Estadão

Ibovespa tem leve alta de 0,07%, a 100,9 mil pontos, com foco no arcabouço

Das últimas dez sessões foi apenas o terceiro ganho, mas o Ibovespa, diferentemente de ontem, conseguiu se conectar em parte do dia, ainda que à distância, ao sinal positivo do exterior nesta véspera de decisão sobre juros no Brasil como nos Estados Unidos. No fechamento, a referência da B3 mostrava ainda leve alta de 0,07%, aos 100.998,13 pontos, ante avanço entre 0,98% (Dow Jones) e 1,58% (Nasdaq) para os três índices de Nova York – na Europa, os ganhos ficaram acima de 1% nas principais praças, com destaque para Londres (+1,79%) e Frankfurt (+1,75%), em meio à moderação do receio em torno da possibilidade de uma crise bancária global.

Aqui, o pouco fôlego mostrado nesta terça-feira se relaciona à certeza, agora, de que o novo arcabouço fiscal levará mais tempo para ser anunciado oficialmente do que se antevia. Hoje, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que a proposta será apresentada "por ocasião da remessa" do projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2024 para o Congresso Nacional. Depois, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, acrescentou, em entrevista à GloboNews, que a ideia do governo é de que o arcabouço seja apresentado até meados de abril, com a LDO.

Assim, sem catalisadores para induzir uma recuperação mais forte do Ibovespa, e com giro na B3 limitado a R$ 17,9 bilhões na sessão – ainda mais fraco do que ontem -, as ações de Petrobras (ON +2,21%, PN +2,05%), que ainda acumulam perdas agudas no mês – respectivamente, de 8,49% e 7,29% -, foram favorecidas hoje pelo sinal positivo do petróleo, em alta na casa de 2% para o Brent e o WTI. Os grandes bancos, outro carro-chefe do Ibovespa, também tiveram recuperação parcial nesta terça-feira, com Itaú (PN +2,05%) à frente na sessão, em que Bradesco ON (-0,34%) foi a exceção entre as maiores instituições. Vale ON cedeu hoje 0,84%.

"A reação coordenada de grandes BCs, com provisão de liquidez por meio da abertura de linhas de swap, foi fundamental para que os temores sobre crise bancária refluíssem, embora esteja claro que a questão permanecerá no foco de atenção do mercado, especialmente se outros bancos vierem a aparecer em dificuldade", diz Guilherme Paulo, operador de renda variável da Manchester Investimentos.

"O ambiente melhorou a partir do exterior, e mesmo a reiteração de críticas do presidente Lula ao nível da Selic, hoje, na véspera do Copom, não trouxe grande ruído", acrescenta. Se por um lado Haddad, ao comentar o futuro arcabouço fiscal, disse que o Brasil tem sido, há muito tempo, um "prisioneiro do curto prazo", por outro, Lula voltou a criticar instituições financeiras ao afirmar que os bancos brasileiros querem viver de "especulação" e das "taxas de juros do governo". "Não é correto, não é possível", afirmou o presidente, durante entrevista à TV 247.

Sem o arcabouço fiscal, e com o governo ainda na ofensiva contra o nível da Selic, o mais provável é que, amanhã, o comunicado do BC não traga muita novidade, o que reforça a expectativa para a ata do Copom, na semana que vem. Amanhã, atenção também para a deliberação do comitê de política monetária do Federal Reserve sobre a taxa de juros de referência dos Estados Unidos, com expectativa majoritária para alta de 25 pontos-base. "O mais provável é que o Fed trará um aumento de 25 pontos-base, levando em conta que é preciso ancorar ainda as expectativas de longo prazo", diz Paulo, da Manchester.

"Tanto o dólar como a Bolsa operaram perto da estabilidade, com pouca volatilidade. Desde os últimos acontecimentos relacionados a bancos, cresceu a expectativa sobre a orientação das políticas monetárias, sobre para onde os BCs estão indo, com a percepção dos agentes econômicos de que o nível de juros já afetou a economia e o sistema financeiro, com a escassez de crédito, que traz desaceleração da atividade e resulta em precificação de corte de juros mais à frente", diz Matheus Willrich, especialista em renda variável da Blue3 Investimentos.

Assim, com poucos fatores de estímulo ao apetite por risco, no recorte das últimas 10 sessões, iniciado em 8 de março de forma positiva, com ganho de 2,22% a 106,5 mil pontos, o Ibovespa acumula retração em torno de 5,5 mil pontos, oscilando na faixa em torno de 101 a 103 mil desde o dia 10, nos fechamentos – ontem, testou o nível de 100 mil, ao encerrar a 100.922,89 pontos, e hoje se manteve aos 100.998.

Na ponta do Ibovespa nesta terça-feira, destaque para Alpargatas (+3,44%), Yduqs (+3,38%), Fleury (+3,36%) e Petz (+3,31%), com Locaweb (-5,97%), Carrefour Brasil (-4,20%), CSN Mineração (-4,05%) e Raízen (-3,64%) no lado oposto.

Eletrobras encerrou o dia em baixa (ON -3,48%, PNB -3,37%, mínima do dia no fechamento), após o presidente Lula ter voltado a se queixar da privatização da empresa, processo ao qual o mandatário se referiu como um "crime". O presidente criticou também a norma que determinou que a União tem limitação do poder de voto, de no máximo 10% em assembleias de acionistas, embora possua mais de 40% dos papéis com direito a voto. E disse que espera que, um dia, o Brasil volte a ser dono de sua "maior" empresa de energia.

*com Giordanna Neves e Sofia Aguiar

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