O anúncio dos Estados Unidos de sobretaxar as importações de aço em 25% e as de alumínio em 10% está gerando nova onda de pedidos de proteção à indústria brasileira por parte do empresariado local. O movimento ocorre num momento em que o Ministério da Fazenda se opõe a qualquer tipo de ajuda ao setor industrial.
Na quarta-feira, 14, o presidente da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Benjamin Steinbruch, cobrou do governo brasileiro medidas para proteger o mercado de eventual fluxo de entrada de produtos chineses em todos os segmentos, e não só o aço.
Ele disse, por exemplo, que o antidumping (quando um produto é exportado a preços menores que os praticados no país de origem), tem de ser tratado de forma mais séria. O executivo se referia à decisão recente da Câmara de Comércio Exterior (Camex), ligada à Fazenda, de não aplicar medida antidumping na importação de aço da China e da Rússia alegando interesse público (risco de inflação).
Segundo Steinbruch, o jogo foi alterado e o País precisa se posicionar. “Levantaram a bola para o Brasil fazer gol”, disse. “Ou seremos um grande shopping center de produtos importados ou um país com infraestrutura, com investimento intensivo de capital.”
Com receio de uma “inundação” de aço de países que deixarão de exportar para os EUA, o presidente do Instituto Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes, disse que “não podemos ser ingênuos e manter as portas abertas e nos tornarmos a lixeira do mundo em termos de aço.”
Ele disse que, para a indústria siderúrgica brasileira os problemas serão a concorrência mais dura em destinos como a América Latina e a chegada de aço mais barato no próprio mercado brasileiro. “Precisamos de uma defesa comercial ágil, mas o Ministério da Fazenda não tem a indústria como prioridade.” A Fazenda não comentou.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) afirmou que a forma de o País defender-se da concorrência desleal é ter um sistema forte de defesa comercial, sobretudo direitos antidumping, amparado pela Organização Mundial do Comércio (OMC). Em nota, informou que “o governo americano quer combater comércio desleal usando uma lei contrária às normas internacionais. Já no caso do Brasil, o governo faz o certo ao buscar novos acordos comerciais, mas erra ao promover o desmonte da defesa comercial brasileira. “Há uma tentativa deliberada, liderada pelo Ministério da Fazenda e a Casa Civil, de politizar um processo técnico, desprotegendo a indústria e criando insegurança jurídica.”
“Todos os países do mundo, exceto o Brasil, não só defendem sua indústria como a estimulam”, disse o presidente da Abiquim (setor químico), Fernando Figueiredo, que também criticou a Camex. “Não importa se esta decisão insana corta empregos no Brasil e transfere empregos bem remunerados para o exterior. Quem na Esplanada dos Ministérios se importa com 12 milhões de desempregados?”
Na opinião da economista Vera Thorstensen, do Centro do Comércio Global e do Investimento, o Brasil precisa usar instrumentos para se defender com base nas regras da OMC. Ela criticou a negociação bilateral oferecida por Trump. “É um fato inédito impor a retaliação e sentar com cada país para negociar acordos de restrição”, disse. “É voltar às décadas de 80 e 90.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.