A indústria brasileira opera atualmente 14,3% abaixo do pico de produção registrado em maio de 2011, segundo os dados da Pesquisa Industrial Mensal, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“Passada essa volatilidade de maio e junho, provocada pela greve dos caminhoneiros, o setor industrial está no mesmo patamar de abril último”, apontou André Macedo, gerente na Coordenação de Indústria do IBGE. “A produção está 1,1% abaixo do patamar de dezembro de 2017. Ou seja, passados oito meses de 2018, o setor industrial não ganhou ritmo em relação ao fim do ano passado”, completou.
Segundo André Macedo, o mau desempenho da indústria tem relação com o mercado de trabalho ainda em recuperação, com uma fatia relevante da população ainda desempregada, e índices de confiança em baixa, que resultam na postergação de consumo por parte de consumidores e de investimentos por parte do empresariado.
“Tem todo um ambiente de incerteza eleitoral que ajuda um pouco também nesse adiamento de decisões de investimento e de decisões de consumo, aliado ao mercado de trabalho (fraco)”, disse Macedo.
A produção industrial recuou 0,3% em agosto ante julho, após já ter recuado 0,1% em julho ante junho.
“É claro que dois resultados negativos seguidos, algo que a gente não via já há bastante tempo dentro do setor industrial, nos trazem algum tipo de sinal de alerta em relação ao ritmo e à tendência que essa produção industrial teria mais à frente”, concluiu o pesquisador.
Setores em comparação interanual
A produção industrial do Brasil aumentou em 14 dos 26 ramos pesquisados em agosto de 2018 ante agosto de 2017, segundo o IBGE.
A fabricação de veículos automotores, reboques e carrocerias saltou 15,0% em agosto deste ano, em relação ao mesmo período do ano passado, a maior influência positiva na formação da média da indústria. Apesar do arrefecimento nas exportações provocado pela crise na Argentina, a demanda doméstica tem sustentado bons resultados no setor automobilístico, observou Macedo.
“Em qualquer observação, veículos permanecem liderando em termos de influência no resultado (global), com alta tanto em automóveis quanto em caminhões. Isso tem um pouco como pano de fundo esse mercado interno, a produção voltada para o mercado doméstico, embora esse setor comece a mostrar um aumento indesejável do nível de estoque. Pode ser que haja um pouco mais à frente uma certa adequação da produção de veículos à demanda doméstica”, disse Macedo.
Outras contribuições positivas relevantes sobre o total da indústria nacional na comparação com agosto de 2017 foram de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (4,4%), de celulose, papel e produtos de papel (11,6%), de máquinas e equipamentos (8,8%), de outros produtos químicos (3,3%), de indústrias extrativas (1,5%), de produtos farmoquímicos e farmacêuticos (7,5%) e de produtos de metal (4,3%).
Por outro lado, entre os 12 setores que apontaram redução na produção em agosto, o principal impacto negativo sobre o total da indústria foi de produtos alimentícios (-4,6%), puxado pela menor fabricação de açúcar cristal e VHP, carnes e miudezas de aves congeladas, sucos concentrados de laranja e rações.
Também tiveram perdas relevantes os ramos de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-7,7%) e de produtos têxteis (-5,3%).
Houve piora no Índice de difusão, que mede a proporção de itens com avanço na produção: diminuiu de 59,0% em julho para 50,7% em agosto, com redução em todas as categorias de uso.
“Esse número menor de produtos com avanço na produção dá um pouco da ideia de menor intensidade na indústria para o mês de agosto”, declarou André Macedo. “Para agosto, não tem nenhum tipo de efeito calendário. Houve o mesmo número de dias úteis em agosto de 2018 e em agosto de 2017”, completou.