Estadão

Insolvência de empresas deve aumentar 21% no mundo e 29% no Brasil em 2023, diz relatório

Após os estímulos extraordinários que evitaram uma onda de quebradeira de empresas no auge da pandemia, a insolvência dos negócios aumentou a partir do fim do ano passado e deve ganhar força em 2023. Os motivos incluem o aperto das condições financeiras nos países ricos e o impacto da desaceleração da economia global nos preços das commodities, o que afeta mercados emergentes exportadores de matérias-primas.

Essa é a conclusão de um relatório produzido pela seguradora de crédito Allianz Trade, que publica um índice de insolvência global dos negócios. O indicador, conforme o estudo, aponta a um aumento de 21% em 2023, puxado por Estados Unidos e Europa, onde o crescimento da insolvência é estimado em 49% e 24%, respectivamente.

No Brasil, as falências e recuperações judiciais devem aumentar 29%. Ainda que a estimativa esteja acima da média global, o País, onde a previsão é de 2,4 mil empresas nessa situação neste ano, segue, junto com China e Itália, no grupo cada vez mais reduzido de economias onde o nível de insolvência é considerado baixo pelos especialistas em economia e finanças da Allianz Trade.

O diretor de risco da seguradora, Felipe Tanus, observa que as empresas estão sendo negativamente afetadas pelo contexto de menor atividade econômica no mundo, baixa na demanda por commodities, juros elevados e inflação persistente.

Metade dos países analisados no estudo deve superar em 2023 os níveis de insolvência de antes da pandemia. Só nos Estados Unidos, o número de empresas insolventes – ou seja, sem capacidade de honrar seus compromissos financeiros – tende a superar 20 mil, como resultado de condições financeiras que, na avaliação dos autores do relatório, devem empurrar o país a uma recessão. Na Europa, espera-se que o número chegue a 59 mil na França, 28,5 mil no Reino Unido e 17,8 mil na Alemanha.

A expectativa é que o consumo seguirá abaixo do mínimo necessário para estancar o avanço da inadimplência das empresas. O estudo tem como premissa um crescimento de 2,2% da economia global, considerando que os Estados Unidos não conseguirão evitar a recessão até o fim do ano, ao passo que a recuperação na zona do euro deve ser tímida em 2023 e 2024. Conforme as estimativas da Allianz Trade, a zona do euro e os Estados Unidos precisariam de um impulso adicional entre 1,3 e 1,5 ponto porcentual no Produto Interno Bruto (PIB) para estabilizar o número de insolvências.

Além da demanda fraca, a pressão prolongada sobre a rentabilidade, os colchões financeiros mais fracos e as condições financeiras mais apertadas estão testando a resiliência de companhias mais frágeis, sobretudo aquelas com menor poder de negociação de preços. O relatório cita como exemplo o varejo especializado em vestuário e eletrodomésticos, além de serviços como restaurantes e setores mais sensíveis ao aumento de juros, como construção e bens de consumo duráveis.

Os analistas da Allianz Trade observam que as preocupações com a estabilidade financeira elevaram riscos corporativos e contribuem a uma aceleração, de forma mais ampla, da insolvência nos negócios.

Embora o temor com a recessão tenha diminuído, assim como as rupturas nas cadeias de produção, as empresas, frisam os autores do relatório, ainda estão enfrentando pressões contra a rentabilidade em meio ao aperto de crédito, após a turbulência em bancos dos Estados Unidos e da Europa. No saldo final, o balanço de riscos piorou um pouco.

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