Estadão

Indústria do petróleo leva à COP-28 2,4 mil representantes

Sediada nos Emirados Árabes Unidos, um dos maiores produtores mundiais de petróleo, a Cúpula do Clima das Nações Unidas (COP-28) registra presença sem precedentes de pessoas ligadas aos interesses das empresas de combustíveis fósseis. Análise feita pela coalizão Kick Big Polluters Out (KBPO) estima que o número de participantes credenciados ligados à indústria do petróleo é sete vezes maior do que o total de representantes indígenas na conferência.

A análise da KBPO leva em conta a lista provisória mais recente de participação de pessoas com vínculos explícitos com empresas do setor em negociações até agora. Segundo a análise, ao menos 2.456 pessoas ligadas a empresas de petróleo estão na conferência.

A KBPO é uma rede que reúne 450 grupos da sociedade civil que defendem a redução da influência de grandes poluidores no debate climático. Segundo a entidade, a metodologia usada para classificar alguém como defensor dos interesses da indústria do petróleo considera as informações disponibilizadas pelo próprio participante no cadastro na conferência. "Se descobrirmos que o delegado autodeclarou seus vínculos com uma empresa de combustíveis fósseis, uma organização com interesses em combustíveis fósseis ou qualquer fundação diretamente associada por propriedade ou controle a uma empresa de combustíveis fósseis, isso nos levaria a classificá-los como um lobista de combustíveis no contexto de sua presença na COP-28"", explica a rede.

<b>Indígenas</b>

Nesta quarta, 6, os debates da COP-28 foram focados nos povos indígenas. A ministra dos Povos Indígenas do Brasil, Sônia Guajajara, que chefia a delegação brasileira na COP-28, evitou criticar o grande número de representantes das empresas de petróleo ante membros do movimento indígena. A delegação brasileira reúne o maior grupo indígena da COP-28. "São mais de 300 indígenas de todas as regiões do mundo. Estamos aqui de forma articulada", diz Sônia. "É claro que pelo tamanho da população indígena no mundo, pelo trabalho que a gente presta de proteger naturalmente o meio ambiente, (é um número pequeno) mas estamos avançando", acrescentou a ministra.

O levantamento da KBPO mostra que a "delegação" da indústria do petróleo supera praticamente a de todos os países participantes da COP-28, exceto do Brasil, que tem 3.081 integrantes (o maior grupo de um país visitante), e dos Emirados Árabes Unidos, os anfitriões, com 4.409. A sociedade civil e ambientalistas têm pressionado os países a assumir nesta COP compromissos para abandonar o uso de combustíveis fósseis. A medida, no entanto, encontra resistência e é um passo de difícil acordo, uma vez que todas as decisões incluídas no documento final devem ser obtidas em consenso.

Os participantes ligados à indústria de combustíveis fósseis também receberam um número maior de passes para acessar eventos restritos do que todas as nações mais vulneráveis em termos climáticos. Além de os Emirados Árabes Unidos serem grandes produtores de petróleo, a escolha de Sultan Ahmed al-Jaber como presidente da conferência também motivou desconfiança na área ambiental.

Ministro da Indústria no país sede, Al-Jaber preside a gigante petrolífera Companhia Nacional de Petróleo de Abu Dhabi (ADNOC, na sigla em inglês). A presidência da COP é um posto-chave no encontro global por ter a atribuição de escolher os temas que serão prioritários na conferência.

O número de participações ligadas às empresas de petróleo nas COPs tem aumentado expressivamente ao longo dos anos. Foram só 503 na COP de Glasgow, em 2021; no ano seguinte, em 2022, na COP de Sharm el-Sheikh, foram 636.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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