O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, evitou nesta quinta-feira, 10, comentar individualmente cada medida de aumento de receitas proposta pelo governo, mas destacou a importância de se cumprirem as metas fiscais colocadas no projeto de arcabouço fiscal. "A política fiscal afeta muito a taxa neutra de juros, por isso é importante a aprovação de medidas que façam o País atingir a meta fiscal. Se conseguirmos atingir metas fiscais, a taxa de juros vai ser menor", afirmou, em arguição pública no plenário do Senado. "Nosso objetivo é abrir caminho para a queda consolidada de juros", completou.
Segundo Campos Neto, é importante cortar gastos, mas ele reconheceu que boa parte da despesa federal é indexada. "As medidas fiscais são importantes para abrir caminho para uma queda consolidada do juro. Estou de acordo que temos de correr atrás do equilíbrio fiscal", acrescentou.
O presidente do Banco Central reconheceu que o Brasil tem feito um esforço fiscal, mas afirmou que o gasto real do governo brasileiro ainda é muito superior ao da média mundial. "O Brasil gasta bastante mais em termos reais comparado com outros países. Isso ajuda um pouco a explicar essa desancoragem gêmea . Eu digo que vou baixar a inflação e o mercado não acredita, e o governo diz que fará um fiscal melhor e o mercado também não acredita", afirmou.
Para Campos Neto, com as medidas de receitas propostas pelo governo para ancorar melhor o fiscal, o BC também conseguirá uma reancoragem melhor das expectativas de inflação. "Para atingir a meta (de primário), precisamos de bastante receita. À medida que as receitas forem entrando, acredito que teremos não só uma convergência fiscal, com uma convergência monetária", completou.
Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) optou por iniciar o ciclo de afrouxamento monetário com uma queda de 0,50 ponto porcentual dos juros básicos, para 13,25% ao ano, o que surpreendeu uma parte do mercado, que apostava majoritariamente em uma queda mais "parcimoniosa", de 0,25 ponto. O colegiado sinalizou ainda a manutenção desse ritmo de cortes nas próximas reuniões.
<b>Agências de risco</b>
O presidente do Banco Central comemorou os elogios feitos à autonomia e à atuação da instituição no reconhecimento internacional à melhora da economia brasileira. Ele citou relatórios do Fundo Monetário Internacional (FMI) e de agências de classificação de risco – como a S&P, que elevou para positiva a perspectiva para o Brasil, e a Fitch, que aumentou a nota de crédito do país.
"O reconhecimento internacional do País tem participação do Banco Central. A capacidade do BC em gerir a crise com autonomia tem sido reconhecida. Temos muito pela frente, mas temos atingido um pouso suave (da inflação)", afirmou Campos Neto.