Estadão

Indecisos e abstenções devem definir se haverá 2º turno na disputa presidencial

A eleição presidencial deste ano chega à votação em primeiro turno com cenário indefinido, destaca o <b>Estadão</b>. Entre os mais de 156 milhões de eleitores aptos a votar, o grupo de indecisos, o índice de abstenção e o chamado voto útil serão determinantes para a extensão ou não da campanha, iniciada oficialmente em 16 de agosto. Os últimos 46 dias foram marcados pela persistência do quadro eleitoral e da polarização em uma disputa que reúne pela primeira vez na história republicana um presidente contra um ex-presidente.

As pesquisas apontam para um grau elevado de voto consolidado em Luiz Inácio Lula da Silva (PT), líder nos levantamentos, e Jair Bolsonaro, segundo colocado. Números do Ipec (ex-Ibope) e do Datafolha divulgados na noite deste sábado reforçaram o cenário de incerteza.

Na véspera da votação, a vantagem do petista em relação aos votos válidos – os atribuídos apenas aos candidatos, sem contar nulos, brancos e indecisos – é de 14 pontos porcentuais. Lula marcou 51% no Ipec e 50% no Datafolha; o presidente alcançou 37% e 36%, respectivamente. No Agregador de Pesquisas do <b>Estadão</b>, Lula tem 51% das intenções de voto e Bolsonaro, 36%. O segundo turno ocorre quando nenhum candidato consegue atingir a maioria da soma total dos votos computados.

Reduzidos nos levantamentos estimulados, quando se informam os nomes dos candidatos, o índice de indecisos é de 11% dos eleitores na pesquisa espontânea do Datafolha divulgada ontem. E 15% dizem que podem mudar de ideia até a hora do voto.

<b>CRONOLOGIA</b>

O histórico das disputas presidenciais mostra que, em cenários parecidos, houve segundo turno. Em 2002, Lula tinha 50% dos votos válidos no Ibope e 48% no Datafolha. Nas urnas, o petista somou 46,4% dos votos e precisou da segunda fase do pleito para vencer José Serra (PSDB). Em 2006, o petista tinha 49% dos votos válidos no Ibope e 50% no Datafolha. Ele obteve 48,6% nas urnas e foi ao segundo turno contra Geraldo Alckmin, do PSDB – atualmente no PSB e candidato a vice em sua chapa. Em 2010, Dilma Rousseff tinha 51% dos votos válidos no Ibope e 50% no Datafolha. A ex-presidente obteve 46,9% dos votos e enfrentou Serra em nova rodada.

A ocorrência ou não de um segundo turno dependerá, em parte, também do nível de abstenção. O índice de eleitores que não comparecem para votar está mais concentrado no segmento de baixa renda e, por isso, preocupa mais a campanha do PT. Para se ter uma ideia, há quatro anos, conforme dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o nível de abstenção no primeiro turno atingiu 20,3% do eleitorado, o mais alto desde 1998.

Ontem, o corregedor-geral da Justiça Eleitoral, ministro Benedito Gonçalves, indeferiu um pedido da coligação de Bolsonaro para limitar a gratuidade do transporte público na votação de hoje. Segundo o magistrado, "descamba para o absurdo" o argumento da coligação, que tentou comparar a não cobrança de tarifa, "em caráter geral e impessoal", com a organização de transporte clandestino a grupos de eleitores.

<b>VOTO ÚTIL</b>

As pesquisas mostram também o centro político distante dos líderes. Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB), principalmente, não conseguiram se firmar como alternativas na disputa e tiveram de confrontar, nas últimas semanas, a ofensiva da campanha de Lula pelo voto útil (mais informações na pág. A15).

As forças políticas situadas entre Lula e Bolsonaro somam entre 12% e 13% dos votos válidos, conforme as mais recentes pesquisas. Se insuficiente para ameaçar a briga polarizada, esse contingente de votos poderá ser decisivo em um eventual segundo turno. Ontem, durante agenda em São Paulo, Lula fez acenos à formação de alianças futuras. "A gente não tem de ficar com melindre de conversar com quem quer que seja. Nosso barco é que nem a arca de Noé", disse o petista.

As campanhas dos dois candidatos viáveis, que enfrentam índices elevados de rejeição, não conseguiram expandir seus universos de apoios partidários. Filiado ao PL, Bolsonaro se fiou no apoio do núcleo duro de partidos do Centrão, enquanto o petista fechou uma aliança na esquerda. Na reta final, encarnando o candidato anti-Bolsonaro, atraiu apoio de ex-adversários políticos e nomes do Judiciário, além de estreitar o diálogo com empresários, mas sem conseguir concretizar a "frente ampla" almejada.

As discussões programáticas foram deixadas de lado – Lula não apresentou um plano detalhado de governo. Na reta final, o presidente reforçou o acirramento da relação com o ministro Alexandre de Moraes, presidente do TSE, e colocou em dúvidas se aceitaria qualquer resultado das urnas. Ontem, sem citar Moraes, Bolsonaro voltou à carga: "Tem certas pessoas que acham que podem fazer o que bem entender em qualquer lugar do Brasil e ponto final".

Em pronunciamento de cinco minutos realizado em rede nacional, Moraes defendeu ontem as urnas eletrônicas e afirmou que as eleições de 2022 simbolizam "respeito à democracia". "A segurança e liberdade do voto serão efetivadas tanto com a observância do absoluto sigilo do voto, que é plenamente garantido pelas urnas eletrônicas, quanto pelo respeito à ampla e civilizada liberdade de discussão política, afastando qualquer possibilidade de violência ou coação e pressão por grupos políticos ou econômicos", disse o presidente do TSE.

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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