O Brasil virou um ponto fora da curva quando o assunto é investimento em infraestrutura. Apesar das promessas e iniciativas para fazer do setor um motor de crescimento do País, os resultados ainda estão aquém das necessidades. Segundo o professor de política econômica internacional Carlos Braga, do International Institute for Management Development (IMD), o estoque de investimentos em infraestrutura (tudo que foi construído nos últimos anos) no Brasil é da ordem de 50% do Produto Interno Bruto (PIB) enquanto a média das principais economias do mundo é de 70%. Na China, esse indicador é de 76% e no Japão, de 179%.
Braga afirma que a falta de investimento virou uma questão estrutural no Brasil. Desde a década de 80, investe-se menos do que o ideal. Nos últimos 12 anos, diz ele, com a melhora do consumo doméstico e o avanço na distribuição de renda, a falta de investimentos em infraestrutura ficou mais evidente e criou uma série de gargalos para o setor privado.
Nos últimos anos, o volume de dinheiro injetado no setor foi, em média, de 2% do PIB sendo que as estimativas sugerem o dobro desse montante. “Em nenhum lugar do mundo o setor público resolve os problemas de infraestrutura sozinho. Tem de ter parcerias e regulação para atrair investidores.”
No ranking de competitividade que o IMD calcula, com 60 países, a infraestrutura brasileira perdeu duas posições neste ano em relação a 2013, caiu do 50.º lugar foi para 52.º. “Enquanto o Brasil põe ênfase no consumo, a China aumenta o investimento em infraestrutura. O modelo que temos hoje é baseado no consumo com crédito fácil”, diz Braga. “Por isso há uma sensação de desespero. A sociedade está sentindo na pele que o modelo chegou ao fim.”
Na avaliação de especialistas, a expansão da infraestrutura significaria alguns pontos a mais no PIB e na competitividade das empresas. Na composição do custo Brasil, os custos de energia e infraestrutura logística representam 4,5 pontos porcentuais dos 23,4 pontos calculados pela Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp).
Nos últimos anos, a questão energética tem sido motivo de fechamento de fábricas e redução da produção em alguns setores. A multinacional Alcoa anunciou em março cortes em linhas de produção das unidades de São Luiz (MA) e Poços de Caldas (MG). A justificativa da empresa foi o enorme excedente de alumínio no mercado mundial por causa da crise de 2008. Mas, para especialistas, o alto custo da energia elétrica influenciou a decisão.
Antes da Alcoa, Valesul (RJ) e Novelis (BA) já haviam fechado linhas de produção, em 2009 e 2010, respectivamente. Há algum tempo o setor vem demonstrando falta de fôlego para competir. As exportações caíram e a produção nacional foi destinada ao mercado interno, que agora também começa arrefecer. Neste ano, até julho, a produção de alumínio primário havia despencado 36%.