O Banco da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês) deu nesta quinta, 16, o pontapé inicial em um movimento que pode chegar a outros bancos centrais de países ricos e ter impacto direto nos emergentes, como o Brasil. Com a inflação em patamares elevados para os padrões locais, hoje na casa dos 5% ao ano, o BoE elevou a taxa básica de juros de 0,10% para 0,25% ao ano.
Pode até não parecer muito, mas o sinal é inequívoco. A inflação preocupa e será necessário algum freio na atividade econômica para que volte à meta de 2%. Na quarta-feira, 15, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) já havia dado uma indicação nesse sentido, ao apontar para pelo menos três aumentos na sua taxa de juros em 2022.
Já o Banco Central Europeu (BCE) decidiu, ontem, manter inalterada a sua taxa, em -0,5%. Mas anunciou também o início da redução do ritmo de compra de ativos a partir do próximo trimestre, finalizando até março de 2022 o programa emergencial de estímulos à economia montado no ano passado para reduzir os efeitos da pandemia da covid-19.
No caso da Inglaterra, a decisão de elevar os juros leva em conta o avanço dos preços. Os analistas do BoE projetam que a inflação ficará em cerca de 5% ao longo da maior parte do inverno britânico, atingindo pico de 6% em abril de 2022. O banco prevê que as métricas inflacionárias continuarão subindo nos próximos meses, impulsionadas sobretudo por energia, mas projeta desaceleração no segundo semestre do ano que vem.
<b>Surpresa</b>
Embora alguns analistas cogitassem o aumento de juros, o mercado como um todo esperava que a taxa básica fosse mantida em 0,1%, por conta do impacto da variante Ômicron da covid no Reino Unido. O país voltou a endurecer restrições à mobilidade e registrou alta de casos.
A instituição cortou a previsão para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) britânico de 1% para 0,5% no quarto trimestre ante o anterior, citando o efeito da Ômicron.
<b>Emergentes como o Brasil sofrem impacto</b>
Taxas de juros mais atrativas nos países desenvolvidos, como a anunciada ontem pelo Banco da Inglaterra, significam que os países emergentes, como o Brasil, terão mais dificuldade de atrair dinheiro de investidores, que sempre vão preferir a segurança maior proporcionada pelos países com economia mais estável.
Com isso, os emergentes precisam subir ainda mais as suas taxas, para se tornar mais competitivos. Mas taxas de juros mais altas comprometem o desempenho interno: investimentos ficam mais caros, dívida pública sobe, e a tendência da economia é recuar.
A favor dos emergentes, há a posição mais cautelosa do Banco Central Europeu. A presidente do Banco, Christine Lagarde, disse ontem ser improvável que o BC aumente juros em 2022, e que nem tudo que acontecerá no Fed (o banco central dos Estados Unidos) será replicado pelo BCE. Segundo ela, a manutenção das taxas é essencial para garantir a estabilização da inflação. Lagarde destacou que o BCE espera que a inflação atinja a meta no médio prazo, e que vai se esforçar para que isso aconteça.
"A acomodação monetária ainda é necessária para que a inflação se estabilize em nossa meta de inflação de 2% no médio prazo. Dadas as atuais incertezas, precisamos manter a flexibilidade e a opcionalidade na condução da política monetária", disse ela, em discurso após decisão de política monetária do BCE. Sobre o cenário atual, destacou que há incertezas sobre o impacto da variante Ômicron na Europa.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>