Após ter retomado na quarta-feira, 18, a trajetória positiva que se estendeu de meados de junho para a primeira quinzena de julho, o Ibovespa colheu hoje a segunda perda do mês em curso, em realização de lucros mais aguda do que a de anteontem, quando havia cedido 0,16%. Na sessão, oscilou dos 127.522,81 aos 129.453,81 pontos, e encerrou em baixa de 1,39%, aos 127.652,06 pontos, com giro a R$ 20,6 bilhões. Na semana, o Ibovespa passa hoje a terreno negativo (-0,97%), reduzindo o ganho acumulado no mês a 3,02% – no ano, o índice recua 4,87%. Em porcentual, a perda desta quinta-feira foi a maior desde o fechamento de 12 de junho (-1,40%).
Com o sinal trocado em relação ao de ontem, o dia foi de perdas bem distribuídas pelas ações de maior peso e liquidez, à exceção de Petrobras ON (+0,12%). Vale ON, como ontem, seguiu em baixa, hoje de 0,94%, enquanto entre as ações de grandes bancos as quedas chegaram a 1,88% em Bradesco ON e PN no fechamento desta quinta-feira. Na ponta perdedora, Marfrig (-9,08%), BRF (-7,88%), Azul (-7,87%) e Magazine Luiza (-5,87%). No lado oposto, além de Petrobras ON, apareceram apenas outros três nomes – dos 86 da carteira Ibovespa – que conseguiram avançar na sessão: Embraer (+1,48%), Weg (+0,74%) e RaiaDrogasil (+0,20%).
"Depois de várias semanas de lua de mel, o mercado entrou hoje em modo de realização de lucros um pouco mais forte. Fatos tanto externos como internos pesaram na sessão", diz Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos.
"Houve abertura na curva de juros dos Treasuries com a incerteza eleitoral nos Estados Unidos, que traz efeitos globais, além de dados econômicos um pouco mais fortes com impacto no que se espera do Fed, que vinha sinalizando cortes na taxa de juros a partir de setembro. Aqui, o risco fiscal também prossegue, enquanto se espera a confirmação de bloqueios e contingenciamentos". Ou seja, em quanto esta conta ficará quando se demanda equilíbrio orçamentário do setor público.
Dessa forma, em dia de pressão tanto na ponta curta como na longa dos DIs, as ações de empresas varejistas e de setores mais sensíveis aos juros estiveram entre as maiores perdedoras da sessão, destaca Moliterno. Assim, o índice de consumo fechou em baixa de 2,90%, em correção bem superior à registrada pelo de materiais básicos (-1,60%), mais correlacionado ao exterior.
"Foi o primeiro dia de correção mais intensa do Ibovespa depois de muito tempo, vindo recentemente de uma sequência de 11 altas, o que trouxe agora o índice para baixo dos 128 mil pontos. O processo é até natural, mas há alguns pontos de atenção", diz Matheus Spiess, analista da Empiricus Research. "O ambiente global começa a mudar, mais avesso a risco: se ontem houve rotação de ações o que beneficiou o Dow Jones, em Nova York, isso não aconteceu hoje. Dia negativo globalmente, o que se espraia ao Brasil – que tem seus próprios problemas, refletidos em especial na pressão sobre o real", acrescenta.
Nesta quinta-feira, o dólar à vista fechou em alta de 1,90%, a R$ 5,5881. "O nome do demônio, aqui, continua o mesmo: a situação fiscal, que implica também a exigência de prêmios maiores na curva de juros", observa o analista, que considera que a cautela com relação aos ativos domésticos tende a permanecer até que se conheça o relatório bimestral de despesas e receitas, no dia 22 de julho.
"Se colocar na balança, o doméstico tem pesado mais do que o global no momento. Há mais incerteza externa, com o processo eleitoral nos Estados Unidos começando a ganhar proeminência, o que reduz um pouco aquele otimismo com a perspectiva de cortes de juros nos Estados Unidos, pelo Federal Reserve, a partir de setembro", diz Gustavo Harada, chefe da mesa de renda variável da Blackbird Investimentos. "Mas há uma temporada de balanços para começar no Brasil, o que pode tirar parte do foco no macro se os números trimestrais corresponderem", acrescenta Harada, destacando existir espaço para uma correção maior do Ibovespa, até o suporte dos 126,3 mil pontos, enquanto fatores como a incerteza fiscal prevalecerem.
"O Ibovespa tem mostrado recuperação relevante, que o reaproximou dos 130 mil pontos um nível não visto em fechamento desde 28 de fevereiro, e teve hoje uma correção mais acentuada. Na região de preço já trabalhada, era de se esperar mesmo uma correção mais agressiva", diz Alex Carvalho, analista da CM Capital, destacando em especial a queda das ações de frigoríficos na sessão, após a descoberta de um foco de doença avícola no Rio Grande do Sul, confirmado na noite de ontem pelo Ministério da Agricultura.
Após a confirmação de foco, as exportações de frango do Brasil devem sofrer embargos temporários e parciais, segundo fontes que acompanham o tema, reporta de Brasília a jornalista Isadora Duarte, do <i>Broadcast</i>. Interlocutores afirmam que o protocolo sanitário da doença de Newcastle é semelhante ao da influenza aviária.
Fontes consideram que o Japão tende a impor restrições sobre o frango proveniente do Rio Grande do Sul. Não estão descartadas também eventuais restrições por parte da China. Contudo, a detecção de foco da doença Newcastle em uma granja comercial de frangos em Anta Gorda, no Rio Grande do Sul, deve ter impacto limitado sobre as empresas do setor cobertas pelo Citi, avaliou o banco em comunicado. Em um cenário realista, Japão e Arábia Saudita poderiam proibir a importação de frango do Estado, o que reduziria as exportações do Brasil em cerca de 2%, aponta o Citi.
Em um cenário pessimista, China, México e Coreia do Sul também suspenderiam a importação, já que esses países têm produção doméstica significativa. Nesse caso, as exportações brasileiras seriam reduzidas em cerca de 4,5%, afirmou o banco, acrescentando que o Rio Grande do Sul é responsável por cerca de 10% da produção brasileira de frango e 14% das exportações.