O desempenho da indústria brasileira em janeiro voltou a ser afetado tanto por problemas de oferta quanto de demanda, mostrando que a alta de dezembro "acabou sendo um movimento muito atípico", avaliou André Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A produção industrial recuou 2,4% em relação a dezembro, depois de ter crescido 2,9% no mês anterior, de acordo com os dados da Pesquisa Industrial Mensal. Nos últimos 13 meses a produção recuou em nove deles.
"E na maior parte das vezes com perfil disseminado de taxas negativas", frisou André Macedo. "O ano de 2022 inicia com características muito próxima do que foi 2021 para o setor industrial", completou o pesquisador, confirmando que o avanço de dezembro foi um ponto fora da curva.
Segundo Macedo, o desempenho de janeiro de 2022 foi derrubado por uma ocorrência maior de férias coletivas em plantas industriais, pela base de comparação mais elevada em função do aumento na produção em dezembro, pelo avanço no número de contaminações da covid-19 provocado pela variante Ômicron, mas também por fatores pontuais, como as "chuvas mais intensas ocorridas em Minas gerais, que alcançaram de forma importante o setor extrativo, mais especificamente o minério de ferro", justificou.
Ele lembra que a indústria permanecia impactada por problema preexistentes, como o encarecimento e a dificuldade de obtenção de insumos, pelo lado da oferta. Sob a ótica da demanda doméstica, houve impacto do crédito mais caro pela elevação de juros, da inflação corroendo o poder de compra das famílias, da precarização do emprego e dos salários menores.
Agora, a invasão da Ucrânia pela Rússia tem potencial para "intensificar a magnitude de perdas" já existentes na produção industrial brasileira, afirmou o gerente do IBGE. Para ele, o cenário de incertezas pode trazer consequências sobre o processo de produção e decisões de consumo e de investimentos, além de reduzir a oferta de matérias-primas e bens.
"A gente já tinha o setor industrial muito afetado pelo desarranjo das cadeias produtivas, pela oferta de insumos", lembrou Macedo. "Tem chance de que isso seja intensificado. Também pode ter um encarecimento de custos de produção", disse ele.
O pesquisador ressalta que ainda não é possível prever o tamanho do impacto do conflito sobre a indústria brasileira, mas confirma que "a guerra traz reflexos negativos para a produção doméstica".