Um grupo de 47 índios da etnia caiapó, oriundos do sul do Pará, chegou na tarde desta segunda-feira, 2, ao Palácio do Planalto. Eles querem uma audiência com a presidente Dilma Rousseff e ministros para tratar dos impactos ambientais provocados pela pavimentação da BR-163, obra que vai transformar essa rodovia no principal corredor de exportação da soja do Centro-Oeste. “A gente não quer falar com a Funai (Fundação Nacional do Índio). A gente quer falar com as pessoas lá de cima. Se a gente falar com a Funai, ninguém vai resolver”, disse o porta-voz do grupo, Doto Takak-ire.
Os índios chegaram de surpresa, passando pela portaria do Planalto sem que a segurança estivesse preparada, o que obrigou os guardas a fecharem as portas de vidro do Palácio. Apesar do movimento, a chegada foi pacífica e os indígenas foram recebidos pelo assessor da Secretaria-Geral da Presidência, Thiago Garcia, que os conduziu para reunião com o secretário nacional de articulação social, Paulo Maldos.
O grupo cobra a renovação do Programa Básico Ambiental (PBA), que vigorou por cinco anos, repassando recursos para mitigar o impacto da obra na BR-163. “A gente não veio aqui falar com assessor. A gente quer falar com quem manda”, anunciou Doto. O porta-voz dos caiapós pediu para falar com Dilma, argumentando ter sido eleitor dela e considerar que era direito dele conversar com a presidente eleita com seu voto. “Todos nós votamos na Dilma e a gente está tendo muito problema com o governo, contra os indígenas. Somos os primeiros habitantes do Brasil. Dilma tem todo o direito de ouvir e a gente ouve ela”, disse.
Além de Dilma, os caiapós cobraram audiências com os ministros da Casa Civil, Aloizio Mercadante; do Meio Ambiente, Izabella Teixeira; e dos Transportes, Antônio Carlos Rodrigues. O grupo chegou hoje pela manhã a Brasília, depois de dois dias de viagem de ônibus.
“A gente vai ficar até quando falar com todos os ministros”, afirmou Doto Takak-ire, enquanto o assessor da Secretaria-Geral negociava com o grupo para deslocá-los para uma audiência com Maldos. O ministro da Secretaria Geral da Presidência, Miguel Rossetto, está no Rio de Janeiro para a 9ª Bienal da UNE.
Um documento entregue pelo grupo critica o “fracasso completo do plano BR-163 Sustentável e do processo de licenciamento ambiental que não controla a execução dos Programa Básico Ambiental – PBA e, muito menos, responsabiliza o empreendedor (DNIT) pela situação”.
“Os impactos negativos decorrentes da abertura da rodovia sobre as populações indígenas e sobre o meio ambiente datam de sua abertura e não foram objeto de preocupação e reparação por parte do poder público”, critica o texto.