A Prefeitura de São Paulo e a Igreja Católica defenderam nesta segunda-feira, 16, o uso de alimento granulado como uma espécie de suplemento à população carente para ajudar no combate à fome e ao desperdício de comida. Apresentada pelo prefeito João Doria (PSDB) no lançamento do programa Alimento para Todos, na semana passada, a proposta foi criticada pelo Conselho Regional de Nutricionistas.
Secretária municipal de Direitos Humanos, Eloisa Arruda comparou o produto, feito pela empresa Plataforma Sinergia e chamado de “farinata”, ao suplemento Whey Protein, feito com proteína do soro de leite e usado por frequentadores de academia. “O rico tem direito a suplemento alimentar. O menino que faz ginástica compra Whey, idosos compram o leite sênior e pagam caro. Nosso objetivo é eventualmente aproveitar alimentos para transformá-los em suplementos alimentares para juntar com alimento in natura e fornecer à população.”
A Prefeitura reforçou que a elaboração da política está em debate e que não haverá distribuição generalizada do produto, que servirá de complemento nutricional. Afirmou ainda que, se for distribuído, não será entregue como granulado, mas acrescentado ao preparo de pães e bolos, por exemplo.
No lançamento, Doria exibiu uma versão granulada da farinata em forma de biscoito. Nas redes sociais, o produto foi chamado de “ração”. Em nota, o conselho de nutricionistas disse que o produto “contraria os princípios do Direito Humano à Alimentação Adequada” e está “em total desrespeito aos avanços” obtidos nas últimas décadas na segurança alimentar.
Reação
Defensor da farinata, o arcebispo de São Paulo, cardeal d. Odilo Scherer, disse que ela “não é a pílula da fome”, mas uma “possibilidade alimentar” para ajudar no combate à desnutrição, ao desperdício e a reduzir os danos causados pelo descarte de alimentos. “Seria uma pena uma coisa que nasce para ser boa acabar abortada por manipulação política ou desinformação, prejudicando os mais pobres”, disse ele, que enviou carta ao papa, em 2013, pedindo bênção ao projeto.
Fundadora da Sinergia, Rosana Perrotti explicou que a tecnologia é avançada e prolonga a vida útil dos alimentos transformando-os em pó. “A prioridade é o combate à fome e à desnutrição em situações de catástrofe. Aqui é possível que o próprio programa aumente as doações de alimentos in natura e nem precisemos transformá-los.”
O Ministério do Desenvolvimento Social, responsável por programas federais da área, afirmou não conhecer o produto. Já o da Saúde disse que municípios são autônomos para implementar políticas.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.