Pablo Iglesias surgiu há três anos como principal nome da esquerda na política espanhola. Com um discurso forte e contra as elites, ajudou a fundar o Podemos, partido que pretendia desbancar o tradicional Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), de Pedro Sánchez, e se consolidar no cenário nacional, fazendo oposição ao PP (Partido Popular).
Depois de um início promissor em 2015, quando obteve 69 cadeiras das 350 do Congresso espanhol, a legenda sofreu uma grande crise interna e vários integrantes importantes do partido acabaram saindo. Após três meses de licença-paternidade, Pablo só retornou à vida política em março e assumiu o Podemos em meio a uma crise que não parece ter fim.
Cabe agora ao ex-professor de ciências políticas da Universidade Complutense de Madri manter a credibilidade do partido perante o público estudantil, maioria de seu eleitorado. “O Podemos deu uma escorregada e se deixou levar pela soberba. De qualquer maneira, acho que eles ainda têm as melhores propostas para a cultura e a educação, meus principais critérios na hora de votar”, diz Borja Gonzales, de 28 anos, estudante de ciências sociais.
“O PSOE é uma coisa ultrapassada. Mesmo discordando de muitos pontos do plano de governo do Podemos, creio na força do Iglesias como líder”, afirma Enrique Julio, de 29 anos, estudante de administração.
Desde o início do ano, o Podemos tem vivido uma de suas maiores crises, depois que Íñigo Errejón – que era peça-chave do partido – decidiu sair para liderar o partido Más Madrid. Ele disse que estava saindo porque não o desejavam lá nem deixavam que desenvolvesse seus projetos. Seguiu-se um terremoto na legenda que levou à saída de Ramón Espinar, homem forte de Iglesias em Madri, e a do ex-candidato às eleições europeias Pablo Bustinduy – partidário de Errejón.
Apesar do prestígio no mundo estudantil, as pesquisas mais recentes de intenção de voto apontam que o Podemos pode perder mais da metade das atuais 71 cadeiras do Parlamento. A situação se agravou depois que o partido se negou a fazer um acordo com o PSOE para a formação do governo, o que resultou na convocação de novas eleições.
Para Miguel Anxo Bastos, professor de ciências políticas e sociais da Universidade de Santiago de Compostela, o Podemos foi do céu ao inferno em apenas alguns anos de existência. “Esperava-se que na votação de 2016 houvesse um aumento da base de eleitores. Isso não ocorreu e o conservador PP, que era governo na época, foi fortalecido. Isso causou uma tensão interna e parte da direção fundadora do partido pediu para sair. Iglesias, portanto, se consolidou como líder. O Podemos chegou com força no cenário político espanhol. Ele era o predileto dos estudantes. Mas depois da crise interna essa popularidade caiu drasticamente”, afirma Bastos.
Apesar de estarem em lados opostos, o ultradireitista Vox e o Podemos são fundamentais para definir o futuro da Espanha nas eleições de amanhã. Pesquisas apontam que o PSOE vai obter cerca de 30% dos votos e garantir mais de 100 deputados. Mas, para obter maioria absoluta, ele necessitaria de 176 das 350 cadeiras do Parlamento. Uma aliança possível do PSOE é com o Podemos, que foi fundamental para que Sánchez se tornasse presidente do governo, em junho de 2018, graças ao apoio à moção de censura contra Mariano Rajoy (PP). Mas o partido de Iglesias não esteve ao lado de Sánchez na aprovação da proposta de Orçamento e novas eleições foram convocadas.
Outra incógnita é o resultado do opositor PP, que até agora é o partido majoritário, com 134 cadeiras, mas disputa o voto da direita com Vox e Ciudadanos. “A política espanhola está mais fragmentada. Há mais de duas opções e o Vox terá força nacional pela primeira vez. Os resultados são incertos. Não dá para garantir nada”, disse Bastos.
Um ano e meio depois da proclamação de independência da Catalunha, em 27 de novembro de 2017, a questão dominou a campanha eleitoral, com os três partidos da direita – PP, Ciudadanos e Vox – pedindo o voto contra o que consideram uma intenção de Sánchez de conceder mais poder aos “separatistas” catalães. Os três apresentaram propostas para suprimir poderes governos regionais e parlamentos autônomos. Sánchez, por sua vez, tentou evitar a questão separatistas em sua campanha e rejeitou incluir em seu programa eleitoral a proposta de negociação com o governo da Catalunha.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.