O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, foi reeleito para mais um mandato nesta quinta-feira, 23, após seu partido nacionalista, o Partido Bharatiya Janata (BJP), e seus aliados conquistarem ao menos 350 cadeiras das 543 do Parlamento. A vantagem dá a Modi margem para buscar uma agenda ambiciosa de reformas. É a primeira vez em 50 anos que um premiê consegue maioria pela segunda vez seguida.
Para governar, a coalizão precisa obter ao menos 272 cadeiras no Parlamento. Na última eleição, em 2014, a aliança de Modi conseguiu 336. Em segundo lugar, com 83 assentos, está a principal aliança de oposição, liderada pelo partido do Congresso Nacional Indiano, de Rahul Gandhi.
A mistura de nacionalismo hindu, populismo e programas sociais – como a construção de dezenas de milhões de novos banheiros – o ajudou. “Essa é a vitória da mãe que ansiava por um banheiro. É a vitória dos agricultores que suam para encher o estômago dos outros”, disse Modi.
Muitos indianos enxergam Modi, de 68 anos, como um ícone nacionalista e do populismo. Ele se colocou contra o avanço econômico chinês, quase entrou em guerra com o Paquistão ao revidar com bombardeios um ataque terrorista e aproximou a Índia dos EUA. Durante a campanha, ele colocou a palavra “vigilante” à frente de seu nome, em uma tentativa de demonstrar que ele é o homem forte capaz de governar a Índia.
“O sucesso de Modi vem de três frentes: seu discurso de desenvolvimento econômico e abertura, que agrada às classes média e alta, seus programas sociais, que são mais de 900 e tiraram milhões da miséria, mas principalmente seu discurso focado em segurança”, afirmou Sanjay Kumar, diretor do CSDS/Lokniti, centro de estudos de Nova Délhi. “Os ataques de Modi a rivais e seu discurso sobre a segurança foram chave para ele derrotar a oposição. Sem Modi, seu carisma e seu discurso, o BJP teria perdido.”
Nos discursos das últimas semanas, um estudo mostrou que Modi passou 53% do tempo atacando oponentes, 18% falando de segurança e 29% falando sobre “vikas”, ou desenvolvimento – o tema central de sua campanha de 2014. Na cidade de Gondia, no Estado de Maharashtra, em abril, ele atacou os críticos por questionarem sua decisão de bombardear o Paquistão, em fevereiro, após um atentado terrorista de militantes islâmicos na região disputada da Caxemira.
Em outro discurso, ele pediu aos eleitores pela primeira vez que dedicassem suas cédulas aos mártires indianos. “O que pode ser mais sagrado do que dar seu voto à nação?”, disse. “Exercite sua escolha e decida quem pode servir à pátria.”
A oposição acusa o BJP de intolerância com minorias religiosas, especialmente muçulmanos (16% de 1,3 bilhão de indianos, ou seja, 208 milhões de pessoas). Críticos dizem que, no governo Modi, os linchamentos feitos pela máfia dispararam, a representação muçulmana no Parlamento caiu para seu nível mais baixo em décadas e os hindus de direita se sentiram encorajados a impulsionar uma agenda extremista.
Desde que Modi assumiu o poder, em 2014, aumentaram os casos de “vigilância de vacas” (veneradas por grande parte da população e cujo abate é proibido em muitos Estados) e de assassinatos de muçulmanos por hindus radicais. Várias cidades e Estados governados pelo partido de Modi mudaram nomes de avenidas, ruas, aeroportos e cidades, trocando nomes muçulmanos para nomes hindus, sob alegação de retomar nomenclaturas históricas.
O sucesso de Modi não vem apenas de seu discurso. O crescimento econômico, de mais de 6% ao ano desde que ele assumiu, e a abertura comercial agradaram a muitos setores das classes média e alta, apesar das críticas de que os ministros de Modi interferem nos dados econômicos e da alta taxa de desemprego, que está em 6,1%, a mais alta em 45 anos.
A renda dos indianos do campo, onde vive quase 70% da população, vem caindo, assim como a produção industrial. Mas os projetos sociais do governo conquistaram os mais pobres. Seu governo criou cerca de 900 programas sociais, desde uma espécie de Bolsa Família, para garantir renda, até programas de distribuição de gás de cozinha e a construção de milhões de banheiros, que teriam beneficiado 550 milhões de pessoas. (Com agências internacionais).
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.