“Estar em São Paulo é sempre um prazer, uma experiência que, por algum motivo, me agrada muito”, diz o pianista Paul Lewis. Costuma agradar ao público também. E ambos têm, portanto, motivos de sobra para antecipação: o britânico abre esta semana sua participação como artista residente da temporada da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo. Nesta terça-feira, dia 19, faz recital solo na Sala São Paulo e, de quinta (21) a sábado (23), toca como solista do grupo, regido por Marin Alsop.
O programa do recital traz algumas especialidades do pianista: a Sonata n.º 9 em Si Maior D. 575, de Schubert, as Quatro Baladas e os Três Intermezzos de Brahms e Après une Lecture du Dante: Fantasia Quasi Sonata, de Liszt. Já a partir desta quinta, 21, ele toca o Concerto n.º 12 de Mozart. O ponto alto da residência chega em outubro, quando ele interpreta os cinco concertos para piano e orquestra de Beethoven em três apresentações. “Uma vez que eu trabalharia como artista residente, me pareceu interessante oferecer olhares diferentes a respeito do meu repertório”, ele explica, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo.
Lewis nasceu em Liverpool e começou na música emprestando discos na biblioteca do bairro, que levava para casa e copiava em fitas cassete. Não imaginava ainda, ele conta, tornar-se um pianista. Por falta de vagas, ele, na verdade, começou a estudar violoncelo, mas logo desistiu. Seguiu para Manchester e lá, então, se viu às voltas com o piano. Mesmo anos depois, quando já vivia em Londres, se sentia relativamente inseguro com relação a uma carreira. Ao tocar para o grande mestre Alfred Brendel, imaginou que ouviria dele um conselho para ir procurar outra coisa para fazer. Aconteceu, porém, o contrário. E Lewis logo se tornaria o principal nome do piano inglês da atualidade.
Seu repertório gira em torno dos grandes nomes do classicismo e do romantismo – mas com um viés original. Ao longo de sua carreira, Lewis tem dedicado largos períodos de tempo a ciclos completos (ou quase completos) de um só autor. Foi assim com Beethoven, de quem registrou, durante uma década, os concertos e as 32 sonatas. Vieram, então, Schubert e Mozart. “Quanto mais você se dedica a um compositor, mais você se dá conta do quão variada é a sua música. O prazer está em descobrir novas conexões entre obras de diferentes épocas da vida de um autor”, explica. “Esse é um processo que não tem fim”, afirma.
Nos últimos anos, o compositor da vez foi Brahms – que ele acaba de gravar (leia abaixo). Com o CD pronto, no entanto, resolveu voltar aos concertos de Beethoven. Como ele sabe que é hora de revisitar um ciclo como esse? “É simplesmente uma sensação. São obras que o desafiarão sempre, o trabalho com elas não termina. Mas é preciso, às vezes, deixá-las um pouco de lado. Até que um dia, elas voltam com força à mente. E ao coração. O que faço a partir daí é respeitar essa sensação e retomar o trabalho.”
A passagem pela Sala São Paulo também incluiu, no começo da noite de segunda, 18, uma masterclass para jovens pianistas. O que é possível passar a um aluno em um breve encontro como esse? “Eu, para ser sincero, não tenho a pretensão de passar nada a eles. Eu, sinceramente, não acredito que deva oferecer a minha visão a respeito do modo como tocam ou sobre como deve soar este ou aquele compositor. Se alguém quer saber como eu acho que deve soar Schubert, basta ouvir minhas gravações. O que prefiro é perguntar ao pianista o que ele tem a me dizer com determinada peça. Depois disso, vou dizer a eles se estou conseguindo ouvir a mensagem, quando eles tocam. E, eventualmente, ajudá-los a encontrar a forma de expressar o que está em seus corações”, acrescenta Lewis. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.