A crise de confiança que se abateu sobre o Brasil com o baixo desempenho da economia, manobras fiscais do governo federal e a Operação Lava Jato derrubou a perspectiva de investimento do setor de construção civil nos próximos meses. Uma pesquisa feita pela consultoria GO Associados a pedido da Associação Paulista de Obras Públicas (Apeop) mostra que 43% das empresas do setor vão cortar investimentos nos próximos 12 meses e outras 43% vão se manter no patamar atual.
A decisão deve contribuir para uma queda de 5,1% no Produto Interno Bruto (PIB) do setor, que já havia recuado 5,6% no ano passado. Segundo o sócio da GO Associados, Gesner Oliveira, responsável pelo Boletim Trimestral da Apeop, vários fatores explicam esse mau humor entre as empresas.
De um lado, afirma ele, está o segmento do mercado imobiliário, que sofre com estoques elevados decorrentes da menor capacidade de pagamento dos brasileiros por causa da alta dos juros e queda na renda. Na outra ponta estão as empresas que dependem das obras públicas e, portanto, estão sofrendo o impacto do ajuste fiscal do governo federal.
Muitas obras executadas pelas empresas ainda não foram pagas pelo governo, afirma o diretor da Apeop, Carlos Eduardo Lima. Segundo ele, até meados de março, a conta de projetos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) com pagamentos atrasados já somava R$ 5 bilhões.
No quadrimestre, a expectativa é de que os pagamentos feitos pelo governo recuem 23% em relação a 2014, completa Lima. Junta-se a isso os problemas de dezenas de empresas envolvidas na Operação Lava Jato que não têm conseguido tocar em dia as obras e, algumas delas, tem entrado em recuperação judicial.
Nesse cenário, a disposição das empresas do setor de investir despencou. Um dos reflexos imediatos é o aumento do desemprego. No ano passado, o saldo líquido de empregos no setor ficou negativo em 30 mil, segundo o Boletim Trimestral da Apeop. Para 27% das empresas pesquisadas, houve queda nas despesas com mão de obra nos últimos três meses.
“Há uma maior preocupação do empresário com a economia tanto no curto como no médio prazo”, diz Luciano Amadio, presidente da Apeop.
Deterioração
A atual edição do boletim da associação mostra, além da baixa disponibilidade de investimento, uma deterioração nas expectativas dos empresários em relação à economia. Para 88% das empresas, as expectativas pioraram ou pioraram muito para os próximos três meses.
Na avaliação de Gesner Oliveira, o poder público precisa reforçar os efeitos mitigadores para recuperar os investimentos. Segundo ele, uma das alternativas seria criar uma agenda positiva (com PPPs e concessões) capaz de acomodar as empresas médias do setor de construção. Hoje, essas empresas não conseguem entrar em concessões ou PPPs por uma série de fatores, como o tamanho do projeto, falta de garantias públicas de pagamento e formas de financiamentos.
Com a quebra de empresas tradicionais do setor de construção por causa da Lava Jato, o governo terá de criar alternativas se quiser colocar de pé um novo programa de concessões de projetos nas obras de infra estrutura.
“As empresas querem algumas respostas para entrar nesses programas, como que mecanismos o governo vai adotar para estimular a iniciativa privada, quais as formas de financiamento, como usar mais o mercado de capitais”, afirma Oliveira. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.