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Ingerir placenta é opção de muitas mães, mas falta estudo que comprove benefício

Recentemente, Bela Gil foi o centro de mais uma polêmica: a ingestão de placenta. Ela, Kim Kardashian e January Jones são algumas das personalidades que já revelaram ter comido o órgão. A placentofagia é uma prática comum nos Estados Unidos e tem ganhado popularidade no Brasil nos últimos anos. Mulheres que adotaram a prática contam que os benefícios são força e recuperação do pós-parto mais rapidamente.

A placenta é formada por tecidos dos óvulos e é responsável por manter o bebê vivo dentro da barriga da mãe. De lá, a criança tira os nutrientes e oxigênio para respirar. Além disso, o órgão também libera hormônios como a progesterona e o estrogênio. De acordo com diversos estudos científicos, a placenta é rica em ferro, vitaminas B6 e E, e ocitocina, componente importante na produção de leite e na recuperação do útero após o parto.

É daí que vem a crença de que ingerir a placenta faz bem, pois seus nutrientes passariam para a mãe. Porém, mesmo sendo cada vez mais comum a ingestão, não há estudos comprovando os benefícios disso para a mãe. A placenta pode ser ingerida de várias formas, mas as mais comuns são batê-la no liquidificador junto a uma vitamina de frutas, comê-la crua temperada com ervas e especiarias ou em forma de cápsula.

Luíza Diener, mãe de três filhos e criadora do blog Potencial Gestante, é uma das mulheres que ingeriram a placenta. Ela optou pelo encapsulamento, que consiste no ressecamento da placenta, que depois é triturada e transformada em cápsula. “Eu não teria a menor vontade de comer, não julgo quem faz assim, mas como existia essa opção de usar a cápsula, optei por ela”, conta.

A blogueira resolveu adotar a prática depois de ler muito sobre o assunto e de ter recebido indicação de pessoas próximas, incluindo uma das parteiras que a ajudou em seus partos. “A maioria das coisas que busco fazer são coisas comprovadas cientificamente. Nesse caso, não é que existam comprovações, mas alguns estudos e análises, uma sabedoria milenar, aponta que ajuda na disposição e na produção de hormônio.”

O obstetra e gerente médico do Programa Parto Seguro à Mãe Paulistana, Alberto Guimarães, acredita que a escolha da ingestão deve ser de cada mulher. “Cada um pode comer o que quiser comer. A gente que está muito envolvido nessa questão de estimular a devolução da experiência da gravidez para a mulher, o protagonismo da mulher, acha que ela pode comer a placenta se quiser, mas tem de evitar fazer uma defesa de comer a placenta como se fosse trazer um benefício gigante ou transformar a gravidez. Não há estudos mostrando os benefícios da ingestão da placenta a ponto de a gente ficar defendendo como algo imprescindível.”

Luíza ingeriu sua placenta em dois de seus três partos e notou a diferença. “Eu percebi que me deu muito mais energia no pós-parto, não tive anemia, não tive tanto cansaço quanto eu tive no pós-parto anterior.”

O médico fala que, quanto aos nutrientes da placenta, eles podem sim passar para a mãe, mas que é possível conseguir estes mesmos benefícios em diversos alimentos. Além disso, ele fala sobre o problema de sair do hospital com o órgão, que vai ser manuseado por várias pessoas, vai ter um problema para transporte e que, “no fim das contas, pode causar mais dor de cabeça do que benefícios”.

Guimarães ainda ressalta que, ao incentivar a prática indiscriminadamente, é possível que ela seja vista como um milagre e tira-se o foco de outras questões essenciais na gravidez e no pós-parto. “Temos que pensar em qual é a relevância de se aprofundar nesse tema quando nós temos uma realidade de nascimentos no Brasil que é calcada no bisturi. Talvez possamos pegar esse gancho de pensar na placenta, e pensar em tudo isso como um momento para discutir uma assistência de pré-natal, de garantir a alimentação, os cuidados durante a gravidez.”

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