Estadão

Indústria de pneus pede imposto mais alto contra entrada de importados

A indústria de pneus pediu ao governo a elevação do imposto de importação do produto, de 16% para 35%, na tentativa de conter a entrada de concorrentes do exterior, que já mordem mais da metade do mercado brasileiro. O setor aponta concorrência desleal de pneus asiáticos, em especial da China, que chegam ao País a preços inferiores ao custo de produção nacional. Já os importadores alertam a um aumento do custo de frete rodoviário, com potenciais reflexos nos preços de produtos transportados pelas estradas, caso o pedido seja atendido.

O pleito está em análise técnica, ainda sem data marcada para votação na Câmara de Comércio Exterior (Camex). A expectativa das entidades setoriais envolvidas, no entanto, é que a decisão seja tomada ainda neste mês, ou o mais tardar em julho, já que a fase de consulta pública terminou no último domingo.

Conforme números apresentados pela Anip, a associação dos fabricantes de pneumáticos, a participação dos importados nas compras de pneus de carros de passeio e de caminhões no Brasil chegou a 52% em 2023. Nos cinco primeiros meses deste ano, a fatia já tinha aumentado para 59%.

Até 2017, os pneus importados respondiam por menos de 30% do consumo. Desde então, porém, enquanto as vendas da indústria nacional caíram 18%, as importações mais do que dobraram, marcando crescimento de 117% em volume nos últimos seis anos.

Segundo a Anip, a indústria convive hoje com excesso de estoques, o que freia a produção. A entidade sustenta que a situação chegou ao limite, exigindo do governo medidas emergenciais para que sejam evitados impactos nos investimentos e nos empregos. No momento, 2,2 mil funcionários das fábricas de pneus estão com contratos de trabalho suspensos, o chamado layoff. No total, o setor emprega diretamente 32 mil pessoas em 21 unidades fabris.

Com base em dados da Receita Federal, o presidente da Anip, Klaus Curt Müller, conta que metade dos pneus asiáticos entra no Brasil com preços inferiores até mesmo ao custo da matéria-prima: em torno de US$ 2,50 o quilo. A outra metade é importada a preço abaixo do custo de produção no País.

"É uma situação em que não adianta a indústria ser hipereficiente, ser hipercompetente dentro da estrutura de custo normal. Não vai conseguir nunca chegar aos preços dos asiáticos", comenta o executivo.

As barreiras comerciais em grandes mercados como Estados Unidos, Europa e México estão desviando os pneus asiáticos em direção ao Brasil. Além do aumento nas alíquotas de importação de pneus tanto de carros quanto de caminhões e ônibus, a Anip pediu para o governo investigar se os pneus chineses estão fazendo triangulação na Malásia para fugir de tarifas antidumping no Brasil.

"Estamos com o estoque até a tampa, tendo que alugar espaços para guardar pneus. Obviamente, as matrizes querem saber o que vai ser feito. A operação industrial está em baixa velocidade, porque se colocar força total não tem onde guardar pneu", relata Müller.

Do outro lado, a Abidip, associação que representa os importadores de pneus, prevê um aumento de 20% no preço do produto se o pleito da indústria nacional passar. Como as condições ruins das estradas brasileiras fazem com que as trocas de pneus dos caminhões sejam constantes, o frete, estima a entidade, deve ficar entre 2% e 5% mais caro, tendo assim reflexos na inflação dos produtos que dependem do transporte rodoviário.

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