O ex-presidente do Banco Central e diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getulio Vargas (FGV), Carlos Langoni, avalia que o desempenho da inflação é a “grande surpresa positiva” da economia brasileira no início deste ano. Ao comentar o dado do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de fevereiro, Langoni afirma ainda que essa situação favorável, com a média dos preços baixa, deve continuar por algum tempo, certamente em 2018 e provavelmente ao longo de 2019.
No segundo mês do ano, inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) acelerou a 0,32% depois de 0,29% em janeiro. A taxa veio dentro do esperado por economistas do mercado, que esperavam entre 0,25% a 0,39%, e um pouco acima da mediana e da média de 0,31%, conforme pesquisa do Projeções Broadcast, da Agência Estado (AE). Em 12 meses até fevereiro, o IPCA acumulou 2,84%.
A seguir, os principais trechos da entrevista concedida ao Estadão/Broadcast, serviço em tempo real da AE:
Como o sr. avalia o IPCA de fevereiro e o cenário de inflação?
A grande surpresa positiva da economia brasileira nesse começo de ano é sem dúvida o desempenho da inflação um pouco abaixo das projeções mais otimistas. Quando decompomos a inflação em seus elementos mais importantes, fica bem claro que é uma situação com boas chances de continuar durante algum tempo, certamente ao longo deste ano e provavelmente ao longo de 2019.
Quais são os fatores que indicam essa persistência da inflação em níveis favoráveis?
A inflação de serviços, que tem condições de competição menos favoráveis, tem uma taxa em 12 meses abaixo do centro da meta de 4,5%, em 4,2%. Os preços livres de mercado, que representam 75% do IPCA e têm competição intensa, estão na faixa de 1,41%. Ou seja, isso sugere que a inflação está numa trajetória favorável. A tendência é muito positiva e diria mais: talvez seja uma experiência única. Estamos assistindo a retomada do crescimento que parece bem vigorosa, bem sólida, acompanhada de um estabilidade macroeconômica, ou seja, de uma inflação baixa.
A quebra da safra na Argentina traz risco para a nossa inflação?
Acho que são impactos pontuais. A safra brasileira deste ano não vai ser a safra recorde do ano passado, mas está sendo revisada e os últimos dados mostram aumento das estimativas iniciais. Então vai ser uma safra bastante confortável. O Brasil hoje importa na margem alguns itens alimentícios, mas nada que possa por si só reverter a tendência de preços de alimentos bem comportados.
Por que a inflação está tão baixa?
O grande mérito é a atuação do Banco Central. Eu sempre considero que o papel fundamental da autoridade monetária é gerenciar expectativas de forma consistente. O Banco Central fez isso com eficiência. O mercado reclamava que a Selic estava demorando a cair, mas o BC não pode se antecipar às expectativas, tem de acompanhar a tendência de desaceleração dos preços.
A Selic pode cair a 6,5% em março e o ciclo continuar em maio?
Acredito que o BC vai manter a Selic em 6,75%. Mas não seria surpresa se reduzir para 6,5%. Acho que o BC tem de ser muito cuidadoso, porque o ideal é não só uma Selic baixa, mas permanentemente baixa. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.