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Indignados ao Redor do Mundo

Inspirado pela onda de protestos contra o setor financeiro e a classe política, na Espanha, ganha força o mais recente movimento “Ocupem Wall Street”. Os protestos se espalharam pelo mundo e, entre os principais alvos são o capitalismo, os bancos e a classe política. Organizadas a partir das redes sociais, as marchas e passeatas reuniram milhares de pessoas em mais de 900 cidades, atingindo 82 países. Autodenominados  “indignados”, os manifestantes empunharam bandeiras e gritos contra o sistema capitalista, seus bancos e, principalmente contra medidas de austeridade fiscal e social de seus governantes.


Curiosamente no mesmo dia desses protestos, os representantes dos bancos brasileiros apresentaram proposta salarial para encerrar a greve  dos bancários. Intransigentes durante todo o processo de negociação, os banqueiros permitiram que a greve se arrastasse por 18 dias sem sinalizarem intenção alguma de acordo.


Temerosos de se tornarem alvos negativos da opinião pública brasileira, como no resto do mundo, apresentaram uma proposta de aumento salarial de 9% com 1,5% de aumento real. Cobrando taxas de serviços e juros escorchantes dos seus clientes, com ganhos crescentes em suas aplicações de tesouraria e, por conta do aumento da produtividade – fruto do elevado grau de informatização do sistema – os multibilionários banqueiros brasileiros poderiam ter evitado a greve, atendendo sem traumas as reivindicações dos bancários. Com o crédito e o consumo em expansão, nosso sistema financeiro vive há muito tempo numa ilha de prosperidade cercado de privilégios e regalias, bastante diferente do resto do mundo.


Quem sabe nós brasileiros também não sejamos mais solidários da próxima vez com a luta dos bancários, se indignando contra os bancos, como tem feito pessoas de diferentes nacionalidades mundo afora.


Pode ainda parecer bastante incipiente os protestos mundiais, mas para justificar o movimento, analistas apontam fatores econômicos e sociais específicos; outros a falta de eixo dos idealizadores,  e a anarquia de objetivos e propósitos dos participantes. Tudo bem, talvez esses críticos tenham alguma razão em suas análises frias e calculistas; porém é inegável a percepção cada vez maior de mais pessoas em relação a perpetuação de injustiças sociais no sistema capitalista, assim como dos privilégios do sistema financeiro em todo o mundo. Algo de podre dessa ganância está no ar e as sucessivas crises do sistema apenas potencializam e espalham o mau cheiro pelas nações.


O mundo clama por mudanças de paradigma, que virão cedo ou tarde. Só precisamos fazer nossa parte.


 


José Luiz Guimarães


Vereador (PT) e líder do Governo na Câmara. Escreve às quintas-feiras nesta coluna

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