Os primeiros sinais da inflação em abril confirmam por enquanto a expectativa do mercado financeiro de que as taxas cairão à metade das apuradas em março, mas ainda assim devem ficar acima da média padrão para o quarto mês do ano, avaliam profissionais consultados pelo ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado. Isso porque os grupos a catapultar a inflação no primeiro trimestre, Habitação e Alimentação, justamente os de maior peso nos índices, estão desacelerando a alta em ritmo aquém do desejado. Adicionalmente, o reajuste dos preços de remédios aparece como risco a partir deste mês e, mais adiante, o provável aumento nas tarifas de água e esgoto em São Paulo.
Dados do monitor diário de preços da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o chamado IPCA ponta, obtidos pelo Broadcast com fontes de mercado, mostram que no dia 30 de março, a inflação estava em 1,32%. A taxa mostrou ligeira aceleração para 1,36% no dia 31 e, depois, arrefeceu para 1,18% em 1º de abril. No mesmo período, Alimentação e Bebidas apresentou taxas de 0,92%, 0,75% e 0,81%. No grupo Habitação, a inflação saiu de 7,27% no dia 30 para 7,22% no dia 31. E começou abril em 6,05%, ainda de acordo com os dados do monitor divulgado reservadamente pela FGV.
Os reajustes de uma série de preços administrados, como combustível, tarifas de transporte urbano e, principalmente, preços de energia, têm afetado em cheio o grupo Habitação nos últimos meses. A partir de abril, o impacto tende a se dissipar, mas alguns efeitos secundários devem aparecer em outros preços dentro do grupo.
“Agora e mais adiante veremos pressão por exemplo em condomínios”, disse o economista economista-chefe da Caixa Asset, Rodrigo Abreu. “Este primeiro mês do segundo trimestre vai começar certamente acima do que esperávamos alguns meses atrás, com taxas em torno de 0,70% e 0,80%”, afirmou, acrescentando que o padrão sazonal para abril desde 2008 é de inflação de cerca de 0,50% em média.
Até o momento, a previsão preliminar do economista para o IPCA de abril está entre 0,60% e 0,70%, mas ele admite risco de revisão para cima. “Vemos forte desaceleração (ante março), mas olhando as variáveis básicas observamos que não estão com comportamento compatível com o nosso número”, explicou Abreu, que espera IPCA de março, a ser divulgado na próxima quarta-feira (8/4) de 1,40%.
Nos preços do grupo de Alimentação, a desaceleração menos intensa do que esperado em abril deve-se aos produtos “in natura, que foram negativamente afetados pelo regime de chuvas acima da média”, segundo o economista. “E, de forma menos importante, pelo desabastecimento no Sul em razão da greve dos caminhoneiros”, completou. Abreu lembra ainda que, na parte de proteínas, a desvalorização cambial está estimulando os embarques, o que também pressiona preços internos.
O economista da Quantitas Asset, João Fernandes, espera IPCA de 1,37% em março e recuo para 0,72% em abril. Ele ressalta, no entanto que “devemos ver desaceleração bem acentuada da inflação, só que não é uma desaceleração do processo inflacionário”. Ele explica que vão sair da conta do IPCA efeitos específicos, mas tem vários outros estruturais que vão manter a inflação pressionada.
Fernandes alerta ainda para o impacto da antecipação que está sendo observada do reajuste dos preços de cosméticos. No início do ano, foi divulgado que vai haver mudança na forma de tributação dos produtores e vendedores do setor, o que tende a ser repassado aos preços. “De modo geral, para os produtos afetados, deve dar impacto de 12%. Isso é um fator de pressão relevante que estará presente nos próximos meses”, comentou.
Também dentro dos administrados, outro foco de atenção é o aumento médio de 6,6% para preços de medicamentos controlados pelo governo, que pode em alguns casos chegar a 7,7%, autorizado pela Câmara de Regulação de Mercado de Medicamentos (CMED), a partir de 1º de abril. “Já neste mês, na ponta, veremos alguma coisa em Saúde e Cuidados Pessoais, com pico em maio. Daqui a duas semanas, a ponta já dará ideia interessante de onde o reajuste vai parar”, afirmou Rodrigo Abreu, da Caixa Asset. “É um fator importante. O aumento está acima do que vimos nos últimos anos e traz inércia para frente”, completou Fernandes da Quantitas.
Já o reajuste de 13,8% nas tarifas de água e esgoto, autorizado pela Agência Reguladora de Saneamento e Energia de São Paulo (Arsesp), ainda em audiência pública, se confirmado, poderá pressionar os preços no final do segundo trimestre. “Calculamos impacto de mais 3% no IPCA de junho”, afirmou Fernandes.
IPC-S
A percepção de que os efeitos mais significativos dos reajustes de energia ficaram concentrados entre os três primeiros meses e a expectativa de menos pressão dos alimentos à frente também permitem esperar desaceleração na inflação medida pelo IPC-S no segundo trimestre. A taxa acumulada nos três primeiros meses do ano ficou em 4,16% e a expectativa é de que recue para nível inferior a 2%.
Na visão do coordenador do IPC-S e pesquisador da FGV, Paulo Picchetti a inflação de alimentos também deve ajudar na desaceleração do IPC-S do segundo trimestre. Ele aponta que no fechamento do IPC-S de março, o segmento de hortaliças e legumes teve uma alta de 4,00%, inferior à de 6,24% de fevereiro. E avalia que a taxa do índice cheio deve cair a 0,70% em abril, de 1,41% em março.
Ainda assim, Picchetti pondera que há fatores que podem pressionar o IPC-S mais à frente. “Abril já começa a deixar esse primeiro trimestre para trás, mas ainda assim é um valor elevado ante a média mensal (na faixa de 0,46%)”, disse. “O reajuste da Sabesp traz risco para o cenário à frente, enquanto o aumento dos medicamentos começa a pegar com mais força no IPC-S de maio e junho, como acontece todo ano”, reforçou.