Milhares de imigrantes na ilha grega de Lesbos ficaram sem abrigo nesta quarta, 9, depois de dois incêndios destruírem Moria, o maior e mais decadente campo de refugiados da Grécia. Todo o local abrigava pelo menos 12 mil pessoas – quase todos desabrigados, segundo autoridades locais.
Principal entrada de migrantes na Grécia, a ilha de Lesbos, no Mar Egeu, com uma população de 85 mil habitantes, mergulhou em uma crise sem precedentes. O serviço grego de Proteção Civil declarou "estado de emergência".
O primeiro-ministro grego, Kyriakos Mitsotakis, expressou "tristeza pelos incidentes" e sugeriu que o desastre pode ter ocorrido em razão das "reações violentas contra os controles de saúde", após o registro de 35 casos de covid-19 no campo.
A agência de notícias <i>ANA</i> e o <i>New York Times</i> confirmaram a informação com fontes anônimas, segundo as quais os incêndios foram provocados durante a madrugada por imigrantes revoltados com as medidas de isolamento determinadas pelas autoridades sanitárias. Depois, durante a tarde de ontem, novos focos foram registrados no acampamento. Notis Mitarachi, ministro grego da Imigração, disse ontem que os responsáveis pelos incêndios não ficarão impunes.
Há anos grupos de direitos humanos advertem as autoridades sobre as condições miseráveis do acampamento, prevendo um desastre humanitário. Segundo a imprensa grega, homens, mulheres e crianças saíram às pressas das barracas de campanha e dos contêineres durante a madrugada.
Alguns se refugiaram em campos de oliveiras. "O setor mais importante do centro de registro de identificação dos imigrantes foi completamente destruído e muitas pessoas estão sem casa", disse o vice-ministro de Migração, Georges Koumoutsakos.
Além da parte principal, que abrigava 4 mil pessoas e instalações administrativas, o campo de Moria se estende por olivais vizinhos, onde cerca de 8 mil pessoas vivem em barracas de campanha – que também pegaram fogo. "Foram registrados vários incêndios no acampamento e as chamas nos cercaram muito rapidamente. Foi uma operação muito difícil", disse o comandante dos bombeiros da região, Konstantinos Theofilopoulos.
Desde 2015, Moria recebe imigrantes – nos últimos tempos, principalmente refugiados afegãos – que tentam entrar na Europa para fugir de guerras ou para escapar da pobreza. O acampamento era uma instalação projetada para abrigar 3 mil pessoas, mas já chegou a ter 20 mil, em 2016, quando a Europa começou a bloquear a entrada de refugiados.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, declarou que a União Europeia estão "disposta a ajudar" e anunciou que assumiu a transferência imediata de 400 crianças e adolescentes para a Grécia continental.
O governador da Renânia do Norte-Vestfália, no oeste da Alemanha, Armin Laschet, disse que estava disposto a admitir até mil refugiados. O ministro alemão das Relações Exteriores, Heiko Maas, pediu aos países da UE que cuidem dos imigrantes após "catástrofe humana".
Ontem, porém, a maioria dos refugiados e imigrantes estava sentada na estrada que liga o acampamento ao Porto de Mitilene, formando filas de até 3 quilômetros. "O que vamos fazer agora? Para onde podemos ir?", perguntava o afegão Mahmout. Com ele, sua compatriota Aisha procurava pelos filhos. "Dois estão ali, mas não sei onde estão os outros."
De acordo com os bombeiros, o incêndio não causou mortes, "mas algumas pessoas estão levemente feridas, com problemas respiratórios". Horas depois, uma grande nuvem de fumaça escura ainda podia ser vista sobre o acampamento. "Não existe mais Moria, foi destruído", afirmou o vice-governador regional, Aris Hatzikomninos.
Desde do começo de março, medidas rigorosas foram impostas nos acampamentos de imigrantes na Grécia. ONGs de defesa dos direitos humanos criticaram as iniciativas, alegando se tratar de uma política "discriminatória" contra os refugiados.
<b>Problemas</b>
Na semana passada, as autoridades gregas detectaram o primeiro caso de coronavírus no campo de Moria, que leva o nome de um vilarejo próximo. O doente foi colocado em quarentena.
Além da superlotação, o acampamento é conhecido por sua falta de higiene. Distúrbios e confrontos são quase diários. De janeiro a agosto, cinco pessoas foram esfaqueadas. Em março, uma menina morreu em um contêiner queimado. Em setembro de 2019, duas pessoas morreram em outro incêndio. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>