Noticia-geral

Índios acusados de matar brancos depõem em Humaitá

Teve início nesta terça-feira, 3, a audiência de instrução do processo em que seis indígenas da etnia tenharim são acusados de sequestrar e matar três homens brancos, em Humaitá, no sul do Estado do Amazonas. Os crimes, ocorridos em dezembro de 2013, desencadearam uma onda de revolta contra a população indígena na região. Instalações, veículos e barcos da Fundação Nacional do Índio (Funai) foram queimados e uma aldeia indígena foi atacada por fazendeiros.

Por medida de segurança, a audiência foi transferida do Fórum de Humaitá para a base do 54o Batalhão de Infantaria de Selva, do Exército brasileiro, na zona rural do município. Os cinco acusados que estão presos em Lábrea – Simeão Tenharim, de 27 anos, Gilson Tenharim, 25, Gilvan Tenharim, 20, Valdinar Tenharim, 30, e o cacique Domiceno Tenharim, 34 – foram levados de helicóptero, sob escolta da Polícia Militar, para o quartel. Eles permanecerão detidos numa cela até o fim da audiência, que só deve terminar quinta-feira.

O único acusado em liberdade, Aurélio Tenharim, de 42 anos, compareceu à audiência acompanhado de advogados da Funai. Os réus serão os últimos a ser ouvidos pelo juiz Reyson de Souza e Silva, da 2a Vara Cível, que assumiu o processo iniciado pela Justiça Federal. Nesta terça-feira, prestaram depoimentos as testemunhas de acusação. Na sequência, serão ouvidas testemunhas de defesa. Os nomes das testemunhas não foram divulgados. Ao final, após as alegações de acusação e defesa, o juiz decide se manda os réus a julgamento pelo tribunal do júri. Caso aconteça, o júri será em Manaus, em razão da repercussão do caso.

De acordo com o advogado das famílias das vítimas, Carlos Evaldo Terrinha, o clima é tranquilo na cidade, mas há barreiras do Exército na BR-319, acesso do quartel. Com o processo corre em segredo de justiça, apenas as partes e advogados acompanham a audiência. Segundo ele, os nomes das testemunhas não foram divulgados porque muitas são indígenas e estariam sob proteção.

Os seis índios foram denunciados pelo Ministério Público Federal por triplo homicídio duplamente qualificado pelo sequestro, morte e ocultação de cadáveres do professor Stef Pinheiro, de 43 anos, do representante comercial Luciano Freire, de 30, e do técnico em energia Aldeney Salvador, de 40. Eles desapareceram no dia 16 de dezembro de 2013 na rodovia Transamazônica quando cruzavam a terra indígena Tenharim-Marmelos.

Os corpos, com perfurações de tiros, foram encontrados após 49 dias de busca, numa operação liderada pela Polícia Federal. Eles teriam sido assassinados em vingança à morte do cacique Ivan Tenharim, encontrado morto na Transamazônica dias antes. A perícia concluiu que o cacique morreu ao se acidentar sozinho com a moto. As vítimas teriam sido escolhidas porque estavam num carro preto – a mesma cor do veículo que, supostamente, teria atropelado o cacique. Em nenhum momento, até agora, os índios admitiram a autoria dos crimes.

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