A comemoração de Natal entre os brasileiros deve ser bem mais tímida este ano. A intenção de compra dos consumidores despencou 36,1% em 2015 em relação a 2014, segundo quesito especial apurado pela Fundação Getulio Vargas (FGV). O indicador atingiu 44,1 pontos, o menor patamar de toda a série, iniciada em 2007.
Ao todo, 61,5% das famílias pretendem gastar menos com os presentes este ano, e apenas 5,6% devem ampliar o orçamento natalino. A despesa média também encolheu, e as lembrancinhas, mais baratas, ganharam destaque na preferência dos consumidores.
“As pessoas estão tentando quitar as dívidas e gastar menos com presentes”, avalia a economista Viviane Seda, coordenadora da Sondagem do Consumidor. “Ao longo de 2015, houve piora da confiança do consumidor. Há dificuldade para obter emprego, a inflação mais alta acaba corroendo o poder de compra, e ao mesmo tempo houve piora das condições de crédito. Os consumidores se sentem mais comprometidos financeiramente.”
Segundo a economista, muitos brasileiros já têm recorrido às suas reservas para pagar despesas correntes. “Não há espaço para compras de Natal como em anos anteriores”, diz Viviane. Em 2014, apesar de um cenário já não tão favorável, 43% dos consumidores pretendiam gastar menos, enquanto 12,0% planejavam aumentar as despesas com presentes.
Diante do orçamento apertado nos lares brasileiros, a FGV avalia que o comércio deve ter o pior dezembro desde pelo menos 2002, quando houve queda de 5,1% nas vendas dos segmentos natalinos (alimentos, vestuário, móveis, eletrodomésticos e perfumaria) em relação a igual mês do ano anterior.
Despesa menor
Com tanta gente apertando o cinto nos gastos, o preço médio dos presentes também encolheu em 2015. O valor caiu de R$ 101,11 para R$ 90,68, já descontada a inflação. É o menor valor já registrado na série.
Neste contexto, as lembrancinhas ganharam espaço na lista de presentes, opção de 9,1% dos consumidores (o triplo do verificado em 2014). Mesmo os itens mais populares nesta época, como roupas e brinquedos, deixaram de ser uma alternativa acessível às famílias. Produtos mais caros como eletroeletrônicos também devem ter menor procura. “Até as roupas, que geralmente têm variação grande de preços, entre mais caras e mais baratas, perderam espaço. As pessoas estão procurando coisas ainda mais baratas”, afirma Viviane.
Por classes de renda, todas devem enxugar as encomendas ao Papai Noel. Mas o nível de gastos da baixa renda, com ganhos até R$ 2,1 mil mensais, é o menor de todos. A intenção de compras no Natal atingiu 39,2 pontos. “As classes mais altas ainda têm algum espaço, mas a baixa renda não, pelo contrário. Ela já começa a se endividar”, explica a economista.