Estadão

Incertezas internas impedem Ibovespa de seguir alta externa

O mês de dezembro começou com o Ibovespa em queda, indicando que o rali de fim de ano não será fácil. Nem mesmo a alta do petróleo, em meio ao avanço do relaxamento de restrições contra a covid-19 na China, e das bolsas do ocidente após dados dos Estados Unidos anima.

"Começou mal, mas pode melhorar", afirma Edmar de Oliveira, operador da mesa de renda variável da One Investimentos, para quem o recuo do índice Bovespa sugere ser mais um ajuste à alta na véspera.

Outro ponto que pesa é a que a divulgação de nomes para a Economia no futuro governo ficará para semana que vem, assim como espera-se a conclusão da PEC da Transição. Além disso, o Produto Interno Bruto (PIB) fraco do Brasil no terceiro trimestre não ajuda. O PIB cresceu (0,4%) ante o segundo trimestre, menos do que a mediana de 0,6% das estimativas na pesquisa Projeções Broadcast.

Na B3, as ações ligadas ao ciclo econômico reagem negativamente, ao passo que os juros futuros avançam.

"O PIB decepcionou um pouco. Por mais que se esperasse desaceleração, o mercado está aguardando notícias positivas, dado o numero de negativas notícias. O que mais surpreendeu é a parte de serviços, que continuou crescendo, enquanto o agro teve resultados ruins pela dinâmica do setor", avalia Oliveira, da One.

Para Gustavo Cruz, economista e estrategista da RB investimentos, "a grande decepção talvez tenha sido o agronegócio.". O PIB do agro caiu 0,9% no terceiro trimestre ante o segundo, tendo o maior recuo desde o período de julho a setembro de 2021 (-5,6%).

Apesar do PIB mais fraco que o esperado e por se tratar-se de um dado do passado , Cruz ainda não vê motivos para mudanças consideráveis nas projeção de crescimento do País. "Entendo que estamos olhando para o retrovisor, mas sabemos que do segundo trimestre para o terceiro houve enfraquecimento da atividade", diz.

"O quarto trimestre deve rondar a estagnação, talvez algo mais fraco do que o projetado lá atrás. Porém, não significa que provocará grandes revisões nas projeções, pois boa parte do que será feito em 2023 ainda está indefinido pelo governo de transição", afirma o economista da RB.

Ontem, o índice Bovespa subiu 1,42%, aos 112.486,01 pontos. "Fechou muito próximo do objetivo de ultrapassar os 113 mil pontos, quando pode ganhar maior tração", observa em nota o economista Álvaro Bandeira. O ganho veio na esteira da sinalização do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), de que a PEC da Transição terá de ser desidratada para passar no Congresso Nacional.

Mas foi mesmo a clara indicação do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), Jerome Powell, de que os juros poderão subir menos já em dezembro, que animou.
E hoje, saíram novos dados de atividade e de inflação nos EUA.

Os pedidos de auxílio-desemprego no país caíram 16 mil, na semana passada, a 225 mil, ante previsão de 235. Há pouco, saiu o PCE, índice de inflação predileto do Fed, que mostrou alta de 0,3% em outubro ante setembro, com avanço de 0,2% do núcleo do indicador, contra previsão de 0,3%. Os índices futuros de ações norte-americanos sobem, bem como as bolsas europeias.

"O comportamento dos mercados continua refletindo o otimismo com a relação a reabertura da economia chinesa e a sinalização de que o banco central norte-americano vai moderar o ritmo de alta dos juros", resume em comentário matinal o economista-chefe do BV, Roberto Padovani.

Na B3, o mercado também avalia o Plano Estratégico 2023-2027 da Petrobras, apresentado ontem à noite, e fica de olho no encontro que a estatal faz hoje com analistas e investidores durante o Petrobras Day. Porém, nem mesmo a alta do petróleo e os números apresentados pela companhia estimulam ganhos das ações da estatal, dada a indefinição quando ao futuro da empresa no novo governo.

Às 11h05, o Ibovespa cedia 0,84%, aos 111.535,88 pontos, após recuar 1,10%, na mínima intradia dos 111.253,87 pontos e abertura em 112.478,68 pontos. Petrobras caía 0,90% (PN) e 0,79% (ON), enquanto Vale ON perdia 0,35%.

Das ligadas ao setor de consumo que estavam entre as maiores quedas estavam Cielo ON (-4,38%), Grupo Soma ON (-4,16%), Magazine Luiza (-4,40%), Lojas Renner (-3,89%).

Tags
Posso ajudar?