Economia

Inflação da baixa renda se aproxima dos dois dígitos, aponta FGV

A inflação percebida pela baixa renda deu uma pequena trégua em junho ao desacelerar a 0,85%, mas está longe de arrefecer totalmente. Em 12 meses, a alta de preços sentida pelas famílias com ganhos mensais entre um e 2,5 salários mínimos chega a 9,52%, informou a Fundação Getulio Vargas (FGV). Muito próximo dos dois dígitos, o chamado Índice de Preços ao Consumidor – Classe 1 (IPC-C1) nunca havia registrado aumento semelhante em toda a série, iniciada em 2004.

Ao longo do primeiro semestre, o índice deu saltos diante dos aumentos nas tarifas de energia elétrica, nos alimentos e nos remédios. Todos esses itens comprometem uma fatia maior do orçamento das famílias de baixa renda do que na média dos lares brasileiros.

Só nos seis primeiros meses de 2015, a alta já chega a 7,21%. Em todos os confrontos, a inflação medida pelo IPC-C1 supera a elevação de preços sentida pela média das famílias brasileiras (IPC-Br), cujos ganhos ficam entre 1 e 33 salários mínimos.

“Pode ser que chegue a dois dígitos, mas não termine o ano nesse patamar. Mas é sempre uma incerteza, porque depende do comportamento dos alimentos, que tiveram um primeiro semestre pressionado. O comportamento benigno esperado para maio e junho não veio”, explicou o economista André Braz, pesquisador da FGV.

Em junho, a taxa do IPC-C1 perdeu força, ainda que de forma tímida. O aumento nos preços de alimentos, que respondem por um terço das despesas da baixa renda, foi menor, mais ainda expressivo. O grupo subiu 1,02% em junho. O tomate ficou 17,35% mais barato no mês passado, mas a cebola ainda avançou 23,53%.

As tarifas de energia elétrica, as vilãs do primeiro trimestre, pararam de subir por um momento. Em 12 meses, porém, o reajuste supera 50%. “Isso não vai sair do índice, o preço da energia não vai cair”, frisou Braz.

Por outro lado, o reajuste nos preços de jogos lotéricos impulsionou o índice em junho. O item subiu em média 29,26%, com impacto da elevação nos valores das apostas autorizado pelo governo e em vigor a partir de meados de maio.

Braz acredita que há espaço para desaceleração, principalmente em alimentos. O mais provável, contudo, é que o IPC-C1 encerre o ano acima dos 9%. “Nossa expectativa para o IPC-Br já está acima disso, e o que move a perspectiva do índice é exatamente o que pesa mais no IPC-C1”, disse.

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