A Indonésia registrou um recorde de 1.040 mortes por coronavírus nas últimas 24 horas. O gigante país do sudeste asiático enfrenta sua pior onda de covid-19 desde o início da pandemia.
No dia anterior, o país havia registrado 728 mortes no período. Nos últimos dois dias, o número de novos casos detectados em 24 horas aumentou de 31.189 para 34.379, de acordo com o Ministério da Saúde local.
Os especialistas em saúde pública temem que a situação se deteriore e avisam que a Indonésia poderá ser "a próxima Índia", onde os casos de covid dispararam e o sistema de saúde foi inundado nos últimos meses.
Mas a Indonésia está menos preparada do que a Índia para enfrentar uma crise como esta. A Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) diz que o país tem 0,4 médicos por 1.000 pessoas, o quinto mais baixo da Ásia, e menos da metade da proporção indiana.
Embora já estejam em vigor restrições drásticas nas ilhas de Java e Bali, novas medidas, que variam por região, foram anunciadas nesta quarta, enquanto o ministro da saúde prometeu quase 8.000 camas hospitalares a mais.
As restrições serão impostas em dezenas de cidades, desde Sumatra, a oeste, até à Papua Ocidental, a leste.
As restrições dizem principalmente respeito à obrigação de home office para os trabalhadores de setores não essenciais e à limitação do horário de abertura das lojas e restaurantes. Além disso, as mesquitas e igrejas ficarão fechadas nas áreas mais afetadas.
"Os casos estão aumentando em outras regiões, e temos de permanecer vigilantes devido à vulnerabilidade dos hospitais", disse o ministro da economia, Airlangga Hartarto, acrescentando que as restrições entrarão em vigor a partir de 20 de julho.
<b>Colapso</b>
O sistema de saúde no quarto país mais populoso do mundo é esmagado pelo grande fluxo de pacientes.
Na última terça-feira, 6, as autoridades temiam que a Indonésia, que é também o país mais afetado do sudeste asiático, ultrapassasse 50.000 novos casos por dia.
As áreas afetadas pelas novas restrições anunciadas hoje tiveram muito menos casos do que a ilha de Java, onde vive metade da população do país. Nestes locais, porém, os serviços de saúde estão menos desenvolvidos, e uma explosão de casos atingiria o sistema muito mais rapidamente, advertiu Hartarto.
"As estruturas nestas regiões são limitadas e já estão quase superlotadas", acrescentou ele.
A pneumologista Erlina Burhan classifica como "loucura" a situação dos hospitais no país. No hospital em que ela trabalha, pelo menos 200 funcionários estão afastados devido à covid-19, apesar de terem sido vacinadas há poucos meses.
"É uma loucura, uma verdadeira loucura", diz ela à Reuters. "Mais pacientes, mas menos pessoal. Isto é ridículo", reclama.
<b>Mão-de-obra contaminada</b>
Cerca de 95% dos funcionários de saúde foram totalmente vacinados, principalmente com o imunizante da Sinovac, segundo a Associação dos Hospitais da Indonésia (IHA).
Mas, de acordo com dados do grupo independente Lapor COVID-19, 131 profissionais de saúde, na sua maioria vacinados com a vacina Sinovac, morreram desde junho, incluindo 50 nos primeiros dias de julho.
Um porta-voz do Ministério da Saúde indonésio não respondeu ao pedido de comentários feito pela Reuters.
No meio do surto de infecções, alguns médicos questionam agora a eficácia da vacina, embora o governo indonésio diga que o problema reside na variante do Delta e não na vacina.
A maioria dos profissionais de saúde infectados apresenta apenas sintomas leves, mas um levantamento realizado pela Reuters com médicos, diretores de hospitais e chefes da indústria da saúde indica que milhares foram forçados a isolar-se na ilha de Java, lar de cerca de 150 milhões de pessoas e o epicentro do agravamento do surto indonésio.
Lia Partakusuma, secretária-geral da IHA, diz ter feito um levantamento nos grandes hospitais estatais das principais cidades de Java.
"Dizem que 10% do seu pessoal está com covid", contou ela.
Esses funcionários deveriam isolar-se durante duas semanas, acrescentou, embora outros médicos tenham dito que muitos foram afastados por apenas cinco dias, por serem imprescindíveis no trabalho.
O aumento das mortes e infecções dos trabalhadores da saúde não poderia acontecer em pior momento, dizem médicos e executivos hospitalares.
Contra a escassez de pessoal, os hospitais estão recrutando "voluntários" – farmacêuticos, radiologistas e estudantes de medicina.
Um executivo de uma cadeia hospitalar, que falou sob condição de anonimato, disse que cuidar de pacientes da covid requer frequentemente competências que não podiam ser fornecidas por estudantes ou outros voluntários.
"Não é realmente uma solução", disse o executivo.
Os epidemiologistas dizem que as baixas taxas de testes significam que os dados oficiais de covid-19 não refletem verdadeiramente a extensão do surto no país. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)