<i>Indiana Jones e a Relíquia do Destino</i> chega hoje aos cinemas brasileiros em um momento complicado. Não só os grandes blockbusters do verão americano estão penando nas bilheterias, como também o filme precisa cumprir duas tarefas nem sempre fáceis: resgatar a nostalgia dos mais velhos enquanto pavimenta uma estrada para o futuro da franquia, conforme cresce a dependência da Disney de viver de direitos autorais.
Com isso, é curioso – e até um pouco irônico – que Indy precise enfrentar o tempo em dose dupla. Primeiramente, na história. O lendário personagem criado por George Lucas e Steven Spielberg está prestes a se aposentar enquanto o mundo celebra a chegada do homem à Lua. Só que a aventura o chama de novo quando a afilhada, vivida por Phoebe Waller-Bridge, retorna a sua vida em busca de um artefato que promete viajar no tempo.
Obviamente, resgatar o aparelho não será uma tarefa fácil: Indiana Jones precisará não só lidar com a ganância da própria afilhada, mas também com o retorno de um nazista (Mads Mikkelsen) que enfrentou no passado distante e que, agora, também quer para si o mágico objeto.
Em segundo lugar, o tempo surge como um desafio para Indiana e para o diretor do filme, James Mangold (de Logan e Ford vs Ferrari), por conta dessa tentativa de apontar o desenvolvimento da história para três tempos diferentes. É o passado, nessas aventuras rocambolescas no Marrocos e em outros países considerados "exóticos"; o presente, na figura desse Indiana Jones mais cansado e vivendo em um mundo que o desconsidera; e o futuro, talvez na figura de Waller-Bridge (da série Fleabag).
Desses três apontamentos que surgem ao longo do filme, é o presente o mais saboroso – e, infelizmente, o menos aproveitado. É divertido, nostálgico e até um pouco inusitado ver um personagem tão amado vivendo uma vida sem glamour e sem ostentação, recebendo um relógio dourado no final de sua última aula. Coloca Indiana em um patamar nunca visto antes. Também é divertida e ousada a cena do cavalo no metrô, trazendo um comentário interessante sobre como a sua existência mudou. Não se encaixa mais no hoje.
<b>GLÓRIA PASSADA</b>
Enquanto isso, passado e presente não empolgam da mesma forma. As tentativas de reviver os dias de glória do personagem, com corridas de tuc-tuc no Marrocos ou com um salto de um avião da Segunda Guerra Mundial, pertencem ao cinema de outra década. Não empolgam como antes, principalmente numa época em que filmes como <i>Top Gun: Maverick</i> e <i>Avatar: O Caminho da Água</i> vão bem na bilheteria com cenas cada vez mais realistas e efeitos visuais de ponta, respectivamente. Nada disso existe no novo <i>Indiana Jones</i>.
Já o futuro, que poderia vir de um desdobramento da personagem de Phoebe Waller-Bridge sem Indiana Jones, acaba desfocado, sem vida. A personagem parece que nunca deslancha de fato, presa na necessidade de ser uma figura maternal para um garotinho que surge no Marrocos e que, sem motivo algum, acompanha a dupla até o final dessa jornada.
O que acaba trazendo personalidade ao passado e ao futuro é o final – que, sem dúvidas, será o ponto de debate após as sessões de cinema, com pessoas amando e odiando a conclusão. Há algo de lúdico aqui, servindo até de diversão para os pequenos, mas não se parece em nada com Indiana Jones. Está mais para a série <i>Doctor Who</i>, na verdade. É estranho, desconjuntado e bastante truncado, mas ainda assim curiosamente divertido.
<b>SEM OUSADIA</b>
Talvez tenha faltado mais ousadia para este novo <i>Indiana Jones</i>, que promete ser a última aventura de Harrison Ford como o icônico personagem. Mais cenas do herói causando estranheza no metrô dos Estados Unidos, enquanto o lúdico se torna uma opção mais viável de viabilizar a marca Indiana Jones entre os mais novos – que, convenhamos, não devem ter ideia de quem ele de fato é. Faltou ousadia para uma figura que, há mais de 40 décadas, nos faz viver aventuras que só existem em nossos sonhos.
"Quando os produtores me procuraram, imediatamente me deparei com a ideia de fazer o Indiana Jones como um herói de quase 70 anos. Não há como evitar o fato de que o público será confrontado com a idade de Harrison Ford", disse James Mangold, em entrevista durante o recente Festival de Cannes. "Eles vão ver um homem com quem cresceram e que agora tem 70 anos. Para mim, não é sobre o que estou fazendo, é sobre o que não estou fazendo. O filme se torna exatamente aquilo que é inegável: como é ser um herói, uma espécie de fanfarrão, travesso, exigente, destemido, mas também medroso?" (COM AP)
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>