Consumidores dispostos a aderir aos substitutos da carne convencional, os flexitarianos, já equivalem a um quarto (26,5%) das pessoas em grandes centros urbanos no Brasil, Argentina e Uruguai. Proporcionalmente, Argentina (37,3%) e Uruguai (35%) têm mais flexitarianos do que o Brasil (17%), mas há mais brasileiros dispostos a experimentar opções alternativas à carne, mostra pesquisa encomendada pela representação no Brasil do Instituto Interamericano de Cooperação para Agricultura (IICA) conduzida em São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador; em Buenos Aires, Rosário e Córdoba, na Argentina, e em Montevidéu, no Uruguai.
Os flexitarianos ou semivegetarianos são as pessoas dispostas a mudar os hábitos alimentares e a cortar ou reduzir o consumo de proteína animal com objetivos como cuidar da saúde, do meio ambiente e do bem-estar animal. Entre os grupos que consomem carne bovina, suína, ovina ou caprina, 26,5% estão reduzindo o consumo, 41,5% estão tentando reduzir, enquanto 32% não estão tentando reduzir.
Onívoros (cuja alimentação inclui todos os grupos de alimentos) são a maioria dos consumidores nos locais de condução da pesquisa (64,25%), enquanto 6,5% se declararam vegetarianos (restringem proteína animal na alimentação), 2%, veganos (evitam qualquer contato com proteína animal) e 0,8% pescatarianos (que se abstêm de comer carne animal à exceção de peixes).
"A carne não é vista como algo ruim, mas colide com o matar para comer, que começa a se instalar, mas ainda sem ser central na maioria da população. A substituição da carne começa a ser considerada como uma opção onde o seu sabor é, talvez, um valor central que explica o hábito em torno deste alimento", avalia Mario Riorda, pesquisador e consultor para governos da América Latina, que é também diretor do curso de mestrado em Comunicação Política da Universidade Austral, na Argentina. Ele coordenou a pesquisa conduzida entre 31 de dezembro de 2021 e 24 de janeiro de 2022, encomendada por Gabriel Delgado, coordenador da região Sul do Instituto Interamericanos de Cooperação para a Agricultura e representante do IICA no Brasil.
"Somos países produtores de carne. Esta questão das mudanças dos hábitos alimentares envolvendo o consumo de proteína animal está muito relacionada à nossa economia, cultura e às nossas vidas. Por isso, tudo o que está acontecendo em termos de novos hábitos de consumo de carne, sobretudo entre as novas gerações, precisa ser acompanhado, já que se trata de uma mudança cultural muito profunda. Temos que acompanhar a percepção dos consumidores com relação ao consumo de proteína animal, ao cuidado com o meio ambiente e acompanhar também como se desenvolve a indústria emergente de proteínas alternativas, de carnes vegetais, de bioprodução de tecidos em biorreatores, entre outras técnicas", pondera Delgado.
Um destaque do levantamento é a menor probabilidade de comer produtos à base de plantas ou produtos vegetais em vez de carne entre pessoas com mais de 40 anos: 37,8% dos pesquisados expressaram probabilidade total ou parcial de consumir produtos vegetais cujo sabor é praticamente igual ao da carne.
Dos entrevistados, 73,6% expressaram probabilidade total ou parcial de experimentar a chamada carne limpa , aquelas produzidas em laboratório a partir de células extraídas de animais. Entre eles, 62,6% expressaram probabilidade total ou parcial de comprar carne limpa regularmente. Por país, o Brasil, com 73,8%, está acima da Argentina, com 63,2%, e do Uruguai, com 61,6%. Já as pessoas com mais de 60 anos possuem maior resistência em testar a proteína desenvolvida em laboratório.
Com relação a produtos alternativos à base de plantas, 61,2% dos entrevistados expressaram probabilidade total ou parcial de experimentar e 63,2% dos entrevistados expressaram probabilidade total ou parcial de consumir produtos vegetais ou vegetais em vez de carne. Neste caso, o Brasil com 70,8%; Argentina com 56,9% e o Uruguai com 50,1%.