativa, destaque para as siderúrgicas, que, além da queda no minério, reagem negativamente à notícia de que o governo prepara uma medida para zerar a alíquota do Imposto de Importação de 11 produtos, entre eles o aço, o que fez CSN, Usiminas e Gerdau recuarem 5,82%, 6,78% e 4,36%, respectivamente.