A depreciação cambial foi determinante para o avanço dos três estágios da inflação do atacado no âmbito do Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) de setembro, que passou de 0,28% em agosto para 0,95% este mês, avaliou nesta terça-feira, 29, o economista André Braz, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV). “No IPA, que tem o maior peso, houve aceleração nos três principais estágios de processamento. E não foram acelerações discretas. Tem claro efeito da desvalorização do câmbio”, disse, ao referir-se ao Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), que mede a inflação no atacado, e que ficou em 1,30% (ante 0,20%), e tem peso de 60% na composição do IGP-M.
A alta de 0,95% do IGP-M de setembro superou o teto das expectativas do AE Projeções, que era de 0,91%. O piso era de 0,71%, com mediana de 0,79%. Com o resultado, o IGP-M acumula variação de 6,34% no ano e de 8,35% em 12 meses até setembro. Esta taxa é a mais elevada desde julho de 2011 (8,36%). Segundo Braz, a taxa em 12 meses pode romper 9% na leitura de outubro, já que no décimo mês de 2014 o IGP-M fora de 0,28%. Já a taxa mensal pode girar em torno da marca de 0,95% apurada em setembro. Segundo ele, efeitos cambiais mais significativos nos IGPs vão depender da definição do cenário político e da resistência ou não da economia em aceitar tais repasses.
De agosto para setembro, as matérias-primas brutas saíram de uma taxa de 0,64% para 2,26%. Neste caso, Braz citou com exemplo a alta de 0,84% em minério de ferro, depois da queda de 3,36%, a elevação de 6,96% da laranja (ante 1,19%), a taxa positiva de 0,10% em bovinos (ante queda de 2,92%), o aumento de 2,20% do trigo, na comparação com recuo de 0,60%, e da soja, com elevação de 5,84% (ante 5,76%). “E devem continuar captando os efeitos do dólar alto”, estimou.
Dentre as pressões em bens intermediários (de 0,80% para 1,36%), o economista da FGV citou a inflação de 1,81% em ração, depois de uma elevação de 0,42%, e a alta de 6,92% em adubos e fertilizantes compostos, após 4,67%. “O IPA está cercado de pressões (do câmbio) que começam no início da cadeia e vão até bens finais”, reforçou.
Outro segmento que sentiu os reflexos do dólar mais alto, que teve valorização de 9% entre agosto e setembro, conforme a FGV, foram os bens finais (de queda de 0,76% para alta de 0,47%). “Não tem só efeito do dólar, tem alimentos, especialmente in natura, que deram impulso para a aceleração e não tem câmbio. Tem ainda impacto da parte de produtos processados (de 0,16% para 1,39%), que é onde se percebe tais efeitos”, avaliou. A taxa de alimentos em geral passou queda de 2,10% para alta de 0,74%, enquanto a dos in natura saiu de retração de 8,51% para baixa de 1,28%.
A batata-inglesa e o feijão foram os alimentos in natura que mais pressionaram a inflação no atacado, ao registrarem 14,91% (ante 31,12%) e 3,52% (ante queda de 7,11%), respectivamente. “São itens que pressionaram os bens finais e não tem impacto de dólar”, considerou.
Na categoria de itens processados, o destaque foi a carne bovina (de 0,68% para 2,83%), o óleo de soja (de baixa de 2,50% para alta de 3,39%). De acordo com o economista do Ibre/FGV, enquanto o dólar caro tende a elevar as exportações, também acaba por diminuir a oferta interna, o que encarece o produto. “E já em um momento em que o preço normalmente sobe por causa das festas de fim de ano. Isso tudo vai ajudar a pressionar mais o preço da carne”, disse.
Além da carne bovina, o frango inteiro (de 0,78% para 4,11%) também encareceu em setembro. “São repasses (câmbio) que ainda não se concluíram totalmente. Devem continuar em outubro”, estimou. “A dúvida que fica é se vai aumentar ainda mais (o impacto), dada a economia mais fraca”, completou.