O jornalista, escritor e terapeuta Roberto Freire se emocionou quando o aluno de mestrado em Comunicação Social perguntou se o “Brasil, Urgente”, do qual ele participou com paixão, poderia ser visto como uma rara experiência de Jornalismo de Ideias, dentro da cultura brasileira. Aquele jornal nascera por iniciativa de um grupo de católicos de São Paulo estimulados pelas encíclicas do papa João XXIII a lutar por Justiça Social no Brasil, nas vésperas do Golpe Militar de 1964. A resposta contundente foi dada por Roberto Freire quando o regime autoritário implantado depois do Golpe Militar ainda vigia, havia 16 anos. Ela desvenda a maneira como Roberto viu o Jornalismo. Vale a pena recuperá-la, agora, aqui.
Disse Roberto: “Na minha vida acho que nunca me senti tão combatente como no ‘Brasil, Urgente’. Era, realmente, uma guerra contra tudo e todos, mas calcada numa grande necessidade de justiça. Aos poucos, fomos chegando ao desespero porque não tínhamos dinheiro, papel, colaboradores. E as bancas se recusavam a vender nossos exemplares. Foi pela combatividade que o ‘Brasil, Urgente’ se caracterizou. O sistema político-econômico permite a existência deste tipo de publicação por algum tempo. Depois há um corte. Especialmente quando se trata de um jornal de ideias que não está filiado a nada. Os jornais políticos que existiram no Brasil foram sempre de organizações, nunca jornais de ideias. Este tipo de jornal é inviável, contudo a iniciativa de criá-lo é absolutamente necessária. Enquanto o Jornalismo não for frequentemente catalisado, estimulado, desafiado, por iniciativas desta natureza, ele tenderá a ser apenas um Jornalismo que visa lucro, ou, um Jornalismo de apoio, de valorização de coisas já acabadas e prontas. Um Jornalismo inovador, de criações, desafios, pesquisa, debates precisa estar desvinculado. Ele não dura. Estes jornais acabam sendo destruídos. Mas, o tempo que duram desafiam terrivelmente as organizações de esquerda e de direita. Para mim, o fato de não existir, hoje, no Brasil um jornal independente nos leva a viver com esta imprensa parada, cansada”.
Roberto Freire morreu no dia 23 de maio de 2008.