Vários meios internacionais destacaram o fato de que o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, foi recebido nesta semana pelo colega brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva. Foram reportados também os questionamentos a declarações de Lula, pelos líderes de Chile e Uruguai, e potenciais implicações para a política dos EUA na região.
Na avaliação da <i>Bloomberg</i>, a visita de Maduro é "um revés para a estratégia dos EUA de isolamento". Ela aponta que o líder venezuelano defendeu um mundo "multipolar", em sua primeira viagem internacional em sete meses. E vê ainda a região "dominada por esquerdistas que estão novamente se engajando com Caracas".
O <i>Washington Post</i> reportou sobre a cúpula latino-americana e questionava em título o motivo de Lula apoiar Maduro, após na campanha eleitoral brasileira ter "prometido salvar a democracia". O diário americano apontou que o líder brasileiro "não apenas recebeu Maduro para um encontro regional em Brasília, mas tomou o lado dele contra Washington". O <i>Post</i> nota que o presidente brasileiro minimizou como "narrativas" os abusos contra direitos humanos pelo regime venezuelano e condenou sanções dos EUA contra seu governo como "piores que uma guerra". O jornal considerou que o encontro de líderes latino-americanos deixou claro o fracasso dos EUA em tentar depor Maduro e sinalizou uma "recalibragem política da América latina". Após a derrota de lideranças conservadoras, nomes mais à esquerda, "com graus variados de entusiasmo, ou apoiaram Maduro ou ao menos reconheceram que ele não vai a lugar nenhum tão cedo", diz o jornal.
Já a <i>Deutsche Welle</i> qualificou Maduro como "visto como um líder controverso internacionalmente". O meio alemão nota a diferença de tratamento com o governo anterior do Brasil, sob Jair Bolsonaro, que havia cortado laços com o governo venezuelano e reconhecido o oposicionista Juan Guaidó como líder legítimo do vizinho. A emissora pública alemã destacou a recepção calorosa e a intenção da atual administração brasileira de reverter a política externa anterior.
Ao reportar o encontro, a <i>BBC</i> apontou que muitos países "questionam a legitimidade" de Maduro e que os oposicionistas o descrevem como "um ditador". A emissora britânica destacou o fato de que o presidente da Venezuela busca apoio em toda a região para, como um bloco, se opor às sanções dos EUA, mas a <i>BBC</i> considera que não está claro se isso poderia levar a uma mudança de posição do governo Joe Biden.
Na Argentina, o <i>Clarín</i> destacou o fato de que o presidente Alberto Fernández também se reuniu com Maduro e voltou a pedir o fim de sanções internacionais contra a Venezuela. O mesmo jornal mencionava críticas da oposição e de entidades de direitos humanos. O <i>Clarín</i> ainda destacava o fato de que, "com seus matizes", todos os governos da região normalizavam vínculos com o governo chavista. Brasil, Uruguai e Chile decidiram enviar embaixadores a Caracas, "onde antes não os tinham como forma de rebaixar a relação", aponta. O mesmo jornal destacava o fato de que o presidente chileno, Gabriel Boric, e o uruguaio, Luis Lacalle Pou, rebateram a fala de Lula sobre o que acontece na Venezuela ser uma "narrativa".
No mesmo <i>Clarín</i>, o pré-candidato de extrema-direita qualificava Lula como um "esquerdista selvagem que apoia ditadores com as mãos manchadas de sangue". O chileno <i>La Tercera</i>, por sua vez, apontava que Boric celebrou a volta da Venezuela a instâncias multilaterais, mas também complementou que isso não significa "fazer vista grossa" ante denúncias de violações aos direitos humanos.